Em Manaus, um patrimônio da biodiversidade amazônica, conhecido como Sauim-de-Coleira, pode desaparecer em algumas décadas. O motivo é a falta de espaço para morar e encontrar comida. Com a fragmentação de espaços verdes dentro da Região Metropolitana de Manaus, o sauim fica ilhado por asfalto e concreto. Com isso a reprodução tem acontecido entre indivíduos parentes, diminuindo a variabilidade genética e levando à extinção da espécie, conforme explica o biólogo e representante do Plano Nacional para Conservação do Sauim-de-Coleira, mestre Maurício Noronha.
“A população de sauim começa a crescer dentro desse fragmento florestal ao ponto em que passa a suplantar a capacidade de suporte que aquele fragmento tem de manter aquela população. Com isso temos crise social, estresse, doenças, pois os bichos ficam enfraquecidos por causa dessa situação. Nessas áreas verdes são jogados lixos e uma série de outros fatores que atraem vetores de doenças como ratos, camundongos, que também afetam a população de Sauim-de-Coleira”, diz Noronha.
Existem concentrações de mata em algumas áreas protegidas e conservadas dentro da cidade como o Museu da Amazônia (Musa), o Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs) ou a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mas a distância entre esses espaços é cheia de obstáculos para o sauim encontrar abrigo. Nesse percurso acontecem atropelamentos, ataques de cães e até mortes por fios de alta tensão.
Na década de 90, o Parque do Mindu, situado na zona Centro-Sul de Manaus, foi criado após um apelo da sociedade civil, comunidade científica e outros movimentos que pediam a proteção dessa área de fauna amazônica onde é possível encontrar o Sauim-de-Coleira. Hoje outras ações estão em andamento para viabilizar políticas públicas de proteção à espécie, como a criação de Unidades de Conservação (UCs) e a ligação de fragmentos verdes com o projeto chamado Corredor Ecológico Urbano para o Sauim-de-Coleira.
“O corredor é entre o Parque do Mindu, que tem uma floresta urbana gigantesca, e o Parque Sumaúma que também é um parque belíssimo e com muita vida. Então a conexão desses dois, a princípio, é o coletor tronco desse corredor, onde a gente vai identificar, ao longo desses dois fragmentos, o que a gente precisa fazer: conexões, reflorestamento e até, se for o caso, desapropriações. Mas a gente está respeitando muito a questão urbanística da cidade”, ressalta o Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus, Antonio Nelson.
Além do corredor dentro da cidade, a comunidade científica pede a criação de Unidades de Conservação (UCs) para o Sauim-de-Coleira. O reconhecimento desses espaços não envolve somente a preservação da espécie, mas a manutenção de recursos naturais, a melhoria no clima e o bom funcionamento inclusive da agricultura.
Entre os benefícios das Unidades de Conservação estão “a conservação da biodiversidade, a produção de alimentos, a proteção de mananciais hídricos, a manutenção dos agentes de polinização e de controle biológico (tão importantes para a agricultura) a proteção de solo, o sequestro de gases do efeito estufa”, explica Noronha.
Nos últimos 20 anos a redução da espécie chegou a 80%. Hoje estima-se que a população total de sauim no Amazonas seja de 35 a 40 mil. O mascote da cidade perde cada vez mais espaço, como outras espécies que já não existem mais .
Ao redor do mundo, animais raros movimentam a economia e preservam a natureza por meio do turismo ecológico. “As pessoas pagam fortunas para irem ver uma espécie rara lá no alto da Cordilheira dos Andes ou vai lá pro Congo observar os Gorilas de perto, outro bicho raro parecido com o Sauim”, finaliza Noronha.