Conheça histórias de mulheres que trocaram a vida na cidade pela produção no campo
Rosa e Yvoni são mulheres agricultoras assistidas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), com histórias de vida que as fizeram trocar a cidade pelo campo; e talentos que as levaram a um papel de liderança nas comunidades em que atuam.
Rosa Tavares é natural de Ponta de Pedras, município do arquipélago do Marajó. Como muitas marajoaras, saiu ainda muito jovem para tentar a vida na capital, Belém. Durante muitos anos, foi vendedora de loja, mas um problema de saúde do pai a levou de volta ao Marajó, quase três décadas depois. E o que era para ser temporário, se tornou um novo projeto de vida.
“Cuidei do meu pai durante a doença e depois não quis mais voltar para Belém. Não sabia o que fazer, minha única experiência de trabalho era no comércio. Eu pensava e pensava, pois sabia que tinha que recomeçar. Até que surgiu um projeto para criação de frango e hortaliças e eu me envolvi, hoje produzo frango, ovos, hortaliças, ovos de codorna, planto maniva e estou tentando iniciar atividade de aquaponia”, conta Rosa.
A agricultora surpreende pela vitalidade e motivação, pois também planta algumas espécies frutíferas e produz polpas, faz bolo de macaxeira e foi quem instigou outras famílias da comunidade na qual mora para se unirem e se organizarem comercialmente.
Por conta desse protagonismo é considerada por outros agricultores, membros da comunidade, e técnicos, como uma liderança local.
“Às vezes, eu fico preocupada com a responsabilidade de ser vista como uma liderança, mas eu procuro ajudar e me unir a outros produtores para valorizar o que a gente produz”, explica Rosa, que coordena a feirinha de produtores locais, que é realizada todos os sábados no centro da cidade. Ela é também presidente da Associação de Produtores Agroextrativistas de Cajueiro (ASPRC).
Quando questionada sobre o que a estimula a fazer tantas coisas, a produtora é objetiva: “Eu gosto de verdade de tudo o que faço e isso me motiva todos os dias!”, resume.
Benevides
O amor ao que faz e a responsabilidade com o próximo é também o segredo da agricultora Ivony Cardoso, atendida pelo escritório local da Emater em Benevides, na região metropolitana de Belém. Aos 54 anos, a moradora da comunidade São José em Benfica se orgulha de produzir frutas e hortaliças de forma sustentável e sem agrotóxicos. Apesar de seus pais terem vivido da agricultura, Ivony foi bem jovem morar na cidade, mas o destino a levou de volta ao campo, quando ela sentiu a necessidade de buscar uma moradia própria.
“Em 2000, eu soube que seria feita uma ocupação aqui em Benevides e como eu não tinha casa, me juntei ao grupo de mais de 600 pessoas. Mas depois descobri que a finalidade não era loteamento para casas apenas e sim para a produção rural e só foram disponibilizados 63 lotes de área agrícola, com terrenos de dois hectares”, contou.
A facilidade de interação com outros agricultores e demais atores e instituições que atuam no campo fazem dela uma referência não só como agricultora, mas como liderança.
“Eu me sinto uma mulher agricultora muito feliz e realizada sendo conhecida por muitas pessoas e até instituições, que reconhecem o meu esforço e a minha liderança. E eu vejo que assim como eu posso ajudar, ensinar, eu também aprendo”, revela Yvoni. E completa: “Como as minhas origens eram do campo, encarei o desafio e hoje produzo hortaliças sem agrotóxicos e a minha fruticultura é toda produzida de forma sustentável, sem o uso de produtos químicos”.
A engenheira agrônoma da Emater, Soraya Araújo, diz que observa esse aumento da liderança feminina com a participação significativa em associações, sindicatos e cooperativas. Somente na região em que atua em Benevides, ela vê mulheres como Ivony e Rosa presidindo e dirigindo muitos desses agrupamentos. E sobre o diferencial feminino na agricultura, a engenheira destaca duas características que explicam as histórias cheias de superação das duas agricultoras dessa reportagem.
“Vejo como diferencial dessas mulheres a maior disposição e disponibilidade que elas têm para aprender o novo e o potencial para participação e organização. Um exemplo é o interesse na produção orgânica de hortaliças, utilizadas tanto na alimentação da família, quanto como uma alternativa de renda”, afirma a engenheira.