Para realizar a pesquisa, foram analisadas carcaças de golfinhos coletadas no Lago Tefé e na Reserva Mamirauá, no Amazonas. As amostras foram coletadas entre os anos de 1995 e 2015. “O trato respiratório das duas espécies de golfinhos foram analisadas utilizando técnicas macroscópicas e microscópicas”, explica o autor do artigo, Luzivaldo Júnior. A pesquisa foi realizada em parceria com a Universidade Federal do Acre e a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
O estudo identificou “traqueia, brônquio principal, brônquio traqueal e pulmão” no aparato respiratório dos botos estudados. A presença do brônquio traqueal sugere que esses animais possuem facilidade em realizar trocas gasosas.“Os botos e tucuxis, diferente dos humanos, possuem brônquio traqueal, uma adaptação anatômica. Esse aparelho ajuda na entrada e saída de ar nos pulmões e faz com que eles acumulem mais oxigênio nos pulmões, não exigindo muito tempo de exposição à superfície para respirar”, afirma o pesquisador.
A análise revelou ainda a presença de esfíncteres mioelásticos, registrados pela primeira vez em golfinhos de rio. “Acreditamos que ele seja um órgão que ajude no armazenamento de oxigênio. Será necessário um estudo fisiológico para entender melhor a importância do esfíncter mioelástico para os cetáceos”, ressalta Luzivaldo.
Os resultados da pesquisa apontam que o aparelho respiratório do boto-cor-de-rosa e do boto tucuxi são semelhantes ao de outros grupos de mamíferos aquáticos. “A presença de brônquios e traqueias, além de facilitar as trocas gasosas, é a principal característica que diferencia o sistema respiratório desses animais de várias espécies de mamíferos terrestres, como o homem e o cão”. A pesquisa foi premiada no VII Encontro Nacional de Conservação e Pesquisa em Mamíferos Aquáticos, realizado em Natal (RN).
Ainda de acordo com o autor do artigo, o conhecimento da estrutura respiratória dos golfinhos amazônicos pode contribuir para compreensão da fisiologia do mergulho e como essas espécies são adaptadas ao habitat.
O artigo teve contribuição da líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, Miriam Marmontel. Há mais de dez anos, o grupo investiga a biologia, ecologia e estratégias de conservação desses animais na região do Médio Solimões na Amazônia.