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Quinta, 18 Abril 2024

Peixes-bois iniciam readaptação no lago do semicativeiro em Manacapuru, no AM

Peixes-bois iniciam readaptação no lago do semicativeiro em Manacapuru, no AM
Foto:Reprodução/Inpa
Quatro peixes-bois machos, de um total de 12 animais, foram levados, na madrugada desta terça-feira (15), dos tanques do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) para um lago, próximo a Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus). A translocação dos animais prossegue nesta quarta-feira (16), quando serão levadas quatro fêmeas, e na quinta-feira (17), mais um macho e três fêmeas. O trabalho visa garantir a readaptação gradual à natureza para que no futuro possam ser devolvidos novamente aos rios da Amazônia.

Com idades que variam de três a sete anos e pesando cerca de 150 quilos cada, os quatro peixes-bois (Rudá, Itacoati, Orebe e Gurupá) foram embarcados num caminhão-baú devidamente adaptados com colchões de espuma, previamente molhados, onde foram acomodados para seguirem viagem até um lago na Fazenda Seringal, 25 de Dezembro, que funciona como semicativeiro. A operação mobilizou dez colaboradores, entre pesquisadores, veterinário, biólogos, tratadores e técnicos do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA/Inpa), que se revezaram por duas horas de viagem para avaliar o comportamento e manter a hidratação dos animais.

A atividade faz parte da quinta edição do Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia, coordenado pela pesquisadora Vera Silva, líder do LMA/Inpa. Conta com o apoio do Projeto Museu na Floresta, uma pareceria do Inpa com a Universidade de Kyoto, no Japão.

“Como os animais foram criados em tanques de fibras e alimentados artificialmente, este estágio de semicativeiro permitirá que os animais se familiarizem com o ambiente natural e busquem seu próprio alimento”, explica Silva. “E dessa forma, terão uma ideia do que vão encontrar na natureza quando forem soltos definitivamente”, acrescenta a pesquisadora.

O responsável pelo Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia, o biólogo e mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Inpa, Diogo Souza, explica que a etapa de semicativeiro favorece a readaptação à natureza dos animais, já que o lago oferece as condições naturais dos rios da Amazônia. “O lago é paralelo ao rio Solimões e sofre influência desse rio”, explica. “Por mais que seja um lago de piscicultura, fechado, as águas do rio se conectam com o lago trazendo um aporte de nutrientes com o aumento de ofertas de plantas”, acrescenta Souza.

Com a translocação dos 12 animais para o semicativeiro, o número de peixes-bois que estão em processo de readaptação à natureza sobe de 10 para 22. O lago está situado na Fazenda Seringal 25 de Dezembro, na altura do quilômetro 74, na área rural de Manacapuru, no ramal do Lago do Calado. No local, os peixes-bois têm a oportunidade, ainda, de entrar em contato com outras espécies de peixes, quelônios e plantas e explorar a lama do lago à procura de alimento.
Foto:Reprodução/Inpa
Readaptação

O Inpa recebe de oito a dez filhotes resgatados por ano e tem um plantel atual de 64 animais, a maioria com potencial de ser devolvido para a natureza. “O sucesso do projeto permitiu que mais animais sejam levados para o semicativeiro. E com os resultados positivos obtidos nos últimos dois anos, nada mais justo acelerar o processo”, comemora Diogo Souza.

O projeto de reintrodução dos animais teve um grande sucesso após a inclusão dessa fase intermediária do semicativeiro. Agora, o processo que inicia com o resgate, passa pela reabilitação, chega à fase do semicativeiro até a soltura definitiva do animal na natureza.
Foto:Reprodução/Inpa
Até o momento, foram realizadas seis translocações de peixe-boi do Inpa para o semicativeiro.  Anteriormente, a cada ano, eram levados de três a cinco animais. “Este ano resolvemos aumentar este número de indivíduos translocados porque as informações científicas dão conta que as etapas têm tido sucesso”, diz Souza. “Tanto é que os animais na etapa de semicativeiro têm aumentado de tamanho e crescido de comprimento, assim como também na readaptação deles na natureza, por isso essa necessidade de acelerar as etapas para que mais animais sejam devolvidos à natureza”, destaca.

Souza explica que, pelo Protocolo de Reintrodução, os animais com mais de 15 anos não são aptos para voltarem à natureza, ao contrário dos indivíduos jovens que têm mais chance de terem sucesso de readaptação  por terem passado menos tempo no cativeiro.

Reintrodução

Desde 2008 até agora já foram devolvidos para a natureza 12 animais. No início, as reintroduções eram feitas diretamente do cativeiro para o ambiente natural, mas os resultados não foram satisfatórios, pois os animais tiveram dificuldades de se readaptarem à natureza.

Em 2011, a nova etapa de semicativeiro foi adotada com a escolha de um lago de piscicultura de 13 hectares de extensão (equivalente à área do Bosque da Ciência do Inpa, em Manaus/AM) e profundidade média de 2 metros, considerados ideais para a readaptação dos animais ao ambiente natural.

Os animais que vivem no cativeiro em média oito anos são selecionados para a etapa de translocação para o semicativeiro, onde permanecem de um a três anos. Lá, são acompanhados semanalmente pela equipe do LMA que avalia o processo de readaptação e as condições dos animais. Os mais aptos são fortes candidatos para serem devolvidos à natureza.

Soltura

As solturas, nos últimos dois anos, foram feitas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus, no baixo rio Purus, no município de Beruri (a 173 quilômetros de Manaus), e  os nove peixes-bois reintroduzidos tiveram sucesso. A próxima soltura (a terceira edição) está prevista para o início de 2018.

“Soltamos quatro animais em 2016 e mais cinco neste ano de 2017 e todos têm sobrevivido e se adaptado ao ambiente natural, explorando os habitat específicos para peixe-boi. O principal é que conseguiram passar um pulso de inundação completa e isto é um indicador muito forte para se adaptar à natureza”, diz o responsável pela reintrodução.

Ele conta que os peixes-bois que foram soltos no ano passado completaram 550 dias de reintrodução na natureza e os que foram soltos esse ano já faz 120 dias, e são acompanhados diariamente por ex-caçadores, comunitários da reserva, e o resultado tem sido excepcional.*Deixe o Portal Amazônia com a sua cara. Clique aqui e participe.

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