Nem a presença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) resolveu o problema da fumaça das queimadas em Manaus. Desde agosto, a capital do Amazonas vem sendo encoberta por uma nuvem cinzenta e registrando péssimos índices de qualidade do ar.
Manaus tem vivido uma grave crise ambiental, agravada pelas queimadas e pela seca histórica que atingem a região. Sem visibilidade, com um ar péssimo e uma penumbra cinzenta sobre a cidade, é como tem sido parte da rotina dos moradores há dois meses.
Na primeira quinzena de outubro, a capital chegou a registrar três dias seguidos de intensa fumaça. Na ocasião, Manaus ficou entre as cidades com pior qualidade do ar no mundo. Além disso, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de queimadas para o mês, no Estado, é o maior dos últimos 25 anos. Foram quase 4 mil focos de calor.
Com a crise, o Ibama enviou 290 brigadistas do Prevfogo para reforçar as ações de combate a queimadas no Amazonas. O efetivo soma-se a outros quase 600 servidores envolvidos nas ações do estado, entre bombeiros, brigadistas, policiais e agentes federais.
No entanto, os esforços não estão sendo suficientes para impedir que a massa volte a encobrir a capital amazonense. Mais um vez, pelo terceiro dia consecutivo, a cidade voltou a sofrer com os efeitos das queimadas. A fumaça voltou a incomodar e se intensificou desde o dia 29 de outubro.
De onde vem a fumaça?
Órgãos que monitoram a crise ambiental no Amazonas têm apontado a origem da fumaça que encobre Manaus:
Sema
Em setembro, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) disse que a fumaça em Manaus é proveniente dos focos de calor e queimadas registrados na capital e em outras cidades da Região Metropolitana.
Ao todo, 13 cidades fazem parte da Região Metropolitana de Manaus (RMM): Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Itapiranga, Manacapuru, Manaquiri, Manaus, Novo Airão, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Silves
Em nota divulgada na segunda-feira (30), a Sema ampliou os locais de origem. Segundo a secretaria, além da Região Metropolitana de Manaus – 120 registros – a fumaça vem principalmente do Estado do Pará, que registra 3.965 focos de queimada.
Sobre as medidas adotadas pelo Governo do Amazonas junto ao governo federal para o combate aos focos registrados no estado vizinho, em nota, a Sema afirmou que acompanha as queimadas por meio do monitoramento federal do Inpe e que os outros estados, como o Pará, tem acesso ao sistema.
“Cabe ao respectivo Estado e ao Governo Federal alinharem estratégias de combate dentro das suas áreas de domínio e responsabilidade legal. De igual forma, cabe ao Governo do Amazonas o monitoramento, fiscalização e combate dentro da área do estado do Amazonas, com apoio federal em casos de emergência, como tem ocorrido”, afirmou a nota da Sema.
Prefeitura de Manaus
Durante os dias em que a cidade foi totalmente encoberta pela onda de fumaça, a Prefeitura de Manaus negou que o fenômeno tenha sido causada por incêndios na capital. Segundo a administração municipal, em notas enviadas ao longo de outubro e na segunda-feira (30), o fogo tem origem nos municípios da Região Metropolitana.
Ibama
Em outubro, o Ibama disse que a fumaça está vindo dos municípios Careiro e Autazes e é causada por agropecuaristas. “Essa fumaça vem dessa região e é provocada pelo uso inadequado do fogo em áreas de agropecuária e que se estendem para áreas de vegetação”, afirmou.
A Rede Amazônica procurou o Ibama para saber por quais motivos ainda há focos de queimadas no Amazonas, mesmo com a atuação de 290 brigadistas no estado. O questionamento não foi respondido até a publicação desta reportagem.
Por que a fumaça não some?
O Ibama tem uma explicação. De acordo com o órgão, a fumaça é levada de um lugar para o outro por massas de ar e, por isso, não se dissipa tão rápido, afetando a visibilidade e a qualidade do ar.
Um alerta divulgado pela Sema na segunda-feira (30) indica que Manaus vai demorar a ver o céu azul. Segundo a secretaria, como as chuvas estão abaixo da média para o período, a massa de calor pode continuar interferindo a qualidade do ar nos próximos dias. “Uma vez que partículas de fumaça encontram dificuldades em se dispersar nessas condições”, explicou.
*Por Bianca Fatim, do g1 Amazonas