Queimadas
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas no pais, até dezembro de 2019, foram registrados pouco mais de 89 mil focos ativos na região, tendo o mês de agosto com mais de 30 mil focos, o maior do ano. Segundo o ambientalista Carlos Durigan, a Amazônia teve um ano bastante negativo, com o acirramento de vários problemas, entre eles, as queimadas.
“As queimadas foram bastante problemáticas em períodos de meses mais secos, como agosto, novembro e dezembro, que esse ano foi de pouca chuva. Tivemos um número expresso de queimadas também nos primeiros 15 dias de dezembro. 2019 não foi um ano tão seco e foi emblemático para queimadas, e que demonstra um aumento das frentes de desmatamento, relacionada a fragilidade de políticas ambientais na região”, ressalta Durigan.
Para o ambientalista, a conservação da floresta não pode ser vista como obstáculo para o desenvolvimento.
“Temos os órgãos federais que cuidam da fiscalização e dos processos relacionados a licenciamento e monitoramento do aumento ao desmatamento. Não houve um trabalho sistemático forte e, houve uma resposta do governo federal tardia. Os números globais são autos para o ano, politicas frágeis e o discurso que se prega pelo governo, de ver a conservação da Amazônia como um obstáculo ao desenvolvimento. Nós já tivemos governos anteriores que tinham o mesmo discurso, e isso é muito triste, porque a conservação e a sustentabilidade não devem ser vistas como obstáculos ao desenvolvimento, mas uma oportunidade para desenvolvimento diferenciado para região”, pontua.
Desmatamento
Com as queimadas, o desmatamento na Amazônia aumentou ainda mais. Segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Inpe, a área desmatada em 2019 na Amazônia já passa de 10.1 km², a maior dos últimos 10 anos. E tem o Pará como estado mais desmatado, seguido do Mato Grosso, Amazonas e Rondônia.
Em entrevista coletiva no mês de novembro, o presidente Jair Bolsonaro disse que o aumento do desmatamento não acabará no Brasil e apontou como um problema cultural. “Você não vai acabar com o desmatamento nem com as queimadas. É Cultural”, ressaltou o presidente. Já o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que espera que haja redução no desmatamento.
“O nosso objetivo de redução tem como base a evolução histórica. Mais importante que estabelecer metas numéricas é estabelecer uma estratégia, que é o alinhamento do governo federal com os estados. Isso ficou 100% estabelecido hoje”, ressaltou o ministério após uma reunião com governadores da Amazônia, também realizada em novembro.
Fundo Amazônia
Com a finalidade captar doações para investimentos não-reembolsáveis em ações de prevenção, o Fundo Amazônia é um recurso administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destinado para o monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável das florestas no Bioma Amazônia, nos termos do Decreto no 6.527, de 1º de agosto de 2008.
O Fundo apoia projetos nas áreas de Gestão de florestas públicas e áreas protegidas; Controle, monitoramento e fiscalização ambiental; Manejo florestal sustentável; Atividades econômicas desenvolvidas a partir do uso sustentável da floresta; Zoneamento ecológico e econômico, ordenamento territorial e regularização fundiária; Conservação e uso sustentável da biodiversidade; e Recuperação de áreas desmatadas.
Em 2019, o Fundo não aprovou nenhum projeto de financiamento. As ONGS relatam que não recebem recursos do Fundo desde fevereiro, desde que funcionários do BNDES começou a fazer um “pente-fino” em contratos firmados em governos anteriores. Em maio, do mesmo ano, o ministro do meio ambiente anunciou a intenção de alterar o funcionamento do Fundo e destinar recursos para indenizar proprietários de terras.
Os países que mais destinaram recursos para o Fundo Amazônia foram a Alemanha e Noruega. São ao menos, R$ 1,8 bilhão aplicados em projetos de preservação da biodiversidade amazônica.
Novas Descobertas
Em meio às turbulentas questões pelas quais passa a Amazônia, a pesquisa científica na região continua caminhando em prol da maior biodiversidade do planeta. E durante o ano de 2019, várias foram as descobertas, entre elas, uma nova espécie de peixe-elétrico que emite 860 volts, ou seja, é a descarga mais forte já registrada em animal.
O conhecido peixe-elétrico poraquê, tinha até então, apenas uma espécie, a Electrophorus electricus, descrita em 1766. Cerca de 250 anos depois, a duas novas espécies, a Electrophorus voltai, é capaz de produzir uma descarga elétrica de 860 volts, e o choque dura de 1 a 2 segundos, e daí o peixe precisa recarregar, encontrado na região sul do rio Amazonas, na região chamada de escudo brasileiro. O Electrophorus varii é a outra espécie, mais comum nas águas turbas e lentas das várzeas do Amazonas.
