Indígenas do AP fazem soltura de 2,3 mil tracajás para preservação da espécie na Amazônia

O projeto “Kamahad Tauahu – Nukagmada Mewka” é realizado desde 2005 nas terras indígenas (TIs) do Norte do Amapá

Indígenas de Oiapoque, município a 590 quilômetros de Macapá, no Norte do estado, realizaram a soltura de 2.350 tracajás na aldeia Uaçá. A ação fez parte de um projeto de preservação da espécie, que é fundamental na alimentação, saúde e na cultura dos povos tradicionais da região.

A soltura aconteceu em dois fins de semana, sendo o último no sábado (13). Participaram da ação indígenas dos povos Palikur, Arukwayene, Karipuna, Galibi Kalin’Â e Galibi Marworno.

O projeto “Kamahad Tauahu – Nukagmada Mewka”, que significa “Amigos do Tracajá”, é realizado desde 2005 nas terras indígenas (TIs) do Norte do Amapá.

Foto: Davi Marworno/Divulgação

Em 2007 foi realizada a soltura de 115 filhotes e o número aumenta anualmente. No ano passado, por exemplo, a equipe, formada por agentes ambientais indígenas, fez a soltura de pouco mais de 2 mil filhotes de quelônios à natureza.

O tracajá é um dos alimentos preferidos das TIs Galibi, Uaçá e Juminã, pertencentes ao projeto. Somado a isso, a banha e a mandíbula do animal fornecem remédios para amenizar dores e interromper a amamentação das crianças de 3 a 4 anos, respectivamente.

Ele também tem importância cultural. Os ossos do tracajá são colocados na ponta da flecha usada para caçar pássaros pequenos. A casca é utilizada no artesanato, como a confecção de colares.

De onde vêm os filhotes?

O processo de manejo é iniciado com a coleta dos ovos dos quelônios para garantia de que fiquem seguros no momento da eclosão. Após o nascimento, os filhotes são colocados em bacias com água e alimentados por 3 ou 4 meses. Quando estão fortes e maiores, é feita a soltura.

Segundo o agente ambiental Gilmar Nunes, da etnia Galibi Marworno, já se percebe um aumento no número de tracajás na região desde o início do projeto. A perspectiva dele para os próximos anos é que a situação só melhore.

“Eu faço todo ano o manejo dos tracajás. Espero que dê tudo certo para no ano que vem fazer mais uma soltura e aumentar a quantidade”, afirmou.

Todo esse cuidado, além da importância dos tracajás para o modo de vida dos povos indígenas, é repassado às crianças das aldeias em forma de palestras e brincadeiras. Com isso, a soltura se tornou um grande evento para as comunidades.

“É um projeto de suma importância para as nossas comunidades, que dependem da natureza para se alimentar e para sobreviver também. Isso faz parte também da nossa segurança alimentar”, disse Sedrick Aniká, participante do projeto.

O projeto “Amigos do Tracajá” tem apoio do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), The Nature Conservancy (TNC), Fundação Nacional do Índio (Funai), Universidade Federal do Amapá (Unifap), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam). 

Escrito por Victor Vidigal 

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