Ferramenta agrupa alertas sanitários, ambientais e territoriais das comunidades na Terra Indígena Yanomami.
A ferramenta usada pelo indígenas é o aplicativo ODK Collect. O sistema permite a criação de formulários para coletar os dados. Nele, os indígenas capacitados podem anexar fotos, vídeos, áudios, pontos de localização com coordenadas geográficas e até relatos. Os envios podem ser feitos offline e incluídos no dispositivo quando tiver conexão.
O aplicativo disponibiliza as opções de idioma em yanomami, ye’kwana, sanoma e português. Uma vez que o sistema recebe a denúncia, operadores, também indígenas, qualificam as informações para validar os relatos, que em seguida ficarão expostos em um painel virtual e público para que autoridades, instituições parceiras e a imprensa possam ter ciência de qualquer anormalidade que ameace o território.
O presidente da HAY, o xamã e liderança Yanomami Davi Kopenawa, avalia que a ferramenta é importante para que as pessoas entendam a realidade vivida pelo povo Yanomami, além de facilitar o entendimento das autoridades sobre as necessidades dos indígenas que vivem no território.
“Eu sempre digo que hoje já é o futuro. Eu acho importante a gente conseguir sonhar e pensar com outros amigos que estão apoiando, trabalhando e lutando juntos. Quem está na cidade escuta, mas não sente o que os Yanomami precisam, por isso é muito bom ter esse sistema de alertas para nosso monitoramento”,
disse Kopenawa.
O treinamento aos indígenas foi feito pelo geógrafo e pesquisador do ISA, Estêvão Senra, e pela advogada do ISA, Daniela Nakano. Segundo eles, a ferramenta utilizada pelos indígenas também integram os grupos de agentes indígenas de saúde e saneamento, comunicadores e pesquisadores.
“A recepção foi bastante positiva. Eles entenderam imediatamente a importância da ferramenta para dar mais peso às demandas das comunidades por políticas públicas mais eficientes”,
disse Senra
Durante a oficina, foi instalada uma central de comunicação no Demini. A ideia é que os Yanomami treinados operem esta base, que deve receber as denúncias de todas as partes da Terra Indígena Yanomami. Todo o projeto é feito pela HAY com apoio do Fundo das Nações Unidas Para Infância (Unicef) e o Instituto Socioambiental (ISA).
“Às vezes um alerta chega incompleto ou com informações que precisam ser verificadas. A central de comunicação tem por objetivo qualificar os alertas que estão nessa situação. Os responsáveis pela Central devem entrar em contato com as comunidades de origem do alerta para fazer essa checagem ou colher mais elementos que podem enriquecê-la. Os responsáveis pela central também ajudam na tradução dos relatos que na maioria dos casos chegam somente nas línguas indígenas”, explica Senra.
Para garantir que todas as regiões tenham pessoas capacitadas para repassar as informações, outras oficinas devem ser realizadas com o apoio de parceiros. A próxima ocorrerá em setembro na região da Missão Catrimani.
Maior território indígena do Brasil, a Terra Yanomami está em emergência sanitária desde janeiro desde ano. A medida, adotada pelo governo federal, foi para enfrentar a desassistência na saúde e a invasão de garimpeiros, maior fator causador da crise na região.