Crianças ribeirinhas do Amazonas ganham sessão de fotos para marcar alfabetização

Segundo o IBGE, a população estimada do município é de 28.508 pessoas. De acordo com o instituto, em 2018, 5.862 matrículas foram registradas no ensino fundamental

Astronauta, médico, bailarina ou modelo são, sem dúvida, algumas das profissões que qualquer criança de cidade grande sonha em seguir quando adulta. Mas no interior do Amazonas, a realidade é bem diferente. Na Comunidade Tabuleiro, Zona Rural do município de Carauari, distante 788 Km de Manaus, desde cedo, as crianças são levadas a seguir os passos dos pais, mas em profissões que, muitas vezes, são esquecidas ou consideradas menos importante pela sociedade, como pescadores e caçadores.

E para lidar com isso é preciso ter sensibilidade. Como é o caso da professora Laura Viviane, da Escola José Maria Bahia Ramalho, que transformou a alfabetização dos alunos em uma homenagem aos pais e à realidade na qual as crianças estão inseridas. Ela fez uma sessão de fotos com os formandos e as famílias em um ambiente que muitos conhecem e devem usar como local de trabalho nos próximos anos: o lago e a floresta.

Professora quis fazer sessão em local no qual que crianças brincam e ajudam os pais. Foto: Laura Viviane/Reprodução

O município de Carauari fica na Região do Rio Juruá, na região oeste do Amazonas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada do município é de 28.508 pessoas. De acordo com o instituto, em 2018, 5.862 matrículas foram registradas no ensino fundamental.

“É uma oportunidade que chega a ser única na vida de uma criança. Ainda mais aqui, na Zona Rural, afastada da cidade, longe de tudo, da modernidade. Sendo que geralmente os filhos crescem se inspirando nos pais, que são caçadores, pescadores, agricultores, vivem da roça. E a gente sabe que para seguir esses passos, de certa forma, não terão uma formatura. Então, eu quis tornar esse momento único na vida deles, ao menos uma vez na vida”, disse a professora.

Laura é formada em Ciências Biológicas, e começou a trabalhar como professora na comunidade neste ano. Lá, a modernidade passa longe. Internet e energia somente à noite, quando o gerador de luz é ligado. De dia, as crianças se desdobram entre as aulas, ajudar em casa ou aprender, desde cedo, o ofício dos pais. Tudo isso, segundo ela, torna a experiência de ensinar desafiadora e ao mesmo tempo gratificante.

Sobre a sessão de fotos, a professora contou que, no início, muitos alunos e pais ficaram tímidos. Mas depois todos se soltaram e aproveitaram o momento que, inclusive, foi dirigido e fotografado por ela mesma. Alguns queriam até repetir o momento.

“As crianças e os pais amaram. No começo alguns ficaram meio tímidos, mas depois eles se soltaram e gostaram muito. Queriam repetir a sessão. No outro dia, algumas crianças me perguntaram: ‘Professora, hoje vai ter foto de novo?’ Foi muito gratificante, emocionante ter vivenciado esse momento com eles”, revelou.

Para a professora, a conclusão do trabalho está sendo incrível e ela pretende se dedicar ainda mais à missão de educar as crianças da comunidade, mesmo vivendo distante da família e amigos que estão na zona urbana de Carauari.

“Só tenho a agradecer a Deus e a todos que puderam contribuir para que esse momento pudesse acontecer. Me sinto realizada, com o sentimento de dever cumprido. Esse é o meu primeiro ano e apesar de tudo o que estamos vivendo, dessa pandemia, dessa realidade totalmente diferente que fomos obrigados a viver, foi muito gratificante. Eu tinha o costume de estar com a família, amigos, mas estou vivendo numa outra realidade, ao lado deles, dos meus alunos, das suas famílias. Foi uma experiência única, sem dúvidas”, finalizou. 

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