Fusariose: praga que ataca bananeiras na Amazônia tem preocupado especialistas

Segundo o Governo do Estado, a praga já está presente na Colômbia e no Peru, afetando principalmente, bananeiras que produzem os tipos Nanica, Terra, Prata e Maçã.

Uma doença que afeta as bananeiras anda preocupando e mobilizando uma força-tarefa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O objetivo é impedir que a entrada no país, a fusariose das bananeiras Raça Tropical 4 (FOC R4T), uma praga com potencial altamente destrutivo.

O Organismo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) emitiu, em 2015, um alerta fitossanitário sobre o risco da fusariose e o Mapa vem implementando ações preventivas e de vigilância nos pontos de ingresso do Brasil, além das áreas de produção de banana.

O monitoramento da doença atende ao Plano Nacional de Prevenção e Vigilância para Foc R4T, realizado pelas Superintendências Federais de Agricultura e pelos Órgãos Estaduais de Defesa Vegetal.

A adoção de boas práticas agrícolas nas propriedades, o uso de mudas certificadas e manter os equipamentos livres de solo são algumas das medidas que auxiliam a reforçar o trabalho preventivo.

O Portal Amazônia conversou com o engenheiro agrônomo da Gerência de Defesa Vegetal (GDV) da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf), Claudio Gurgel, para entender os riscos da fusariose.

Foto: Murilo R. Arruda/Embrapa

O engenheiro agrônomo explica que o fungo atinge os vasos condutores da planta, ocasionando um amarelecimento progressivo das folhas, da borda da folha até o centro, das folhas mais velhas até as folhas mais novas.

Segundo ele, em determinado momento, “os vasos condutores vão estar tão infestados pelo fungo que a planta vai começar a entrar em colapso”, as folhas vão começar a se quebrar fazendo a bananeira ficar com uma aparência de guarda-chuva fechado.

“A fusariose é uma praga ocasionada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. cubense. Eles têm várias raças. Estamos preocupados com a raça 4, que hoje é a que está na nossa fronteira, na Colômbia e no Peru. Ela ocorre quando esse fungo é inserido no solo, ele encontra um hospedeiro, no caso a bananeira, e aí ele vai colonizar os vasos do xilema, isso vai levar posteriormente a murcha e a morte da planta, impedindo a sua produção”, 

alertou.

Esses sintomas são bem parecidos com outra praga que existe no Brasil, chamada ‘Moko da Bananeira’. Para se ter certeza que é a fusariose, é necessário fazer um corte na planta, para verificar nos vasos condutores se tem manchas pardo-avermelhadas nos cilindros mais intermediários. “Entretanto, se é raça 1 ou raça 2 ou a raça 4, somente o laboratório consegue determinar”, informa Gurgel.

Foto: Reprodução/Embrapa

O fungo é descrito desde 1876 e assim como outros microrganismos, ele vem evoluindo. “A gente tem raça 1, raça 2 no Brasil, e em 1990 foi descrita uma raça que afetava o subgrupo Cavendish, que foi chamado de raça 4. Se a gente planta uma bananeira com variedades que eram resistentes à raça 1 e a raça 2, em algum momento vai acontecer o que a gente chama de ‘quebra de resistência’, podendo assim dar origem a uma nova raça, no caso, surgiu a raça 4”, pontua.

Ainda de acordo com o engenheiro agrônomo, no Brasil a raça 4 não está presente, mas já foi detectada, através de monitoramento, na Colômbia, no Peru e no Sudeste do Pacífico.

A fusariose acontece somente em bananeiras?

De acordo com Gurgel, a fusariose acontece somente em bananeiras:

“Veja bem, as bananeiras têm variedades, são desenvolvidas a partir de vários grupos. Então, por exemplo, como a gente conhece a banana maçã, banana prata, banana pacovã, todas elas são desenvolvidas em cima de outras variedades e aqui no Brasil, as principais variedades que a gente planta são prata e maçã, e é justamente esse grupo que é altamente suscetível à raça 4, pois já é suscetível a raça 1. A banana pacovã é altamente suscetível à raça 4, mas resistente a raça 1. Explicando a grosso modo, é como se uma pessoa fosse resistente a variante delta da Covid, mas suscetível a ômicron”,

esclareceu.

Ela oferece risco a saúde humana?

O especialista informou que, diretamente, a planta não oferece risco a saúde humana, entretanto, o engenheiro agrônomo levanta a possibilidade de afetar a produção de banana e causar problemas sociais.

“A planta que tiver infestada, se ela tiver iniciado a produção, ela não vai conseguir concluir, então não vai ter uma colheita. Se ela tiver uma fase final de produção, é possível que se tire alguma coisa, mas não oferece risco à saúde humana”, explicou. 

Gurgel reforçou o alerta de que por conta do fungo ser altamente agressivo é preciso executar estratégias para proteger as produções na Amazônia. “E assim como no Amazonas, por exemplo, a banana não é só uma fruta, ela é um alimento, faz parte da alimentação de muitas famílias aqui e se você tem um problema que pode exterminar bananais no Estado, você pode criar um problema de fome, um problema social muito grande. Por isso que a gente busca evitar a entrada desta praga para evitar justamente esse problema econômico também. As vendas de frutos, de banana, movimentam um mercado muito grande e esse é um fungo que pode sobreviver no solo por 30 anos, então aquela área fica totalmente inviável para o cultivo de banana e outras plantas também. Você perde uma área e perde ali muitas vezes a produção inteira e não pode plantar de novo”, concluiu.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Licenciamento para exploração de petróleo no Amapá: MPF orienta adoção de medidas ao Ibama e à Petrobras

Recomendações são embasadas em pareceres técnicos de peritos do MPF, nas exigências técnicas do Ibama e na legislação aplicável.

Leia também

Publicidade