Desmatamento na Amazônia finaliza 2022 batendo recorde e alerta permanece

As cidades Lábrea e Apuí,no Amazonas, encabeçam ranking de municípios com maior área desmatada no período.

A área sob alertas de desmatamento na Amazônia atingiu 4.793 km² no acumulado de agosto a dezembro de 2022, recorde para o período na série histórica iniciada em 2016, segundo dados do sistema Deter-B, do Inpe, divulgados na sexta-feira (6). Houve aumento de quase 54% em relação aos mesmos cinco meses de 2021.

Mesmo com dados parciais (foram contabilizados 30 dias de dezembro até o momento) e influenciados por cobertura de nuvens (isso ocorre principalmente de novembro a abril), o resultado do Deter-B é alarmante. 

Lábrea e Apuí, no sul do Amazonas, lideram o ranking de municípios com maior área desmatada de agosto a dezembro de 2022. As cidades ficam no eixo da BR-319 (Manaus-Porto Velho). O aumento do corte raso na região é explicado pela expectativa da obra, que corta o maior bloco de florestas intactas do bioma.

Acumulado de 2022 é o maior em 15 anos

Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Imazon em dezembro de 2022, no mês de novembro, foram desmatados 590 km², 23% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Com isso, o acumulado desde janeiro de 2022, chegou a 10.286 km², o que equivale à devastação de 3 mil campos de futebol por dia, considerada a pior marca para o período em 15 anos.

O desmatamento em novembro foi o pior desde 2008, quando o Imazon implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que monitora a floresta por imagens de satélite. E quase metade da derrubada registrada no mês em toda a Amazônia ocorreu apenas no Pará: 276 km² (47%).

O Mato Grosso ocupou a segunda colocação, com 82 km² de floresta destruídos (14%), e o Amazonas a terceira, com 66 km² (11%). Juntos, esses estados somaram 72% de toda a devastação na Amazônia Legal.

Desmatamento na Amazônia pode passar dos 11 mil km² em 2023

Em 2023, se o ritmo da derrubada não for interrompido, a floresta pode perder mais 11.805 km² de mata nativa, conforme estimativa da plataforma de inteligência artificial PrevisIA. Do tamanho de quase 10 cidades do Rio de Janeiro, a devastação prevista causará ainda mais emissões de gases do efeito estufa, que estão relacionados com a maior frequência e intensidade de fenômenos climáticos extremos. Entre eles estão chuvas fortes, ondas de frio e de calor e secas prolongadas.

Desenvolvida pelo Imazon em parceria com a Microsoft e o Fundo Vale, a ferramenta já mostrou uma assertividade de quase 80% na previsão de desmatamento em 2022. Para validar o quanto a PrevisIA acertou, os pesquisadores cruzaram as áreas que a plataforma previu estarem sob risco de derrubada entre agosto de 2021 e julho de 2022 com a devastação registrada pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon no mesmo período. E o resultado foi que 78,2% da destruição ocorreu em até 4 km do indicado pela plataforma.

A conclusão é que, em 2023, ela pode ser usada para direcionar as ações de combate ao desmatamento para as áreas sob maior ameaça e ajudar a evitar que a previsão se concretize novamente.

Caso se concretize, a estimativa da plataforma é que 2023 tenha o segundo maior desmatamento desde 2008, atrás apenas de 2021. Assim como o Prodes, sistema federal que monitora anualmente a derrubada na Amazônia, o cálculo de risco da PrevisIA leva em conta o chamado “calendário do desmatamento”, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte.

Além dos Estados, a PrevisIA também aponta os municípios com as áreas de floresta sob maior risco de devastação em 2023. Entre os 10 primeiros, metade está no Pará.

Das 803 áreas protegidas da Amazônia (terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas), 653 estão sob risco de desmatamento em 2023, conforme a PrevisIA. Isso representa 81% de todos os territórios protegidos. Já em relação à área total sob risco na Amazônia, 1.806 km² (15%) estão dentro de áreas protegidas.

As mais ameaçadas são as unidades de conservação, onde 1.357 km² de floresta correm risco de serem derrubados. Em seguida estão as terras indígenas, com 433 km², e os territórios quilombolas, com 16 km².

Referências

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