As consequências das mudanças climáticas, com redução de chuvas e períodos de seca severos, influenciam na disponibilidade de água e na temperatura, o que afeta diretamente a sobrevivência desses insetos.
Os impactos ambientais causados pela ação do homem que resultam principalmente nas mudanças climáticas, afetam diretamente na sobrevivência das populações de meliponíneos (abelhas sem ferrão). Foi o que constatou uma pesquisa pioneira apoiada por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP).
De acordo com a coordenadora da pesquisa intitulada ‘Efeito da umidade na morfofisiologia de abelhas sem ferrão (meliponíneos)’, a doutora em Biologia Celular e Estrutural, Maria do Carmo Queiroz Fialho, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), as consequências das mudanças climáticas, com redução de chuvas e períodos de seca severos, influenciam na disponibilidade de água e na temperatura, o que afeta diretamente a sobrevivência desses insetos, que são vulneráveis ao “estresse hídrico”, tanto por excesso quanto por falta de água.
“O aumento da umidade e da temperatura ocasiona um desequilíbrio na troca de água entre o inseto e o ambiente. Por meio do acompanhamento das modificações morfológicas e fisiológicas das abelhas, é possível compreender como essas espécies mantém o equilíbrio do organismo em diferentes padrões de temperatura e umidade”,
explica a pesquisadora.
Maria do Carmo analisa a variação de umidade entre os períodos de verão e inverno no Amazonas e sua influência na morfologia e fisiologia de abelhas das espécies Melipona seminigra (uruçu boca-de-renda) e Melipona interrupta (jupará ou jandaíra preta da Amazônia), da família Apidae, popularmente conhecidas como abelhas “sem ferrão”.
Ela ressalta a importância do estudo das abelhas amazônicas, pela relevância do papel desempenhado por esses insetos na polinização e manutenção da floresta. “Estudá-las é se dedicar a entender sobre a vida na terra e sobre as relações de interdependência entre os organismos na natureza”, observa a coordenadora.
O estudo, ainda em andamento, aponta particularidades entre as duas espécies observadas. Ambas são do mesmo gênero e são endêmicas da mesma região, mas apresentam diferenças fisiológicas entre si. As coletas aconteceram em três meliponários comerciais, que estão localizados nos municípios de Iranduba (distante 27 quilômetros da capital) e no meliponário do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), em Manaus.
A coordenadora avalia que a pesquisa pioneira foi um desafio, principalmente para adaptar metodologias para as análises de espécies amazônicas. A maioria das informações disponíveis até então na literatura eram relacionadas apenas a Apis mellifera, espécie de “abelha exótica” introduzida no Brasil, como informou a bióloga.
O projeto estabeleceu uma base de referência, tornando possível o uso desses tipos específicos de abelhas como bioindicadores. Sobre os principais resultados alcançados, ela explica que o estudo identificou alterações na estrutura, na função do trato digestório e no sistema excretor de abelhas sem ferrão amazônicas. Além disso, catalogou alterações nos processos de absorção de água e alimento pelo organismo.
“Acreditamos que tais alterações são mecanismos adaptativos que naturalmente ocorrem para garantir a sobrevivência das células nessas espécies de abelhas ao longo do ciclo sazonal amazônico”,
disse Maria do Carmo.
Economia
Segundo a pesquisa, no Amazonas há uma grande diversidade de espécies estudadas. A conservação adequada de abelhas nativas da região está também ligada ao interesse econômico. A meliponicultura tem servido como fonte de renda para ribeirinhos, caboclos, pequenos e grandes produtores rurais. A prática tem promovido a venda de mel, samburá, própolis e geoprópolis.
A pesquisa que foi realizada durante o período convencional de estiagem e de chuva na região da Amazônia Central, permanece em andamento.
“Devido às recentes alterações climáticas, é preciso continuar investigando para entendermos melhor a influência disso na morfofisiologia dessas abelhas”.