A hipótese apontada é que a pele da rã possui substâncias químicas que imitam o reconhecimento químico usado pelas saúvas
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) identificou o mecanismo utilizado pela rã da espécie Lithodytes lineatus para viver entre formigas saúvas. O estudo mostra que ela utiliza biomoléculas na pele que inibem a resposta agressiva das formigas, permitindo que viva pacificamente nos formigueiros sem ser atacada. As informações foram publicadas recentemente na revista Behavioral Ecology and Sociobiology.
Conforme o pesquisador, foram feitos alguns experimentos e indivíduos do sapo Rhinella major embebidos com extratos feitos a partir da pele da rã L. lineatus foram protegidos do ataque das formigas, enquanto indivíduos da mesma espécie embebidos apenas com água ultrapura foram atacados.
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Rã da espécie Lithodytes lineatus. Foto: Albertina Lima/Inpa
Segundo o biólogo, mimetismo e camuflagem químicos são estratégias utilizadas por invertebrados parasitas de insetos sociais (formigas, cupins, vespas e abelhas), mas o uso da estratégia por vertebrados para evitar ser detectado por esses insetos tem sido pouco reportado.
Barros explica que a comunicação entre os membros da colônia de insetos sociais ou parasitas destas colônias, muitas vezes tem uma base química. “No caso dos parasitas, produtos químicos servem para imitar ou mascarar a sua presença dentro da colônia”, diz. “Anuros, em geral, têm muitas defesas químicas em suas peles, geralmente usadas para proteção contra fungos, bactérias e predadores”, acrescenta.
Ainda, de acordo com o biólogo, o papel dos produtos químicos derivados da pele, nas interações entre rãs e invertebrados, raramente foram registradas, exceto nos casos de relações mutualísticas ou comensais – (relação entre duas espécies diferentes em que ambas se associam e se beneficiam) – envolvendo algumas espécies de sapos Microhylideos e aranhas Theraphosides. “Da mesma forma, associações entre sapos e formigas são pouco relatadas na literatura, sendo conhecidas apenas as espécies de anuros Kassina fusca, K. senegalensis e Phrynomantis microps vivendo em ninhos de formigas na savana africana”, explica.
Segundo o mestre em Ecologia, nas Américas, a única associação conhecida até o momento entre formigas e anuros ocorre entre a rã Lithodytes lineatus e as formigas Atta. “Essas rãs não apenas usam os ninhos como abrigo, mas também como sítio reprodutivo, construindo ninhos dentro dos ninhos”, destaca. André Barros desenvolveu a pesquisa durante o mestrado em Ecologia pelo Inpa. O trabalho foi feito sob orientação da doutora em Ecologia, Albertina Pimentel Lima, e co-orientação do doutor Jorge Luis López-Lozano, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT).
Comunicação
Na Amazônia, os mecanismos utilizados pela rã Lithodytes lineatus para viver com as saúvas ainda não haviam sido estudados. Sabe-se, porém, que as colônias das formigas Atta utilizam substâncias químicas para reconhecimento e comunicação.
André explica que feromônios produzidos e armazenados em glândulas localizadas em diferentes partes do corpo das formigas Atta são as principais vias de comunicação entre os membros da colônia e desencadeiam comportamentos específicos. É possível classificá-los em feromônios de alarme, de territorialidade, de marcação de trilhas e de reconhecimento de parceiros de ninho.