Além da geração de emprego, o manejo tem um olhar voltado para preservação, diferente dos rastros de destruição deixados no desmatamento ilegal.
A Floresta Nacional do Jamari (Flona) completou 15 anos da assinatura da primeira concessão florestal do país. A reserva abrange os municípios de Itapuã do Oeste (RO) e Cujubim (RO) e desde a autorização de manejo dada governo federal, a extração legal de madeira está permitida em 96 dos 220 mil hectares de floresta.
Para saber como está funcionando o manejo das árvores dentro da Flona Jamari, uma década e meia após a concessão, a equipe de reportagem da Rede Amazônica foi convidada para visitar a área.
A visita também teve a presença de diversos órgãos ligados ao meio ambiente e o objetivo foi acompanhar o trabalho e monitoramento para manter a floresta em pé.
No trajeto até o local onde está sendo realizado o manejo florestal, como é chamado a área selecionada para a derrubada de algumas árvores, foi possível notar que o verde está 100% presente.
A ‘remoção’ das árvores de forma sustentável é feita pela Madeflona. A empresa obteve a concessão há 15 anos, mas o plano foi colocado em prática há 13 anos.
O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Rondônia lembra do dia em que foi assinado a concessão da Flona para o manejo florestal.
Segundo César Luiz da Silva Guimarães, essa prática pode evitar desperdícios de recursos naturais e aumentar a produtividade das florestas, porém é um desafio que exige um olhar voltado ao futuro.
“Não foi fácil fazer a assinatura, houve uma pressão muito grande, uma incerteza também, embora muito respaldado em pareceres técnicos. Mas sabemos que o futuro é muito difícil de ser previsto. Mas aqui hoje o que nós encontramos, 15 anos depois, foi um projeto exitoso e demonstra ser a chave para continuar com esse tipo de exploração madeireira, pois é seguro para quem produz, é seguro para quem controla, ou seja, é uma grande parceria por aqueles que querem aferir um lucro entre aqueles que protegem”,
afirma o superintendente.
O biólogo e ecólogo Garo Batmanian, diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, afirma que o manejo florestal por meio da concessão tem diversas vantagens, entre elas a permanência da empresa que opera no local por 30 anos, podendo renovar o contrato e realizar um trabalho sólido.
Além da geração de emprego, o manejo tem um olhar voltado para preservação, diferente dos rastros de destruição deixados no desmatamento ilegal.
“O manejo florestal não é desmatamento. No desmatamento você corta todas as árvores, vai embora e deixa a terra nua. No caso do manejo você está tirando quatro árvores por hectare, ou seja, uma área igual a um campo de futebol. Então quem ganha uma concessão florestal tem que seguir regras muitas rígidas, como quais árvores serão extraídas”,
diz Garo.
Cada árvore retirada da Flona Jamari é etiquetada e marcada. Segundo o ecólogo, a empresa vai fazer isso em 30 ‘pedacinhos’. “A Floresta Nacional do Jamari foi dividida em 30 blocos. No primeiro bloco, 4 árvores são extraídas, mais 4 no segundo e assim sucessivamente, até voltar no 31° bloco. A ciência nos mostrou que a floresta cresce muito rápido nesses 30 anos e volta a quantidade de árvores que tinha”, afirma.
Cadeia de custódia
E para que na prática o manejo aconteça é preciso seguir o sistema de cadeia de custódia, que basicamente é o rastreio das madeiras comercializadas. Isso inclui o mapeamento de cada árvore, o inventário, abate e registro, o transporte e controle de produção, até chegar ao consumo e exportação. A empresa responsável pela exploração da Flona Jamari segue essas determinações e é responsável pelo rastreio dos produtos florestais.
“Todas as árvores que atinge interesse comercial são mapeadas um ano antes, cadastradas no Sistemas de Informação Geográfica (SIG) da empresa e passam por vários filtros, várias análises. Para saber se essa árvore está apta ao corte, colocamos indicativos que essa árvore já passou do ápice do período fértil dela, então as árvores mais maduras, que estão no final da vida, a gente faz o aproveitamento comercial dela, abrindo espaço para novas árvores”, explica Evandro José Muhlbauer, engenheiro florestal da empresa Madeflona.
E antes da derrubada da árvore e feito uma avaliação para que não acabe prejudicando outras. “Na área derrubada a gente só vai retornar daqui 30 anos. Esse período a gente chama de período de posil e só fazemos atividades de monitoramento, pra ver se a área está recuperando dentro daquilo que planejamos inicialmente”,
pontua.
Mas no Brasil algumas árvores têm extrações proibidas para corte. É o caso castanheira e a da seringueira. E para que todas as exigências sejam cumpridas, a Madeflona faz um monitoramento da área completa e assim avalia e acompanha anualmente como o meio ambiente tem reagido ao manejo realizado.
“O monitoramento das concessões é feito utilizando 1/6 de geotecnologias. Nós fazemos isso em campo. Vamos até a floresta e fazemos a medição das infraestrutura, a avaliação de parcelas permanentes, e tocos de árvores que foram exploradas. Mas além do campo, nós usamos esse 1/6 de geotecnologia para fazer o monitoramento remoto. Neste monitoramento nós temos uma metodologia de monitoramento de imagens do DETEX (detecção de exploração seletiva de madeira). Com isso, conseguimos avaliar onde está ocorrendo uma atividade de abertura de infraestrutura, por exemplo”, afirma Ana Shaura Oliveira Pinheiro, analista ambiental do SFB.
Na Flona também é usado o ‘escaneamento’ a laser sobre a mata, que faz uma varredura completa da área de vegetação fechada.
Preocupação com a fauna
Embora as tecnologias permitam monitorar a flora, uma preocupação do ICMBio é como fauna tem se comportado ao longo desses anos. Muitos registros de animais foram feitos no local, o que demostra uma presença ativa na área de manejo.
O analista do ICMBIo, Samuel Nienow, explica como tem sido realizado o levantamento de dados após uma década de exploração madeireira.
“A gente usa uma armadilha fotográfica que funciona a base de pilhas. Ela tem a coordenada geográfica, então instalamos ela em árvores e no local fica de 30 a 60 dias para tirar a foto dos animais que passarem por ali. Após o registro, a máquina gera um número grande de arquivos de imagens e usamos a inteligência artificial para ajudar na identificação das espécies”.
“E claro que essa inteligência artificial é acompanhada por um profissional [humano], que valida as informações para gerar números e assim saber como a atividade de manejo florestal está impactando a comunidade de mamíferos, por exemplo”, explica Samuel.
Ainda de acordo com o analista do ICMBio, a equipe faz comparações antes e depois da exploração da área, pois o objetivo é ter dados científicos de como conversar com a empresa em caso de melhorias em relação a fauna.