Retrospectiva: relembre os fatos que marcaram a Amazônia em 2016

Em 2016 a Amazônia, ainda sob efeito do El Niño que começou em 2015, viveu situações extremas com queimadas, secas e enchentes. O Portal Amazônia relembra as principais notícias ligadas aos temas que marcaram o ano:

Cheia

Em janeiro a cheia do rio Tarauacá atingiu cota de alerta e preocupou autoridades no Acre, estado que mais sofreu com a subida das águas na região este ano. Nem mesmo o El Niño – fenômeno climático que causa o aquecimento das águas da superfície do Oceano Pacífico – e a escassez de chuvas que o fenômeno provoca impediram o Acre de entrar em alerta no inverno amazônico. O rio Tarauacá, que fica no município de mesmo nome a 400 quilômetros da capital, superou a cota de alerta no dia 4 de janeiro. 
Rio Tarauacá, no Acre. Foto: Pedro Devani/Agência Acre

Segundo informações da Defesa Civil do Estado do Acre, às 8h o nível estava em 8,78 metros (m), às 10h chegou a 8,93 e às 15h estava em 8,82 m. A cota de alerta é de 8,50 m e a de transbordamento de 9,50 m. A enchente histórica que atingiu a cidade em novembro de 2014 ultrapassou os 12 metros e atingiu mais de 70% da cidade.

Em fevereiro o Rio Juruá, também no Acre, ultrapassou a cota de alerta. De acordo com a medição da Defesa Civil do Estado, no dia 14 de fevereiro o nível do rio em Cruzeiro do Sul chegou em 12,46 metros – 66 centímetros acima da cota de alerta, que é de 11,80 metros.

A cheia do rio Negro em Manaus, no Amazonas, foi lenta este ano e ficou abaixo da média histórica de 29,97m registrada em 2012. Já o rio Solimões em Tabatinga, também no Amazonas, foi outro que ultrapassou a cota de alerta. O Solimões atingiu a marca de 12, 11 metros (m) dia 13 de abril. A cota de alerta é 11,80 m. O risco era de ultrapassar a cota de emergência é de 13,20 m na época.

Vazamento de óleo

Em fevereiro, o destaque na Amazônia Internacional o Peru. O distrito de Imaza decretou estado de emergência em 16 comunidades da Floresta Amazônica por vazamentos de petróleo. O vazamento contaminou um dos afluentes do rio Amazonas e atingiu comunidades indígenas. A PetroPeru, responsável pelo oleoduto, foi multada em US$ 3,6 milhões pela falta de manutenção da estrutura. 

Foto: Divulgação
Estiagem, vazante e seca

Cientistas da Nasa apontaram que a região amazônica estaria com menos umidade este ano e que, por isso, queimadas poderiam bater recordes a partir de setembro. Os anos de 2005 e 2010 foram períodos de estiagem severa na região, mas segundo a previsão 2016 não ficaria atrás. A partir de monitoramentos, pesquisadores observaram que a distribuição das chuvas no Brasil, nos últimos dois anos, ficou abaixo do normal em quase todo os Estados, em especial na Região Amazônica. O agravamento da falta de chuva foi provocado pelo El Niño.

No período de vazante, a falta de chuvas, que não caíram no inverno amazônico, ocasionou seca em várias calhas da bacia amazônica. Um dos que mais teve problemas com a seca em 2016 foi Roraima. O Amazonas e Goiás enviaram apoio ao Estado vizinho com agentes da Defesa Civil em fevereiro para fazer acompanhamento técnico. Roraima estava, na época, com 13 municípios em Situação de Emergência por conta da estiagem e dois por incêndios florestais.

O rio Branco, em Boa Vista (RR), registrou entre os dias 8 e 14 de fevereiro a marca histórica de -57 centímetros. A maior vazante registrada na capital de Roraima havia sido em 2015, quando o nível do rio chegou a – 2 cm. Em março o Rio Branco subiu 59 centímetros em Boa Vista e saiu de vazante histórica.

Este ano o número de queimadas em Roraima bateu recorde, o que prejudicou ainda mais o Estado. A quantidade de foi a maior já registrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais desde 1998. Antes desde ano, o pior momento para o Estado havia sido 2007, exatamente um período em que também ocorreu o El Niño. Veja gráfico abaixo, feito a partir dos dados do INPE:

O Acre, que enfrentou enchentes no início do ano, se viu em situação oposta seis meses depois. Em julho foi decretada situação de alerta de seca severa no rio Acre, que se somou a falta de chuvas. O rio tingiu a menor cota dos últimos 40 anos atingido a marca histórica de 1,32 m no dia 17 de agosto. Alguns municípios banhados pelo rio, como a capital Rio Branco e outros do interior, enfrentaram problemas com racionamento e abastecimento de água. Em Brasiléia e em Epitaciolândia o nível do Acre chegou a 1,24 m.

O processo crítico de estiagem nos rios Japurá, Purus e Acre levou os estados do Acre e Amazonas a decretarem estado de alerta em diversos municípios localizados nas calhas desses rios. Entre os municípios em estado de alerta estão Rio Branco, Xapuri, Epitaciolândia, Brasileia, Assis Brasil, Porto Acre, Bujari, Plácido de Castro (Vila Campinas), no estado do Acre; e Boca do Acre, Canutama, Lábrea, Tapauá, Pauiní, Berurí, Guajará, Juruá, Eirunepé, Itamarati, Ipixuna, Envira e Cararuari no estado do Amazonas.

