Caracol africano representa risco à saúde pública durante inverno amazônico

O alerta é necessário porque o caracol africano (Achatina fulica) é hospedeiro do Angiostrongylus cantonensis, parasita que causa meningite eosinofílica.

O caracol gigante africano (Achatina fulica) pode gerar riscos à saúde da população, principalmente, neste período de inverno amazônico, em que há uma maior proliferação do molusco. A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) emitiu um alerta sobre o surgimento de focos nos municípios paraenses porque o caracol africano é hospedeiro do parasito Angiostrongylus cantonensis, que causa meningite eosinofílica. 

Esse tipo de meningite resulta da presença de larvas do parasito nas membranas do cérebro (meninges), provocando reação inflamatória. As manifestações clínicas mais comuns são dor de cabeça severa, náuseas, vômitos, pescoço rígido e anormalidades neurológicas. Ocasionalmente ocorrem invasões oculares.

O caracol também pode transmitir o parasito Angiostrongylus costaricencis, que causa a angiostrongilíase abdominal. Os principais sintomas são dor abdominal e febre, podendo ocorrer várias outras manifestações inespecíficas, tais como inapetência, náuseas, vômitos e diarreia.

Foto: Pixabay / Divulgação

Em 2021, houve dois casos confirmados de meningite eosinofílica, sendo um caso em Belém, que acometeu um jovem de 21 anos, e outro em Ananindeua, em uma criança de 11 meses.

Ações de vigilância 

O trabalho de vigilância e controle é realizado pelas Secretarias Municipais de Saúde, por meio dos Centros de Controle de Zoonoses Municipais, com apoio da Coordenação Estadual de Controle de Esquistossomose, Filariose, Geo-Helmintos e Tracoma (CEFGT), que integra o Departamento de Controle de Endemias da Sespa.

Segundo a médica veterinária da CEFGT, Patrícia Nascimento, a Sespa participa das investigações de casos de doenças transmitidas pelos caracóis para verificar a presença de vetores no local provável de infecção e sua vinculação epidemiológica ao caso por meio de testes de infectividade realizados pelo Laboratório de Referência Nacional em Esquistossomose-Malacologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

“A ação da Sespa, na verdade, consiste em rastrear a existência de focos do caracol a partir da notificação de casos da doença. Vamos até o logradouro do paciente para investigar se há presença do caracol, coletar amostras, que são enviadas para o Instituto Evandro Chagas (IEC) e depois para a Fiocruz”, informou.

A Sespa, também pode direcionar pacientes com suspeita da doença para receber atendimento médico e fazer exames para confirmar o diagnóstico de meningite eosinofílica.

Foto: Reprodução/Pixabay 

 Parceria

De acordo com Patrícia Nascimento, as atividades da Sespa com o Achatina fulica são recentes na Coordenação Estadual, e são consequência, na verdade, das atividades conjuntas que vêm sendo desenvolvidas com o Instituto Evandro Chagas (IEC).

Com o objetivo de aprofundar as ações de combate ao Achatina fulica e ampliar o conhecimento sobre a circulação do parasito Angiostrongylus cantonensis, Sespa e IEC tem desenvolvido atividades em conjunto na Região Metropolitana de Belém e demais municípios paraenses com ênfase no risco de transmissão e alerta de intensificação de controle e vigilância nesses locais. 

Foto: Reprodução/Ag. Pará

O Laboratório de Malacologia (LABMAL) da Seção de Parasitologia (Separ) do IEC desenvolve ações de vigilância e controle de moluscos de importância em Saúde Pública, executando atividades de coleta de moluscos, determinação de espécies e a análise dos moluscos para a detecção de helmintos, além de promover ações de ensino e de educação em saúde.

Segundo a bióloga e doutora em Biologia Parasitária da Amazônia, Christiane de Oliveira Goveia, coordenadora do Separ/IEC, o Achatina fulica é um molusco originário da África que foi disseminado para várias regiões do mundo no início do século 20.

Ele foi introduzido no Brasil na década de 80 em Curitiba, com o intuito de ser utilizado como uma alternativa ao consumo do scargot. Depois de ser rejeitado para esse fim, foi liberado de modo indiscriminado no meio ambiente e, atualmente, está presente em todos os Estados do país, inclusive no Pará.

“O caracol gigante africano é uma espécie hospedeira de nematódeos (vermes) de importância em Saúde Pública: Angiostrongylus cantonensis (agente causador da meningite eosinofílica) e do Angiostrongylus costaricencis (agente causador da angiostrongilíase abdominal). O ciclo dessas doenças envolve o caracol e roedores, no entanto, o homem pode se infectar ao ingerir o molusco contendo o verme ou pelo consumo de alimentos contaminados pelo muco do molusco contendo o parasito”,

explicou a bióloga.

Medidas preventivas

Para o controle do caracol gigante africano, a população precisa tomar as seguintes medidas: coletar os caracóis com as mãos protegidas com luvas ou sacos plásticos, colocá-los em recipiente rígido, queimá-los com cuidado para evitar acidentes com o fogo e enterrá-los; ou colocá-los em um saco plástico e esmagá-los com cuidado para não ter contato com o muco do caracol e enterrá-los em seguida.

Outras medidas importantes são: lavar bem as mãos após manusear os caracóis, higienizar bem os alimentos antes do consumo e manter jardins e quintais sem acúmulo de mato ou entulhos, que sirvam de abrigo para o caracol. 

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