Problemas Sanitários em Segundo Plano?

É mais racional deixar de gerar riqueza agora, minimizar as mortes e ganhar vidas mais à frente. A economia se recupera, vidas pedidas, não

Artigo escrito pelo professor Luiz Roberto Coelho Nascimento do DEA/UFAM

Caros leitores do Portal Amazônia. Apresento a vocês o Prof. Luiz Roberto Coelho Nascimento, professor de carreira do Departamento de Economia e Análise, da Universidade Federal do amazonas. O professor Luiz Roberto é Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM (1988). Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa – UFV (1997) e Doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (2003).

Atualmente, é professor Associado no Departamento de Economia e Análise da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua principalmente nas seguintes áreas de pesquisa: Economia Regional, Economia Rural, Economia de Empresa, Economia Internacional e Métodos Quantitativos em Economia. Aproveito também para compartilhar com vocês um texto produzido por ele sobre algumas questões históricas da Saúde Pública.

Primeiro, a crise que estar a abalar o mundo não é de natureza econômica, mas é uma crise de saúde pública. Dado que virou uma pandemia, sem dúvida, abalou as estruturas econômicas das principais economias do mundo. O resultado é que todos perdem em escalas, obviamente, diferentes. É mais racional deixar de gerar riqueza agora, minimizar as mortes e ganhar vidas mais à frente. A economia se recupera, vidas pedidas, não.

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Segundo, até os anos 1950 o foco da atenção da medicina, seja ela preventiva ou curativa, era ao combate às doenças infeciosas (p.ex. Tuberculose,Poliomielite e Hanseníase, Sarampo, Febre Amarela, entre outras), posto que eram as mais letais ou deixavam o paciente com deformação física. Felizmente, as doenças infecciosas foram controladas, de sorte que prolongou a vida da população. A longevidade permitiu as pessoas trabalharem por mais anos, estudarem mais, se divertirem mais e prosperarem. Foi uma revolução na saúde pública. 

Terceiro, estávamos “seguros” de que as doenças infeciosas estavam controladas, passamos a combater as doenças crônicas que surgem com a idade mais avançada das pessoas. As publicações de artigos sobre as doenças infeciosas e saúde pública diminuíram nos últimos 50 anos, perderam o atrativo pelos acadêmicos, mas não a importância. No campo da produção, as indústrias farmacêuticas se debruçaram a formular medicamentos para controlar as doenças crônicas. No seu terreno, os economistas passaram dar maior atenção a superação do subdesenvolvimento, ao crescimento econômico, ao combate à inflação, entender o papel do capital humano, o problema do desemprego, as desigualdades de renda, os problemas institucionais e o desenvolvimento econômico, e a partir dos anos 1970 entrou na pauta dos nossos estudos a questão ambiental. Esta temática abriu outra janela para tratar de um novo problema: o aquecimento global. As duas maiores crises econômicas de proporção mundial tiveram origem no mercado financeiro, ou seja, a de 1929 e 2008.

Uma crise de saúde pública a abalar as economias era algo imaginável, de modo que nos modelos de análise econômica essa variável não se faz presente. Eu, pelo menos, desconheço. Várias dessas agendas, entre outras, ocuparam a mente de médicos, físicos, químicos, economistas, engenheiros, advogados, ecologistas, sociólogos, escritores, ou seja, de muita gente, inclusive, de pacifistas. No entanto, pouco se via algum debate mais intenso e profundo sobre problemas sanitários, problemas de saúde pública, e qualquer descontrole nessa área e a dimensão de seus impactos na economia mundial. Vimos? Por quê? Porque julgávamos que estava sob controle, dado o estado tecnológico que chegou a humanidade. Kenneth Arrow deu uma grande contribuição na economia da saúde, mas no contexto das relações assimétricas entre o demandante e ofertante de serviços médicos. 

Quarto, imagino que todos esses profissionais dessas áreas de conhecimento, assim como a ONU, OMS, OMC, entre outras organizações multilaterais julgavam que os problemas de cuidados sanitários estavam resolvidos. Eram problemas localizados, regionais. Na hipótese do surgimento de um vírus que atacassem as vias respiratórias, os sistemas de saúde estariam relativamente preparados para combatê-lo. Ledo engano, não estávamos preparados. Ao longo de mais 50 anos, minimizamos a atenção merecida que devemos dar aos problemas de saúde pública. Portanto, isto é dever do estado e de todos.

Quinto, julgava-se que as pessoas idosas de países desenvolvidos estariam sendo relativamente muito mais bem assistidas no item vitamínico. As estatísticas têm acusado que as pessoas idosas que vieram a óbitos tinham carência de Vitamina D. Claro que essa não é a causa principal, mas tem algum peso na resistência a um vírus como o Covid-19. Se a tendência é o aumento de população idosa, então existe uma procura invisível por complexos vitamínicos.

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Sexto, o impacto da pandemia na economia, inclusive na economia brasileira, não será pequeno. Desde 2015 já se vinha com a demanda agregada retraída, baixos investimentos e alto nível de desemprego. É uma equação que nenhum governo gostaria de enfrentar. O “Ficar em casa” é a vacina que se tem no momento. Infelizmente, no plano econômico os mais penalizados são as famílias com baixo nível de renda, os desempregados, os pequenos empreendimentos. O governo, também, será penalizado, posto que com a economia quase parada diminui a arrecadação fiscal, de modo que terá poucas alternativas para financiar os bens públicos.

Sétimo, a crise da saúde vai passar, mas a recuperação da economia será lenta.

Oitavo, conjectura-se que o maior aprendizado da pandemia é tornamos mais próximos ou mais solidários. Nós já somos solidários, do contrário a humanidade não teria chegado onde chegou. No entanto, somos menos disciplinados, inclusive os brasileiros. Na medida que as pessoas foram se conscientizando a usar uma máscara, ainda que não proteja 100%, as estatísticas se mostraram menos dolorosas, inclusive em Manaus

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