A pesquisa mostra que os manguezais amazônicos contam com 92% da área coberta por florestas, 7% por planícies salinas e menos de 1% de área de uso.
Os manguezais da costa amazônica brasileira estão bem preservados, aponta artigo publicado na revista ‘Anais da Academia Brasileira de Ciências’, nesta sexta (21), por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA). Os principais impactos identificados na região são a expansão urbana e a construção de estradas, mas menos de 1% da área total foi convertida por essas atividades. As florestas de mangue correspondem à maior cobertura, ocupando 92% da área de estudo.
Os pesquisadores analisaram imagens de satélite de alta resolução entre 2011 e 2015 para obter um mosaico de imagens sem nuvens, que foram comparadas com imagens antigas da região. “Os manguezais da Amazônia brasileira são os maiores e mais bem conservados manguezais do planeta”, explica Pedro Walfir Martins e Souza Filho, autor correspondente do trabalho. Trata-se de área de 7820 km², com planícies de maré vegetadas que têm cerca de 30 a 40 quilômetros de largura, descreve o pesquisador do ITV. Além de florestas, a área estudada também conta com a presença de planícies salinas conectadas ao manguezal, conhecidas como apicuns.
A região de Bragança, no Pará, concentra pontos de degradação mapeados pelo estudo devido à construção de da Rodovia PA-458, que corta o manguezal por 26 quilômetros, aponta Souza Filho. Por outro lado, observa o pesquisador, a estrada construída entre as décadas de 70 e 80 permitiu maior acesso dos pesquisadores à região, gerando mais conhecimento sobre geoquímica, biodiversidade e conservação desses ecossistemas.
O apicum é a menor porção da área estudada, correspondendo a 12 km² ou 0,15% do total, mas é proporcionalmente mais afetada pela ação humana, que já atingiu mais de 2% dessas áreas salgadas. Souza Filho relata que a vegetação nesses locais é escassa por conta do sal. Assim, o apicum é muito usado para aquacultura, que envolve atividades como a criação de peixes e camarões em tanques. “Já no manguezal, temos uma floresta de 20 metros de altura, então é mais difícil fazer uso desta área em meio a extensos depósitos de lama”, observa.
O pesquisador lembra que o Código Florestal de 2012 permite o uso do apicum, enquanto manguezais são considerados áreas de preservação permanente. O artigo frisa que a preservação dessas florestas também pode ser explicada por fatores como a presença de unidades de conservação ao longo da costa, incluindo 12 reservas extrativistas, e a baixa densidade populacional na região, relacionada à ausência de infraestruturas como estradas e redes de transmissão de energia elétrica.
Souza Filho destaca que o objetivo dos pesquisadores é avaliar o estado de conservação dos manguezais em todo o planeta, já que a literatura tem apontado grandes alterações em manguezais da Índia, Bangladesh e Nova Guiné.
“Partimos então da hipótese de que os manguezais da Amazônia precisam de uma política especial para que permaneçam nesse estágio de conservação e que não se permita o avanço da degradação como vem ocorrendo em outros lugares do mundo”,
completa o autor.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori