Incêndio na Amazônia Maranhense atinge terras da etnia Awá-Guajá


Foto:  Divulgação/Musei GoeldiBELÉM – Um incêndio de grandes proporções avança por áreas de floresta da Amazônia Oriental, no Maranhão, e desde esta quarta-feira (26) queima na aldeia Juriti, lar de membros da etnia Awá-Guajá. Suspeita-se que o fogo tenha sido causado por grupos de madeireiros que agem ilegalmente próximo à terra indígena (TI). Até o momento, nenhum órgão estadual ou instituição responsável pela proteção da TI chegou ao local para intervir na contenção das chamas.Os Awá são um dos últimos povos nômades de caçadores-coletores no Brasil. Considerados pela organização International Survival como a “tribo mais ameaçada do mundo”, os Awá vivem “o mais próximo do que pode se chamar de genocídio, no Brasil”, de acordo com o chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados da FUNAI, Carlos Travassos. Assediados constantemente por “posseiros” e comerciantes extrativistas, o incêndio dessa semana representa mais um golpe contra a sobrevivência da etnia.O único auxílio que os Awá receberam foi de um representante da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que passou a quinta-feira na aldeia, no trabalho de abafamento do fogo. Outro funcionário da FUNAI no Maranhão, Edésio de Sena Martins, informou que o incêndio foi incitado há alguns dias por um grupo de posseiros em um foco próximo à aldeia Juriti e, “como o tempo está muito seco”, rapidamente se espalhou por toda região. Segundo ele, a queimada é intensa e está longe de ser controlada.O incêndio também ameaça a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, em uma terra vizinha à Juriti. Na teoria, a reserva está sob a proteção integral do Ministério do Meio Ambiente (MMA), mas nas últimas décadas tem sofrido com o assédio de madeireiros, pecuaristas e agricultores, um perigo comum às terras indígenas no Estado, como a dos Awá. “Juntas, as terras indígenas e a Rebio Gurupi são as últimas remanescentes da floresta amazônica do Maranhão, hoje reduzido a menos 20% do seu tamanho original”, afirma Marlucia Martins, bióloga do Museu Paraense Emílio Goeldi, uma das instituições que estuda a biodiversidade e luta pela preservação ambiental do Gurupi.
Foto:  Divulgação/Musei GoeldiCom anos de trabalho na Amazônia Maranhense, a bióloga mantém contato direto com alguns grupos indígenas locais. Na manhã dessa sexta-feira (27), ela recebeu um pedido de socorro pelo celular. Era uma mensagem da indígena Rosilene Guajajará, relatando que o fogo invadia a sua terra e a florestas continuam em chamas. “Esses grupos estão isolados, sem nenhum tipo de ajuda do estado e suas instituições responsáveis”, afirma. Para Marlucia, o incêndio é mais um infeliz desdobramento da situação atual naquela região do Maranhão, marcada por assassinatos de encomenda e queimadas criminosas nas terras indígenas e na Rebio do Gurupi.Desmatamento Zero – No início do mês, a pesquisadora se reuniu com outros representantes de instituições científicas e lideranças indígenas do Pará e do Maranhão para discutir formas de interromper a destruição do ecossistema local. Um relatório foi encaminhado para o Governo do Estado do Maranhão com a reivindicação do desmatamento zero para a Amazônia Maranhense. Veja abaixo os motivos expressos no documento:6 razões para estabelecer desmatamento zero para a Amazônia Maranhense
1- Não há mais floresta para ser explorada fora das TI´s e Rebio Gurupi.
2- Favorece reincidências de crimes ambientais como a permanência das serrarias economicamente inviáveis estabelecidas em locais a mais de 100 km de qualquer fonte legal de madeira.
3- O avanço do desmatamento está causando a deficiência de água na região, degranado os serviços do solo que beneficiam a agricultura. Ameaça a existência de espécies endêmicas da região e produz perdas culturais, invasão territorial e violência sobre os povos indígenas.
4- A restauração da floresta e o estabelecimento de sistemas agroflorestais são formas alternativa de atividade econômica sustentáveis que podem gerar emprego e renda para as populações dos municípios que hoje vivem subsidiados por atividades ilícitas de produção madeireira.
5- Combate iniciativas que representam retrocessos que afetam direitos adquiridos pelos povos indígenas a sobre proteção das florestas e de direitos (PEC 215- PE1610).
6- Garantir a observância das convenções internacionais do qual o pais é signatário (Organização internacional do trabalho 169 consulta. , Convenções da biodiversidade e clima).
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