Um estudo divulgado pela Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) revelou que Roraima é um dos estados com maior dependência de fontes poluentes para geração de energia elétrica no Brasil. Hoje, cerca de 89% da energia gerada no estado vem de termelétricas movidas a diesel — uma matriz cara, poluente e instável.
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Roraima é o único estado do país que ainda não está conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), e a expectativa é que essa conexão ocorra até 2026, com a conclusão do Linhão de Tucuruí. Para especialistas ouvidos no relatório, essa mudança deve marcar um novo capítulo na história energética do estado.
Os 715 km do Linhão de Tucuruí são apontados como o fim do isolamento elétrico e dos constantes blecautes. A energia de Roraima vem, em sua maioria, de termelétricas. As obras começaram em 2022 e devem ser entregues em setembro deste ano.
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O levantamento chama atenção para dados dos estados ao Norte do Brasil: cerca de 1 milhão de pessoas na Amazônia Legal ainda não têm acesso formal à eletricidade, e outros 2,7 milhões enfrentam instabilidade e alto custo no consumo de energia.
A FNCE realizou o seminário Clima, sociedade e energia: oportunidades e desafios da transição energética no Brasil da COP30. O evento reuniu autoridades, especialistas e sociedade civil para o debate de temas críticos relacionados à transição energética brasileira. A diretora executiva da COP30, Ana Toni, participou do evento.
“Está mais do que na hora de a sociedade brasileira se concentrar no tema da energia. Já enfrentamos o desmatamento como principal fonte de emissão e amadurecemos esse debate. Agora, precisamos discutir que tipo de transição energética queremos como país”, disse Ana Toni durante a abertura do seminário.
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O evento trouxe à tona os paradoxos do setor, como o fato de o país possuir uma das matrizes mais renováveis do mundo, mas ainda enfrentar problemas estruturais como desperdício de energia, altos custos operacionais e dependência do carvão mineral em algumas regiões.
Entre os destaques, o painel sobre descarbonização dos sistemas isolados apresentou diagnósticos atualizados sobre comunidades que pagam as tarifas mais caras por um serviço instável, como ocorre na região Norte.
Representantes de entidades como WWF, Idec e o Fórum de Energias Renováveis de Roraima debateram soluções para garantir justiça energética e inclusão social. Já o painel sobre o fim do carvão trouxe propostas de transição justa, levando em conta os impactos socioeconômicos nas regiões que ainda dependem dessa fonte.
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Custo alto, energia instável
A energia elétrica em Roraima também está entre as mais caras. Segundo o estudo, o custo médio de geração no estado é um dos mais altos do país. Em algumas comunidades remotas, o gasto com combustível para manter geradores a diesel chega a R$ 900 por mês por família — e o fornecimento é limitado a poucas horas por dia.
A Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), fundo subsidiado por todos os brasileiros, arcou com mais de R$ 11 bilhões para manter a energia nos sistemas isolados em 2024, dos quais uma parte significativa é direcionada a Roraima.
Interligação é a chave
O estudo destaca que a interligação de Roraima ao SIN deve reduzir drasticamente os custos com energia, além de ampliar o uso de fontes renováveis, como hidrelétricas, solares e eólicas. O impacto também será sentido nas contas de luz de todo o país, já que diminuirá a necessidade de subsídios para manter o fornecimento no estado.
Ainda assim, a transição deve considerar o cenário das comunidades mais afastadas, onde a chegada da rede elétrica convencional é inviável. Nesses casos, a recomendação é o investimento em sistemas off-grid, com geração solar associada a baterias e sistemas de armazenamento.
A projeção é que a interligação reduzirá custos com térmicas fósseis e subsídios da CCC, além de trazer maior eficiência econômica e sustentabilidade ao setor elétrico brasileiro. Conforme a projeção no gráfico abaixo.

Isolamento energético
Durante anos, Roraima dependeu da energia fornecida pela Venezuela. No entanto, o país parou de enviar energia ao estado em março de 2019 e, desde então, o trabalho é feito por quatro termelétricas da Roraima Energia.

O parque térmico do estado é formado pelas usinas termelétricas de Monte Cristo, na zona Rural de Boa Vista, Jardim Floresta e Distrito, ambas na zona Oeste, e Novo Paraíso, em Caracaraí, região Sul do estado.
Atualmente, duas turbinas da Usina Termoelétrica Jaguatirica II já estão em operação e ajudam a reduzir o consumo da usina termelétrica do Monte Cristo, que funciona a óleo diesel.
Sem a energia importada, o custo para fornecimento elétrico estado é de R$ 8 bilhões por ano, conta que é dividida entre todos os consumidores de energia elétrica do país. E, para reverter esta situação, a solução é construção do Linhão de Tucuruí.
Por Caíque Rodrigues, g1 RR — Boa Vista