Em peça autobiográfica, atriz retrata processos de transformação pessoal

A peça será lançada junto a um Diário de Lembranças. Um material digital, que reúne poemas escritos pela atriz durante a quarentena

O desejo de transformar a própria realidade e se libertar de traumas familiares, os aprendizados do fim de um relacionamento e o despertar para a espiritualidade, essas são algumas chaves no amadurecimento de Edilaine-mulher, que a Edilaine-atriz vem transformando em peça de teatro junto a seu parceiro de trabalho e amigo de longa data, Caio Augusto Ribeiro.

“Vida Provisória – In Process” será apresentada ao público em formato de vídeo, nos dias 12 e 13 de maio, às 20h, no Youtube do Coma A Fronteira. Na quinta-feira (13), a transmissão será seguida de um bate-papo com a equipe da peça. O projeto foi contemplado no edital MT Nascentes, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT).

O espetáculo começou a ser concebido pelo coletivo Coma a Fronteira, em 2019, durante participação no projeto de residência artística Arvinte – Artes em Residência, realizado pelo Centro Audiovisual Luiz Marchetti. Foram três semanas de ensaios no Clube Feminino, espaço transformado em lar da atriz. A peça foi filmada na sala Anderson Flores do Cine Teatro Cuiabá

Para a construção do espetáculo, que tem dramaturgia e direção de Caio Ribeiro, Edilaine precisou mergulhar num emaranhado de memórias em seu processo de pesquisa. “São relatos da minha vida, desde a infância, passando pela adolescência, até a vida adulta. Lembranças que ativaram sentimentos que estavam ali guardados dentro de mim, e que eu nem sabia”, relata a atriz.

A peça será lançada junto a um Diário de Lembranças. Um material digital, que reúne poemas escritos pela atriz durante a quarentena e todo o processo de criação da peça. Textos da direção também contam sobre a construção da dramaturgia. “É um complemento da experiência, um extra. São registros, que não necessariamente precisam ser lidos para assistir a peça. É também um momento em que toda a equipe aparece”, explica o diretor Caio Ribeiro.

Edilaine explica que a ideia que envolve a poética do trabalho foi olhar para o passado como um processo de aceitação e cura. Assim, o enredo parte do que ela chama de consciência do presente. “O que eu quero viver hoje? O que eu quero ser hoje? E por que não viver o que eu quero, agora? De alguma forma, vou levando a minha vida assim. É como se eu sempre criasse e vivesse os meus personagens, em uma espécie de vida provisória”, reflete a atriz.

Hibridismos

Edilaine Duarte, que é premiada no cinema pelo curta-metragem ‘A gente nasce só de mãe (2017)’, volta “aos palcos” – ainda que nas telas – pela primeira vez como protagonista de uma peça teatral. Em um único trabalho, a atriz canta, dança, declama poesias e ainda manipula formas animadas, explorando diversas técnicas de expressão cênica. Para isso, ela recebe preparação corporal de Elka Victorino e preparação vocal de Rô Leão.

O cenário é arte de Douglas Peron, membro fundador do coletivo Spectrolab, que utilizou o papelão como material principal da composição cenográfica de Vida Provisória. “O papelão é um material presente no cotidiano de qualquer um, para uns: apenas como embalagem ou suporte para produtos do dia-a-dia; para outros: a fonte de renda da família. Material simples, leve, versátil. Improvisado, substituível, reciclável”, destaca o artista. Toda a trilha sonora foi executada e composta exclusivamente pelo músico Augusto Krebs, que assina a direção musical da peça.

‘Vida Provisória’ marca a estreia de Caio Augusto Ribeiro na direção de teatro e reafirma sua atuação no audiovisual. É o primeiro produto do Coma Fronteira, coletivo de artes híbridas, investigação e intervenção urbana, pensado enquanto artes cênicas. Por ironia do destino, a necessidade de tradução para o ambiente virtual, acabou reforçando os hibridismos já característicos do coletivo.

“O Coma a Fronteira nunca fez nada que não fosse híbrido. E o acaso, novamente, nos obriga a ser híbrido. Enquanto peça para ser apresentada nos palcos, presencialmente, a hibridez era brincar com teatro e música. Agora, como peça-vídeo, o trabalho ficou mais híbrido ainda. E é algo que a gente gosta muito, fazer com que as linguagens se encontrem”, reforça Caio.

Construção afetiva

‘Vida Provisória – In Process’ também materializa uma década de amizade e parceria entre Edilaine Duarte e Caio Ribeiro, ainda dos tempos de escola no Colégio Liceu Cuiabano. “Tiramos até DRT juntos e cá estamos. Em todo esse tempo, trabalhamos sempre em conjunto de alguma forma. Somos amigos que se gostam e se conhecem. E essa peça só foi possível por essa trajetória”, destaca Caio.

Foi justamente essa troca afetiva que deu segurança para Edilaine trazer à cena temas, para ela, muito pessoais. “Tem momentos em que não é muito confortável trabalhar sua própria vida. E o Caio foi super importante nesse processo. Não tinha outra pessoa para dirigir esse trabalho. Ele não viveu na minha infância, mas soube trazer para a peça tudo de uma forma muito afetuosa e sensível”, relata Edilaine. 

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