Já no Tocantins, a seca em setembro prejudicou o equilíbrio entre produção agrícola e meio ambiente. Na Amazônia Internacional, países que compartilham o bioma também passaram por problemas com a seca, como a Bolívia. Em novembro o país decretou emergência nacional por escassez de água. Em La Paz, os bairros mais afetados pela situação receberem três horas de água a cada três dias. O país vive a pior seca dos últimos 25 anos. 
Foto: Reprodução/ABI 
Onças

Um dos maiores símbolos da Amazônia foi protagonista de um dos episódios mais tristes da Olimpíada Rio 2016. A onça Juma, que participou de um dos eventos de passagem da tocha olímpica em Manaus, no Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), foi sacrificadas após a cerimônia. O animal fugiu e os tratadores não conseguiram capturá-la com tranquilizantes.
Foto: Ivo Lima/ME
De acordo com o Comando Militar da Amazônia (CMA), a onça foi abatida por um militar, após a passagem da Tocha Olímpica, porque o animal tentou fugir durante o traslado de volta para a jaula. Tentaram resgatá-la com disparos de tranquilizantes, mas sem sucesso. A organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 se pronunciou no dia seguinte alegando terem errado “ao permitir que a Tocha Olímpica, símbolo da paz e da união entre os povos, fosse exibida ao lado de um animal selvagem acorrentado”.

Outro fato que causou comoção sobre os animais foi a apreensão de cabeças de onças no Pará. Partes de animais silvestres foram apreendidas em operação contra crimes ambientais no Sudeste do estado em agosto. Em um freezer, foram encontradas cinco cabeças e cinco couros com cabeças de onça pintada e uma de onça preta, 25 patas de felinos, outras partes e carcaças de várias espécies de felinos e de um jacaré, além de vários exemplares de aves nativas mantidas em cativeiro. O Ibama multou em cerca de R$ 500 mil o acusado de abater onças.

O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, divulgou nota em que afirmou estar “chocado” com as imagens da ação realizada na zona rural de Curionópolis. A operação policial, deflagrada no dia 26 de agosto, desfez um esquema de caça ilegal e venda de partes de animais silvestres. Três pessoas foram presas em flagrante.

No Brasil, a onça-pintada é listada pelo Ibama como ameaçada de extinção. Globalmente é classificada como ‘quase ameaçada’. A conversão de seu habitat natural para atividades agropecuárias é a principal causa da redução de 50% de sua distribuição original, sendo que a espécie foi extinta em dois dos 21 países em que ocorria historicamente (Uruguai e El Salvador). O peso de uma onça-pintada adulta pode variar entre 35 kg e 130 kg, conforme a idade, e geralmente os machos são mais pesados que as fêmeas. Sua expectativa de vida vária entre 10 e 20 anos.

Curiosidades

Apesar de tantos problemas, a Amazônia ainda é um local cheio de peculiaridades e algumas descobertas foram feitas durante 2016. Uma delas foi um recife de coral na foz do Rio Amazonas, desde a fronteira da Guiana Francesa com o estado brasileiro do Amapá até o Pará. A descoberta se deu por um grupo de cientistas do Brasil e Estados Unidos, que exploraram a região em três expedições oceanográficas. A barreira de coral possui cerca de mil metros, além disso predominam esponjas e algas calcárias, que se adaptam melhor à falta de luz. 

Foto: Divulgação

Outra peculiaridade da floresta amazônica pode ser vista no Equador. Lá a floresta ‘anda’. As árvores ‘andarilhas’ de Sumaco parecem saídas de um livro da trilogia ‘O Senhor dos Anéis’, como descreveu a reportagem da BBC Earth, que destacou a viagem de Quito, a capital do Equador, até a Reserva de Sumaco em janeiro. Assim como as Ents, árvores mágicas do épico literário e cinematográfico, essas árvores realmente se movem pela floresta à medida que o crescimento de suas raízes promove uma realocação, normalmente entre 2 cm e 3 cm por dia. 

Foto: Reprodução/BBC

Também conhecemos o rio fervente da Amazônia Peruana. O geocientista Andrés Ruzo encontrou, em fevereiro, o rio fervente que, até então, não passava de um mito popular desacreditado no Peru. Ruzo percorreu mais de 700km, junto com a esposa e um guia, e chegaram até uma foz onde desaguava um rio mais largo que uma rua de duas vias. “A água ficava cada vez mais quente enquanto adentrávamos o rio”. A temperatura do rio era próxima de 86ºC, que flui quente dessa maneira por 6,24 km e, sua largura ao longo do seu curso, é geralmente mais larga que uma rodovia. É possível encontrar piscinas termais e cascatas de mais de seis metros de altura. Uma cortina de vapor d’água cobre boa parte desse percurso. Veja:

Para que a floresta permaneça viva, diálogos sobre clima serão realizados em 2017. A ideia é produzir estudos e pesquisas para elaborar um documento base que guiará os chamados diálogos estruturados. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) realizará diálogos com governo, setor privado e terceiro setor ao longo do primeiro semestre de 2017 para dar início ao processo de construção da estratégia de implantação dos objetivos assumidos pelo país no contexto do Acordo de Paris sobre mudança do clima.

COP 22

Mais de 190 países concluíram, no fim de 2015, o chamado Acordo de Paris, com o objetivo de manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e garantir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. Agora, essas mesmas nações trabalham na regulamentação do pacto, que definirá detalhes sobre a implementação desse objetivo global.

Na COP 22, realizada em novembro no Marrocos, a comunidade internacional deu os primeiros passos sobre a regulamentação do Acordo de Paris. Foi instituída uma agenda de trabalho para que, até o fim de 2018, essa parte do processo esteja concluída.

A WebTv do Portal Amazônia, o Amazônia Interativa, dedicou uma das edições ao tema, com a participação de Victor Salviati, coordenador de PSI da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em novembro. Confira: 

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