Não é segredo que o Brasil é um dos países com mais casos de violência contra minorias sexuais. De acordo com uma pesquisa feita pelo Grupo Gay da Bahia, o Amazonas entra na lista como um dos Estados que possuem maior número de assassinatos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT). Diante dessa estatística, a comunidade protesta da forma que consegue. O ator e cantor amazonense Paco optou em usar o audiovisual para confrontar casos de homofobia.
O clipe ‘Essa é pras Gays’ foi escrito e produzido por Paco. Ele contou ao Portal Amazônia que a canção é uma crítica direta aos homofóbicos, mas também serve como uma autorreflexão para as pessoas que não aceitam a homossexualidade. “Quando a música surgiu eu estava em um período de autonegação, algumas inseguranças e medos. ‘Essa é pras gays’ foi a primeira letra que escrevi, em uma noite consegui finalizar toda a canção, depois fiz alguns reparos na letra. Tentei trabalhar a música com alguns DJ’s locais e não deu muito certo, acredito que não era a hora de sair do papel, tudo tem o seu momento”, afirmou.
Paco não desistiu e continuou a procurar apoio, ele conseguiu auxilio de universitários da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). “Quando finalizei a canção no estúdio consegui a ajuda de dois estudantes do curso de audiovisual da UEA, Henrique Saunier e Pedro Gomes”, contou o artista. Depois de um tempo, Paco e equipe começaram a produção do clipe. “O local da filmagem foi em um prédio abandono próximo do terminal de ônibus do Centro. O Pedro Gomes ajudou com a gravação e o Henrique Saunier ficou responsável por editar o material”, relatou Paco.
A gravação do clipe aconteceu no dia 6 de julho. Além de Paco, a produção conta com a participação de Jane Kira, Ítalo Pires, Emanuel Medeiros, Mariane Saunier, Luiggi Kouheidog e Paulo Tiago. A equipe utilizou um prédio abandonado como cenário. “O engraçado é que explicamos a gravação para o senhor que toma de conta do lugar, e ele disse que o dono do prédio apoia causas LGBTs, mas acabamos não sabendo a quem o espaço pertence”, contou o artista.
O artista disse que ele é um personagem, e dessa forma consegue superar todos os medos. “O Paco é um lado meu que é forte, corajoso, diferente do Francisco (verdadeiro nome do artista) que é reservado, tímido. O Paco é performativo, rebola e gosta de se mostrar. Trago a performance muito intrínseca dentro do processo de criação do clipe, algo que eu já desenvolvo no campo teatral”, disse.
Contra o preconceito
Para o artista, a homofobia é uma realidade cruel na vida da comunidade LGBT. Ele mesmo sofreu um ataque homofóbico e compartilhou a experiência. “O dia em que resolvi de fato levar a música a frente eu estava indo em direção ao Teatro Amazonas, então um carro parou e o motorista disse em tom de piada: ‘Você tá muito viadinho com essa roupa’. E nem era uma roupa feminina. No mesmo dia cheguei ao Largo de São Sebastião, no Centro, e tinha uma galera reunida segurando a bandeira LGBT, eu encarei isso como sinal”, relembrou o jovem.
Ao ser questionado se pretende fazer outras canções, Paco disse que gostaria, mas se sente inseguro por causa de um problema de saúde. O artista garantiu que possui músicas que falam sobre temas importantes para a política do Brasil. “Não me considero cantor, preciso melhorar bastante, uma das minhas inseguranças era a voz, todos os meus amigos sabem que eu sofro de uma deficiência na dicção, já fiz cirurgia, mas o problema permanece. Depois vi que isso podia ser um diferencial meu e não um defeito, que eu podia usar isso ao meu favor”, disse.