‘História e diversificação de comunidades de aves de áreas alagáveis na Amazônia: subsídios para um plano integrado de conservação’ acontece das 8h45 às 17h30, no auditório da Ciência do Inpa, dentro do Bosque da Ciência, que fica na rua Otávio Cabral, S/nº, Petrópolis. O evento é aberto ao público e os interessados em participar não precisam fazer inscrição.
De acordo com o pesquisador e curador da Coleção de Aves do Inpa, o ornitólogo Mario Cohn-Haft, estima-se que haja 250 espécies de aves dependentes de áreas alagáveis na Amazônia – ambientes que sofrem influência da água por um período longo do ano -, mas essa diversidade é ainda pouco conhecida. Poucas dessas espécies foram estudadas de forma detalhada genética e fenotipicamente, e dentre as espécies já estudadas parece haver significativa diversidade ainda não descrita. Cohn-Haft dividirá uma mesa-redonda no evento, a partir das 16h, sobre ‘Aves como indicadores para estratégias de conservação de ambientes alagáveis’ com Fernando d’Horta (Inpa) e Alexandre Aleixo (MPEG).
“A avifauna associada aos ambientes alagáveis representa uma porção significativa da avifauna Amazônica, que é mal conhecida e agora especialmente ameaçada devido à exploração hidroelétrica”, disse a pesquisadora Camila Ribas, curadora da Coleção de Recursos Genéticos do Inpa e organizadora do evento. “Além disso, a história recente dessa avifauna está associada à história dos ambientes alagáveis, que também é pouco conhecida e provavelmente bastante heterogênea entre as porções leste e oeste da Amazônia, com potencial impacto na diversidade genética das espécies”, completou a pesquisadora.
Segundo Camila Ribas, o projeto ‘History and diversification of floodplain forest bird communities in Amazonia: towards an integrated conservation plan’ foi concebido considerando a potencial ameaça aos ambientes alagáveis representada pelo modelo de exploração energética adotado na atualidade na Amazônia. Esse modelo se baseia em reservatórios “fiod’água”, que não origina vastos lagos – como ocorreu em Balbina (AM) – mas que impactam longas extensões de ambientes alagáveis. O projeto foi um dos dois projetos brasileiros selecionados no ciclo 5 da chamada Partnerships for EnhancedEngagement in Research/United States Agency for InternationalDevelopment (PEER/USAID). Iniciado em dezembro de 2016, o projeto estende-se até dezembro de 2018.
“As barragens impactam os ambientes alagáveis por alterar o ciclo de inundação (enchente/cheia-vazante/seca). Nesse projeto, vamos utilizar as aves como indicadores para estimar o impacto das barragens construídas, em construção e planejadas na Amazônia”, contou a pesquisadora.
A expectativa é que os resultados obtidos pelo projeto colaborem para o planejamento do aproveitamento hidroelétrico, a partir do conhecimento gerado sobre o ambiente antes mesmo que sejam definidos os locais prioritários para construção de barragens, ao invés de fazer os estudos apenas quando o projeto já está em fase de avaliação de impacto, que é o que acontece mais frequentemente.
Pressões
Conforme Camila, as pressões que essas comunidades de aves sofrem estão relacionadas ao modo de aproveitamento hidroelétrico vigente. A mudança de estratégia para geração de energia, abandonando os grandes lagos, como o de Balbina, que alagavam grandes extensões de floresta de terra firme, e utilizando um modelo que alaga os ambientes alagáveis foi visto como uma solução para o impacto ambiental das barragens na Amazônia.
“Porém, o alagamento permanente dos ambientes alagáveis também causa grandes impactos potenciais a esses ambientes que só agora vamos começar a estudar, investigando as consequências do alagamento permanente causado pelas barragens de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira”, adianta a pesquisadora. “É importante conhecer esses impactos e tentar mensurar as áreas e espécies mais vulneráveis, para contribuir com o planejamento do aproveitamento hidroelétrico, evitando uma crença não fundamentada no baixo impacto das usinas com reservatório no modelo ‘fio d’água’”, conta.
Por serem pouco conhecidas, as aves de áreas alagáveis têm poucos estudos de revisão taxonômica para definir as espécies e suas distribuições. Para ajudar nessa lacuna, o projeto parte para conhecer a distribuição e diversidade genética de 30 espécies, revisar sua taxonomia, conhecer sua distribuição e então usar esses dados para fazer previsões de impacto. A proposta dos especialistas é partir do conhecimento básico sobre as espécies de aves de ambientes alagados para chegar a dados específicos sobre grau de ameaça levando em conta o planejamento do setor energético.
“Para isso, vamos gerar dados sobre diversidade genética, distribuição geográfica e afinidades ambientais das espécies de aves, mapeamento dos ambientes alagáveis por sensoriamento remoto, estudos de cronologia para caracterizar a evolução dos ambientes alagáveis, e estudos de ecologia de paisagem para caracterizar a conectividade desses ambientes para as espécies estudadas e como as barragens iriam impactar essas populações”, revelou Ribas.
Público-alvo
O simpósio é voltado a estudantes de graduação e pós-graduação em biologia, geologia e áreas afins, pesquisadores interessados na evolução da biota relacionada aos ambientes alagáveis na Amazônia e representantes de organizações governamentais e não-governamentais envolvidas em análises de impacto ambiental e em planejamento do aproveitamento hidroelétrico.
Conforme a organização do evento, o simpósio não está associado diretamente a nenhum curso de pós-graduação do Inpa, e não gera contabilização de créditos. Haverá lista de presença e certificados de participação podem ser fornecidos sob demanda.
Parceria
O programa Partnerships for Enhanced Engagement in Research (PEER) é patrocinado pela United States Agency for International Development (USAID) para fomentar parcerias entre pesquisadores de países em desenvolvimento e pesquisadores com projetos financiados pelo Governo Americano com o objetivo de realizar pesquisa e capacitação em tópicos com grande potencial de impacto sobre o desenvolvimento.
O projeto foi proposto pela Curadora da Coleção de Recursos Genéticos do Inpa, Dra Camila Ribas, e pelo Curador da Coleção de Aves do MPEG, DrAlexandre Aleixo, em parceria com o Curador da Coleção de Aves do American Museumof Natural History, Dr. Joel Cracraft. A equipe inclui os pesquisadores Fernando d’Horta (Inpa), José Maria Cardoso da Silva (Univ. of Miami), John Bates (Field Museum of Natural History), Michael Harvey (Univ. Michigan), Sergio Borges (Ufam), Thiago Silva (Unesp), André Sawakuchi (USP) e Edgardo Latrubesse (Univ. Texas). Já estão envolvidos no projeto também pelo menos três alunos de mestrado, dois alunos de doutorado e dois pós-doutorandos.