População pode eliminar possíveis criadouros do Aedes aegypti observando vasos de plantas, caixas d’água, pneus abandonados, e até mesmo caixas de gordura e fossas, locais onde o inseto deposita ovos.
A transição da estação seca para a chuvosa na Amazônia agrava um velho problema de saúde pública: a dengue, que figura entre as principais arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
A doença pode ser facilmente confundida com o coronavírus, pois apresenta sintomas semelhantes como “febre, dores de cabeça e no corpo, dentre outros” aponta o diretor clínico do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem/RO), Dhélio Batista Pereira.
Num cenário mais delicado, em que o mundo corre contra o tempo para vencer a batalha da Covid-19, doenças como dengue, zika e chikungunya merecem igual atenção, pois todas são transmitidas por um único mosquito, que vem constantemente se adaptando a novas realidades em espaços urbanos.
Tradicionalmente associado ao lixo doméstico, o Aedes aegypti já demonstrou a sua capacidade de reprodução nos mais variados ambientes, desde que tenha o mínimo de água acumulada.
Genimar Rebouças Julião, pesquisadora em Saúde Pública, coordena estudos sobre o vetor no Laboratório de Entomologia da Fiocruz em Rondônia, alerta que “uma simples tampinha de refrigerante pode ser um criadouro” para o Aedes. Em sua fase aquática, as larvas popularmente conhecidas como cabeça-de-prego podem se tornar mosquitos adultos em poucos dias, se não houver a eliminação adequada desses criadouros.
Por isso, a pesquisadora reforça a necessidade de um maior envolvimento da população para eliminar os possíveis criadouros, “em poucos minutos, o morador pode percorrer o seu quintal observando vasos de plantas, caixas d’água, pneus abandonados, e, durante o período de chuvas, até mesmo caixas de gordura e fossas, pois rapidamente o inseto deposita seus ovos nesses locais”.
Genimar destaca que a participação da comunidade é fundamental para combater a proliferação do Aedes, e chama a atenção, inclusive, para o uso indiscriminado de inseticidas que tornam esses mosquitos resistentes, ou seja, “é preciso fazer um rodízio do tipo de inseticida empregado no controle vetorial, e aliado a isso um trabalho em conjunto entre moradores, poder público e investimento em pesquisas para o enfrentamento da dengue”.
AUMENTO DE CASOS E ORIENTAÇÕES
Dados da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) apontam que Rondônia registrou, no período de janeiro a agosto deste ano, 2.970 casos de dengue. Comparando com o mesmo período do ano passado, o Estado contabilizou 530 diagnósticos para a dengue, o que representa um aumento de 460%. Os casos de zika tiveram crescimento de 35%, e os de chikungunya reduziram cerca de 28% em relação a 2019, segundo o Boletim Epidemiológico divulgado pela Agevisa no dia 01 de setembro.
Dhélio Batista alerta que neste momento, em que a principal recomendação continua sendo o distanciamento social por conta da Covid-19, é importante tomar alguns cuidados quanto aos possíveis sintomas da dengue, que podem variar de leves e brandos a mais agressivos como dor abdominal e queda de pressão, podendo provocar consequências mais graves e até mesmo a morte. Vale lembrar que a automedicação, embora seja uma prática comum, não é o melhor caminho. Em casos de agravamento dos sintomas, a principal orientação é procurar atendimento médico e uma boa hidratação pode reduzir as chances de evolução para quadros mais severos.