Clima desregulado = animais desregulados: desmatamento e desequilíbrio das estações aumentam ataques de animais peçonhentos

Chuvas escassas durante um período que costumava ser chuvoso levam à desregulação na fauna, explica biólogo.

As cobras foram responsáveis por mais de 70% dos ataques envolvendo animais peçonhentos em Rondônia, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). O herpetólogo Adriano Martins explica que os ataques podem estar relacionados ao desequilíbrio das estações amazônicas e o desmatamento.

Os dados da Sesau apontam que foram registrados cerca de 150 acidentes por animais peçonhentos em Rondônia de janeiro a setembro de 2023. Desses, 110 foram registrados como picadas de cobras, o que representa mais da metade dos casos de ataques registrados nos primeiros nove meses do ano no Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron).

Cobra resgatada em 2021, em Vilhena. Foto: Rafael Augusto Fonseca/Arquivo pessoal

Período chuvoso 

Segundo o herpetólogo — biólogo especialista em répteis e anfíbios — Adriano Martins, quando o tempo está muito quente, os animais peçonhentos ficam alojados em abrigos. Com o início das chuvas, é normal o aparecimento desses bichos na zona urbana, uma vez que seus ciclos de atividade estão associados ao clima.

“O encontro com animais peçonhentos é mais comum durante a estação chuvosa. Por exemplo, as jararacas começam a se movimentar nesse período devido a sua busca por alimentos”, explica.

Os motivos da movimentação dos animais são: busca por presas, reprodução e a procura por novos abrigos.

Clima desregulado = animais desregulados

De acordo com Adriano, a alteração incomum no clima pode impactar diretamente no clico de vida dos animais. Como exemplo: o período de estiagem prolongada que acontece em toda a região Norte, incluindo Rondônia.

De acordo com informações do Serviço Geológico do Brasil (SGB), a região amazônica enfrenta um período de seca extrema, devido dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas:

– Oceano Atlântico Norte mais aquecido que o normal e mais quente que o Atlântico Sul;
– Fenômeno El Niño que causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.

Quando ocorrem chuvas isoladas nesse período de seca, os animais podem acabar se confundindo.

“Os animais passam a acreditar que o período chuvoso começou. Quando chove e eles saem das tocas, encontram um período que não está tendo chuva e a alimentação deles não está no local certo. Os animais ficam perdidos”, explica.
Essa desregulação na estação pode resultar no aparecimento desse bichos na zona urbana durante a seca e chuvas fracas, quando normalmente não seriam observados.

‘Desmatamento destrói hábitat’

Adriano Martins também ressalta um outro fator que contribui para a desregulação no comportamento da fauna e o aumento na aparição desses animais na cidade: o desmatamento.

Rondônia ocupa a terceira posição no ranking dos estados da Amazônia Legal com maiores índices de desmatamento. De acordo com dados da plataforma Terra Brasilis, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mais de 66 mil km² de áreas foram desmatadas no estado.

Segundo o biólogo, a destruição do hábitat natural força os animais a migrarem em direção às áreas urbanas.

Onde procurar ajuda?

Devido às variações nas estações e o desmatamento, é possível se deparar com esses animais com mais frequência. No caso de acidentes envolvendo animais peçonhentos, as primeiras ações são:

Lavar o local da picada apenas com água e sabão;
Manter o paciente deitado e hidratado;
Procurar o serviço médico mais próximo;
Se possível, levar o animal ou tirar foto para identificação no atendimento (facilita a escolha do soro antiofídico que será aplicado)

Em Rondônia, o Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron) é uma unidade especializada que oferece atendimento de pronto socorro 24 horas e acompanhamento para pessoas que tenham sofrido acidentes com animais peçonhentos, de acordo com a Sesau.

O hospital Cemetron fica localizada na Avenida Guaporé, n° 215, Lagoa em Porto Velho.

*Por Emily Costa, do g1 Rondônia 


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