A auxiliar de produção Donaria Ferreira, de 27 anos, conta que foi atacada por piranhas enquanto tomava banho em um balneário da rodovia BR-174.
“Estávamos, minha amiga e eu conversando dentro da água, encostadas em uns troncos, quando de repente ela sentiu uma fisgada, pensou que era vidro, e em seguida, também senti. Saímos d’água em busca de socorro e só aí comentaram que outras pessoas já haviam sido atacadas. Ninguém nos avisou de nada antes de entrarmos na água”, conta Donaria que precisou voltar para casa e ir até uma unidade de saúde para fazer avaliação médica.
Segundo o professor doutor Edinbergh Caldas de Oliveira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), especialista em ecologia dos peixes amazônicos, o ataque de piranhas não é comum, mas acontecem casos isolados, pois, além da água ser o habitat delas, a oferta de alimentos é mais recorrente.
“Ela é um peixe carnívoro, que geralmente se alimenta de outros peixes, e são atraídas por barulho nas águas, sangue, urina e qualquer tipo de substância que desencadeie essa relação de provável alimento, então, em áreas de balneários, onde as pessoas jogam restos de comidas e ao banhar-se no rio deixam suas secreções corporais, existe uma tendência a ter uma atração delas. São ocorrências isoladas, portanto, não é entrar no rio e logo ser atacado por piranha, esses são casos isolados, difícil de acontecer. Quando acontece são fatalidades”, conta o professor.
São várias espécies de piranhas, e de um modo geral, elas estão no distribuídas entre os rios Solimões e Negro. E por uma escassez de alimento, os lagos são os locais onde elas mais podem atacar.
“As piranhas-vermelhas (Pygocentrus nattereri) são mais de lagos, já as piranhas-pretas (Serrasalmus rhombeus), que tem um porte maior, circulam entre lagos e rios, e são relatadas, geralmente, nesses ataques. E existem umas piranhas menores, também desse gênero, que podem causar acidentes. Em lagos, essa incidência de acidentes é maior, principalmente na seca, onde não tem contato com o canal principal, porque ali elas ficam isoladas, e os peixes que existem elas já vão se alimentando, e vai ficando menor o número de presas. É mais perigoso, assim como em praias, com o espaço menor, volume de água menor, e oferta de alimento maior. Já nos flutuantes, é menos incidente, até pela profundidade”, conta o professor.
Muitas pessoas atribuem o ataque das piranhas, ao período de desova, mas o professor lembra que não há relação alguma.
“Na desova, muitas elas fazem um deslocamento lateral, como as Serrasalmus e outras cuidam da prole, como a Pygocentrus. Já foi relatado em experimentos de laboratório, que elas fazem um ninho e ficam cuidando das larvas. Elas se reproduzem no lago”, lembra.
Raias
Além das piranhas, outros relatos tem sido registrados, principalmente através das redes sociais, de pessoas que sofreram ferradas de raias, também em banhos da região metropolitana de Manaus.
“Eu estava com minha filha em uma das praias de Iranduba (município vizinho à Manaus) na última semana, e minutos depois de termos entrado na água, senti uma ferroada, uma batida e logo uma forte dor no pé. Saí gritando da água, com minha filha na bóia. A dor foi tão grande que saímos direto para atendimento médico. No local, nenhuma placa sinalizando riscos”, conta a administradora Simone Barbosa, ressaltando que a identificação de ferroada de raia foi feita no Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Joventina Dias, zona Oeste de Manaus.
Para o professor Edinbergh, as raias são diferentes das piranhas, pois elas são incidentes nas praias mais durante a noite, e se alimentam de moluscos e crustáceos.
“De dias as raias são mais presentes na parte funda das praias, e de noite, com a água mais quente, elas são mais incidentes nas margens, mas independente dos horário, elas estão nas praias, e podem casuar acidentes pelo aguilhão que possuem na nadadeira caudal, que é um ferrão, que tem uma substância produzida por uma glândula, que causa um ferimento com dor intensa. Elas não atacam, o ato é uma defesa. Esses acidentes acontecem porque quando alguém pisa nela, ela vira a nadadeira caudal e espeta, geralmente no calcanhar. E um ferimento que demora de 1 a 2 meses para cicatrizar”, conta o professor.
Para fugir das raias, nas praias, o professor Edinbergh orienta como o banhista deve proceder.
“As pessoas precisam delimitar um espaço para banho na praia, visualizar antes, pois se tem uma raia ali e a pessoa sai correndo, vai pisar nela, logo, quando entrar na água, é importante que a pessoa vá caminhando, pois assim a raia vai sentir o movimento das pessoas na água e vai se afastando. Então a questão é saber se comportar na praia, delimitando um território seguro”, orienta.