​Pantanal sofre pior período de queimadas dos últimos 50 anos

Estudo revela que o mês de abril do ano passado foi o mais seco desde que as medições começaram no local, há 120 anos

Um estudo inédito liderado pelo Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e Unesp revela que entre 2019 e 2020 o Pantanal apresentou a pior seca em 50 anos. Por meio de análises dos índices de precipitação e nível dos rios, os pesquisadores descobriram que o nível do rio Paraguai foi o mais baixo desde 1971 e a região como um todo recebeu entre 50% e 60% menos chuva do que o normal, sendo o mês de abril do ano passado o mais seco desde que as medições começaram no local, há 120 anos.

A seca histórica somada às queimadas possivelmente feitas por produtores rurais para abrir novas áreas de pastagem, conforme investigações da Polícia Federal, , contribuíram para um cenário com mais de 22 mil focos de incêndio detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – um número 76% maior do que em 2005, ano até então recordista na série histórica iniciada em 1988. O resultado foi aproximadamente 30% do bioma queimado e um rastro de destruição com animais mortos pelas chamas, pela falta de comida ou com os sobreviventes que passaram a depender de cuidados humanos.

Foto: Mayke Toscano / Secom MT

A dimensão do impacto desses incêndios sobre a fauna, assim como os seus efeitos diretos e indiretos, ainda é incerta e demandará o trabalho contínuo de pesquisadores nesse período pós-fogo. Entre os possíveis efeitos observados mais recentemente, estão os peixes mortos ou agonizando às margens do rio Miranda, no município de Corumbá (MS). Apesar do fenômeno conhecido como “decoada” ser considerado natural, pesquisadores do Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) avaliarão se este primeiro fenômeno do ano teve interferência ou não dos grandes incêndios que devastaram a região, como era esperado por especialista da área que em outubro do ano passado alertou que o rastro de destruição pelo fogo na região do Pantanal interferiria não só na qualidade da água, como também afetaria a quantidade de peixes nos rios que cortam o bioma.

A seca histórica no Pantanal ainda não pode ser associada conclusivamente com efeitos das mudanças climáticas, assim como também não pode ser descartada. Por outro lado, os pesquisadores do referido estudo enfatizam que sem as mudanças intensas de uso da terra no Pantanal nas últimas décadas, a seca dificilmente teria provocado incêndios como os de 2020, complementando com o alerta de que “se as tendências climáticas e de manejo da terra atuais persistirem, o Pantanal como o conhecemos deixará de existir.”

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