As descobertas foram feitas pelo zoólogo brasileiro Carlos David de Santana, pesquisador associado do Museu de História Natural Smithsonian, nos Estados Unidos, e vários pesquisadores de universidades do país também assinam o artigo junto, que pode ser acesso aqui.
Outra espécie descrita este ano na Amazônia foi o sagui-dos-Munduruku. Pertencente ao gênero Mico, foi descoberto pelo pesquisador Rodrigo Araújo, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam) durante expedições ao sudoeste do Pará, onde é endêmico. É uma região com grandes danos ambientais, tanto de exploração ilegal de madeira, como desmatamento e a construção de usinas hidrelétricas na região.
A descrição do Mico munduruku foi publicada internacionalmente na revista científica PeerJ. Acesse aqui o artigo.
Um sapo bilíngue também foi descrito em 2019. A espécie Amazophrynella bilinguis, é incidente na Fazenda Taperinha, região de Santarém, no Pará, e a descoberta foi feita por pesquisadores da Ufam e do Inpa.
Segundo os pesquisadores, os sapos têm uma única vocalização com som próprio, o que chamam de canto de anúncio, mas no caso da descoberta, a nova espécie emite sons diferentes. Da coleta dos sons até a publicação do artigo, anunciando o “sapinho” bilíngue, foram sete anos de pesquisa que culminou com a publicação.
O artigo completo pode ser lido acessando aqui.
Mineração
A mineração foi intensificada em 2019 na Amazônia. Altamira e São Felix do Xingu no Pará são os dois municípios campeões do desmatamento no país. Em Novo Progresso, também no Pará, a região foi marcada pela mineração ilegal que causa graves problemas ambientais, principalmente a contaminação por mercúrio, metal usado para extração do ouro.
O ambientalista Carlos Durigan lembra que o uso do mercúrio na mineração ilegal causa uma contaminação sistêmica.
“A exploração maior parte dos leitos de rios da Amazônia com a utilização de mercúrio, então, há uma contaminação sistêmica e de grandes proporções em curso na Amazônia, países como Colombia, Peru e Bolivia estão vivendo esse problema e essa é uma questão muito séria, um ponto que afeta a saúde de muita gente e é um processo pouco conhecido”, ressalta.
Ainda segundo Durigan, não há estudos amplos sobre o impacto do mercúrio na região, mas pesquisas pontuais já mostram os impactos dessa realidade.
“Há estudos pontuais mostrando a realidade, mas não temos um estudo de grande escala mostrando o problema, que atinge pessoas que estão em cidades como Manaus e Belém, por conta do consumo do pescado. O mercúrio entra na cadeia alimentar, onde os peixes que se contaminam através da água e organismos menores e como consumimos peixes de ponta de cadeia, como pirarucu e outros, acabamos nos contaminando, então a questão do mercúrio é seríssima, não só no Brasil mas nos países vizinhos como Colombia, Venezuela e Bolívia”, ressalta.
Violência
Como cenário negativo, a Amazônia viveu uma série de fatos violentos durante 2019. Em março deste ano, a ativista Dilma Ferreira da Silva de Tucuruí no Pará foi morta juntamente com mais cinco pessoas, segundo a polícia, a mando de um fazendeiro envolvido em extração ilegal na região, que temia ser denunciado pelo grupo. Um morador do assentamento Terra Nossa também no Pará, foi morto e tempo depois seu irmão, ambos por ameaçarem denunciar a exploração ilegal de madeira na região, e inúmeros outros casos foram relatados pela Humam Rights Watch, através do relatório “Máfias do Ipê – Como a Violência e a Impunidade Impulsionam o Desmatamento na Amazônia Brasileira“.
Para ambientalista, a violência não é só nessas áreas de conflito por terras, mas também pelo tráfico.
“Estamos vivenciando um processo de aumento expressivo da violência, não só nas cidades, mas nas comunidades de interior, áreas rurais, terras indígenas, território ribeirinhos, há um aumento expressivo da violência que em parte está relacionada ao tráfico de drogas, e em parte pelo uso da terra e ações ilegais tanto em unidades de conservação quando terras indignas e quilombolas, temos testemunhando assassinatos de lideranças indígenas, ameaças de ribeirinhos, indígenas e quilombolas vem sofrendo nos últimos meses e poucas ações no sentido de aumentar a proteção dessas populações vulneráveis a violência”, pontua.
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