Pássaro urutau é estudado por pesquisadores no Amazonas

 
Lendas populares entre os ribeirinhos da Amazônia dizem que quando a ave canta é uma manifestação do espírito da noite. 
 
mãe-da-lua-gigante, ou urutau, é um dos mestres na arte da camuflagem na floresta. É uma ave versátil e pode ser encontrada desde o México até o Sul do Brasil. Atualmente, são conhecidas cinco espécies de urutaus distribuídos em todo o País. Outras duas novas espécies estão em processo de descrição científica, uma delas na Amazônia.
 
“A mãe-da-lua-gigante é uma das mais comuns, com registros no Brasil todo, com exceção do extremo sul e nordeste do Brasil. Entretanto, na Amazônia, ele é muito mais comum que na Mata Atlântica e Cerrado”, informa o biólogo e pesquisador do Museu da Amazônia (Musa), Felipe Bittioli.  
 
Urutau em reabilitação no Musa, em Manaus Foto: Felipe Bittioli/Musa

O pássaro possui hábitos exclusivamente noturnos, não faz ninhos, prefere caçar voando ao entardecer, e capturar insetos em pleno voo. Seu canto varia de longos e finos assovios a gritos guturais, e pode ser assustador à noite, por isso gera muitas lendas sobre sua aparição.

 
“Ele tem uma plumagem camuflada semelhante à casca das árvores que permite que fiquem praticamente invisíveis durante o dia. Enquanto houver luz do Sol, permanecem imóveis, pousados no final de um galho com o pescoço esticado. É quase impossível saber onde termina a árvore e começa a ave”, complementa Bittioli.
‘Kevin’ abre o bico para receber alimento no Musa, em Manaus Foto: Felipe Bittioli/Musa
 
Lendas populares entre os ribeirinhos da Amazônia dizem que quando a ave canta é uma manifestação do espírito da noite. O momento indica que é hora das crianças se recolherem e ficarem quietas, senão serão levadas para outro mundo.

Para permanecerem imóveis por longos períodos, os urutais possuem os ‘pés’, ou tarsos, com a palma bastante desenvolvida, diferente dos pés magros dos passarinhos em geral. Seus grandes olhos, marrons ou amarelos, auxiliam a localização dos insetos durante a noite. Enxerga mesmo com os olhos fechados, devido a pálpebras com pequenas dobras. Seu bico é pequeno com um par de dentes laterais para quebrar as asas dos insetos.

Foto: Divulgação/Musa

O ornitólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Mário Cohn-Haft, é o responsável pela identificação das espécies na Amazônia. Durante o trabalho em campo, o pesquisador escutou um canto diferente e acabou descobrindo a nova espécie. Como muitas espécies de fauna e flora da região, ela já fazia parte do cotidiano da população local, era conhecida como ‘curupira’, mas ainda não havia sido catalogada.

Por sua ampla distribuição geográfica, as mães-da-lua gigantes não estão ameaçadas de extinção. “Entretanto, como sua biologia é pouco conhecida, estudos mais aprofundados podem mostrar que algumas espécies são mais ameaçadas do que outras”, alerta Filipe.


Urutau na natureza, fotografado no município de Parintins, no Amazonas. Foto: Felipe Bittioli/Musa

Experiência de sucesso

 
Em novembro de 2014, o Musa recebeu um indivíduo de mãe-da-lua-gigante. O animal estava completamente sem penas em uma das asas e magro para um indivíduo daquela idade (acredita-se que menos de um ano). Apesar do pouco conhecimento sobre a ave, a equipe do Museu teve êxito na recuperação do animal, que está prestes a ser devolvido à natureza.

O pássaro conquistou a simpatia dos funcionários do local e ganhou o apelido de Kevin, em alusão ao filme ‘Up! Altas aventuras’. O biólogo Felipe Bittioli diz que já havia trabalhado na reabilitação de outras aves como passarinhos e saracuras, além de corujas e gaviões, mas com a mãe-da- lua é a primeira vez. “Como são aves relativamente difíceis de se ver, não existe um procedimento para ser seguido nesse processo de reabilitação. O Ibama nos orientou a anotar tudo que está sendo feito, e no final do processo, publicar uma nota técnica para orientar próximos casos”, revela.


Urutaus em Manaus, em Alter do Chão (no Pará) e em Parintins. Foto: Felipe Bittioli/Musa

Bittioli acredita que este é o primeiro mãe-da-lua em reabilitação. “O Refúgio Sauim-Castanheiras certa vez recebeu uma ave dessas, mas ela não sobreviveu. Em breve o pássaro será solto para cumprir seu papel ecológico, principalmente controlando as populações de insetos noturnos que podem ser pragas agrícolas, como gafanhotos e mariposas”, finaliza o biólogo.

 
Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Contaminação por mercúrio de peixes do rio Madeira é o dobro do aceitável no Amazonas

Estudo realizado pela UEA também mostrou grande presença de coliformes no Rio Negro.

Leia também

Publicidade