Governador do Amazonas contesta utilização do termo ‘variante amazonense’ para denominar nova cepa do coronavírus

OMS orienta que não se deve identificar variantes virais utilizando referências geográficas

O governador do Amazonas, Wilson Lima, refutou a aplicação da denominação “variante amazonense”, que vem sendo utilizada em referência à nova cepa do coronavírus. De acordo com diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), utilizar localidades geográficas – como nomes de cidades, países, regiões e continentes – para denominar variantes virais é inapropriado e pode ocasionar estigma e equívocos.

“Não é justo que o Brasil e o mundo fiquem batizando ou fazendo referência a essa variante como sendo do Amazonas ou de Manaus. Não é justo que o nosso povo continue sendo taxado por isso. O vírus não surgiu no Brasil, o vírus não surgiu no Amazonas e nem por isso as pessoas ficam taxando o vírus como sendo de um país, ou de cidade A, ou de cidade B. Então não é justo que isso continue acontecendo com o nosso povo”, considerou Wilson Lima.

O Governo do Amazonas recebeu, da OMS e da Opas, orientações apontando que, apesar de não existir definição contrária explícita sobre o uso de referências geográficas na nomenclatura de vírus e suas variantes pelo Comitê Internacional de Taxonomia Viral, a comunidade científica entende que o uso é inapropriado.

O diretor-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) em exercício, Cristiano Fernandes, reforça que é necessário prudência ao classificar a mutação do vírus.

“A gente precisa desmistificar isso, não é uma variante do Amazonas, é uma variante que foi verificada, primariamente, no Amazonas. Tanto quanto as outras variantes do SARS-CoV-2, nós temos essa importância no sentido de ser um vírus que é transmitido diretamente de uma pessoa a outra. As variantes são processos naturais dos vírus. Os vírus vão acumulando mutações e, eventualmente, ocorrem essas mudanças, que a gente chama de variante”, ressaltou Fernandes.

Foto: Diego Peres/Secom

Equívocos – A OMS lembrou que equívocos já foram observados no passado, como no caso da “gripe espanhola”, por exemplo. Ao contrário do que o nome indica, sua real origem geográfica ainda não pode ser completamente estabelecida, tendo ocorrido em três ondas simultâneas na Europa, Ásia e América do Norte. A primeira onda foi melhor descrita não na Espanha, mas sim nos Estados Unidos.

A OMS acrescenta que também não devem ser usados nomes de pessoas; espécie ou classe de animal ou alimento; referências, culturais, populacionais, industriais ou ocupacionais; e termos que incitam medo.

Indicação científica – A classificação e a nomenclatura de variantes virais são um processo científico, em que devem ser adotados termos descritivos genéricos com características básicas, que não devem mudar conforme informações tornam-se disponíveis; ou termos descritivos específicos, quando a informação sobre a doença for robusta. Se o patógeno causador for conhecido, ele deve ser usado como parte do nome da doença, com descritores adicionais.

A OMS também defende que os nomes devem ser curtos (número mínimo de caracteres) e fáceis de pronunciar. Em casos de nomes longos, que são provavelmente encurtados para uma sigla, potenciais siglas devem ser avaliadas. Os nomes devem ser tão consistentes quanto possível, com a orientação do conteúdo do Guia de Referência do Modelo de Conteúdo da Classificação Internacional de Doenças (CID), o International Classification of Diseases (ICD) Content Model Reference Guide.

Variante P.1 – A P.1 é uma das 18 variantes do novo coronavírus já mapeadas no Amazonas. O estudo realizado pela Fiocruz Amazônia, em parceria com a FVS-AM, confirmou a origem da P.1 e um aumento substancial na frequência dessa variante nas amostras analisadas.
De acordo com o estudo, entre as amostras analisadas, a variante P.1 respondia, em dezembro, por 51% dos casos. Já no dia 13 de janeiro, esse percentual aumentou para 91%. Também foi identificada a circulação dessa variante em 11 municípios do Amazonas, nos estudos realizados em janeiro.

“A gente monitora essas variantes desde os primeiros casos, em março do ano passado. Nós temos identidade, o monitoramento genético desses vírus, dessas variantes, já identificamos 18 variantes aqui no Amazonas. Esse trabalho é extremamente importante, isso traz para a gente algumas informações que servem de espelho para os demais estados”, afirmou Cristiano Fernandes.

O diretor-presidente da FVS-AM em exercício destaca ainda que, independentemente de variante, os cuidados preventivos ao coronavírus são os mesmos e precisam ser mantidos e reforçados.

“Lembrando que as medidas não farmacológicas são as mais indicadas para evitar transmissão da doença. O uso de máscara, evitar locais com aglomeração, a higiene pessoal, medidas de higiene, tanto coletivas quanto individuais, chamando atenção para o uso de álcool gel para desinfecção das mãos. São medidas simples e extremamente necessárias, e que valem para qualquer variante, quando a gente fala da transmissão da Covid-19”, enfatizou Fernandes.

Comitê – O governador do Amazonas, Wilson Lima, anunciou, nesta terça-feira (02/03), a formalização do Comitê de Assessoramento Científico Externo, formado por pesquisadores de instituições locais, de outros estados e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O grupo de estudiosos independentes, que já auxiliavam o Estado no enfrentamento da pandemia, vai realizar estudos sobre a transmissibilidade e letalidade da variante P.1, predominante entre as cepas do novo coronavírus circulantes no Amazonas, e os impactos da vacinação contra a Covid-19.

Os trabalhos do comitê já começaram e 12 estudos estão em andamento. Os resultados obtidos vão orientar a tomada de decisões do Governo do Estado.

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