A variedade de espécies de pássaros de qualquer lugar no mesmo tipo de vegetação, dentro do mesmo interflúvio (espaço entre dois rios), é basicamente a mesma, a não ser que a floresta esteja isolada.
Um estudo publicado na revista Diversity and Distributions apontou que a Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada no bairro Cidade de Deus na Zona Norte de Manaus, no Amazonas, apresenta uma composição empobrecida de espécies de aves quando comparada com outras áreas florestais estudadas. O estudo contou com a participação de oito pesquisadores nacionais e internacionais, entre eles o pesquisador e curador das coleções de aves do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Mario Cohn-Haft.
A composição de aves da Reserva Ducke apresenta características de habitat modificado pelas ações humanas. Pássaros mais sensíveis à degradação (corte seletiva, caça e outros usos extrativistas) ou à fragmentação (quando uma área de floresta é isolada do resto por ficar cercada de desmatamento) foram as espécies não registradas na reserva Ducke, exemplo a espécie uirapuru.
“Não houve um único registro do uirapuru ao longo do estudo. De 27 levantamentos, nenhum registro da espécie. Isso é um exemplo do tipo de efeito que a gente associa a uma floresta que sofreu efeitos de antropização”,
frisa o pesquisador.
O curador das Coleções do Inpa destaca ainda que numa área de 10 mil hectares, como é a Ducke, ainda assim, não contém toda a diversidade de aves encontrada em uma área de mesmo tamanho dentro de mata contínua. “Isso aponta para necessidade de preservar enormes áreas e para importância de monitoramento de longo prazo para constatar se acontecem mudanças”, ressalta Mario Cohn-Haft sobre a necessidade de estudos atualizados, que verifiquem se o processo de empobrecimento continua.
Além da Reserva Ducke, em outras duas reservas do Inpa foi desenvolvido o estudo: a Reserva Florestal ZF-3-PDBFF, localizada no quilômetro 63 da BR-174, e a Reserva do Cuieiras, localizada no quilômetro 50 ao norte de Manaus. Em cada reserva, foram demarcadas duas parcelas de área de 1km², monitoradas várias vezes por ano ao longo de quatro anos, resultando numa coletânea de informações sobre as aves em cada lugar pesquisado.
“A principal diferença que surgiu foi justamente o fato da Reserva Ducke estar muito perto da cidade de Manaus e sofrendo processo de antropização, principalmente urbanização em volta da reserva, que rompe sua conexão com outras áreas de floresta, e nas demais áreas analisadas nem tanto”, observa o pesquisador.
Cohn-Haft explica que na Amazônia, o que determina quais espécies de pássaros vão estar em determinado lugar é o tipo de ambiente (tipos de florestas) e onde estão localizados na bacia amazônica, ou seja, em qual interflúvio (espaço entre dois rios). A região amazônica compreende vários tipos de florestas, por exemplo: floresta de terra-firme, floresta de várzea, buritizal, campina, floresta de montanha, floresta de cipó e floresta de bambus.
“Sabemos que os grandes rios delimitam as distribuições de muitas espécies de pássaros. Tem pássaro que só ocorre em um lado do Rio Negro e outra espécie que só ocorre no outro, pontua o ornitólogo. Assim, espera-se que todas as áreas do mesmo tipo de floresta e dentro do mesmo interflúvio contêm o mesmo conjunto de espécies de aves”,
salienta Cohn-Haft.
O levantamento foi feito durante os anos de execução do projeto internacional Tropical Ecology, Assessement and Monitoring (TEAM). O Projeto TEAM tinha por finalidade coletar e disponibilizar, em tempo real, avaliação das mudanças ocorridas na biodiversidade em florestas tropicais como a Amazônia.
Autores do artigo
Cameron L. Rutt, W. Justin Cooper, Christian B. Andretti, Thiago V. V. Costa, Philip C. Stouffer, Claudeir F. Vargas, David A. Luther, Mario Cohn-Haft.