“Elas são velhas conhecidas dos pecuaristas e dos produtores que se dedicam a cultivos como cana-de-açúcar, arroz e milho. São insetos que se alimentam sugando os colmos (tipo de caule das gramíneas) tanto durante a sua fase juvenil, quanto na fase adulta da vida, quando além de sugar, também, injetam toxinas nas plantas”, descreve o pesquisador.
Mas, por que as cigarrinhas não atacam no período entre maio e setembro? A resposta está em uma peculiaridade destes insetos. “Como sugadores, cigarrinhas precisam de plantas tenras para se alimentar. Entre maio e setembro, período praticamente sem chuvas, as plantas da pastagem apresentam seca natural, o que não significa que estão mortas, mas a rigidez dos colmos torna-as inviáveis como alimento para estes insetos e para o gado”, explica.
“Para sobreviver a esta estação, as cigarrinhas desenvolveram um modo de vida em que uma parte significativa dos ovos colocados durante o período chuvoso, apresenta dormência (um tipo de hibernação durante a estação seca). São esses ovos dormentes que darão início às novas gerações das cigarrinhas na próxima estação chuvosa. Deste modo, logo após as primeiras chuvas, quando o pasto passa a rebrotar, as formas jovens (ninfas) das cigarrinhas passam a eclodir (sair dos ovos), formando o seu primeiro pico populacional”, completa.
Danos
Teixeira enfatiza que, com frequência, no primeiro pico de ataque os danos são menos visíveis, uma vez que a população inicial da praga tende a ser a menor da nova estação. “De qualquer modo, as plantas sugadas pelas cigarrinhas secam, tomando aspecto de queimadas. Com o aumento do ataque, percebem-se touceiras com o mesmo aspecto. Se não houver sido planejada – e executada – nenhuma ação de controle (manejo) dos insetos e, se as condições ambientais se mostrarem favoráveis, sem dúvida os próximos picos da estação serão cada vez maiores e mais danosos”, afirma.
Havendo os surtos, com altas populações das cigarrinhas, pastagens inteiras podem se apresentar queimadas. “A principal consequência desse processo é a redução da massa de capim verde, levando à diminuição da produção dos rebanhos (de leite e de carne). As perdas podem ser temporárias, com a rebrota normal do capim algum tempo depois do ataque. Porém, altas populações de cigarrinhas podem chegar a comprometer todo o planejamento, inviabilizando as pastagens para a manutenção dos rebanhos na propriedade”, aponta o pesquisador.
Manejo
Assim, para evitar ou reduzir os danos às pastagens e, por consequência aos rebanhos, Teixeira afirma que o pecuarista precisa conhecer as diversas alternativas de controle que – em conjunto – constituem o Manejo Integrado das Cigarrinhas.
“Porém, antes de considerarmos o manejo, é preciso termos clareza de que, atualmente, o Estado de Rondônia apresenta a presença destes insetos em todas as suas regiões. Por um lado, isso implica que há significativas áreas com ataque intenso da praga. Entretanto, convém frisar que é possível termos propriedades ainda sem o inseto ou, mesmo, com a presença do inseto, mas ainda sem danos econômicos às pastagens. Tão importante quanto, é estarmos cientes de que não existe uma receita simples ou algum tipo de ação única que impeça o ataque das cigarrinhas”, especifica.
O pesquisador informa que a ferramenta básica do Manejo Integrado é a amostragem periódica das áreas de pastagem, “o que irá permitir conhecermos a dinâmica populacional da praga no local”. A amostragem é feita percorrendo semanalmente (ou quinzenalmente) as pastagens, realizando, segundo metodologias apropriadas, a coleta e a contagem das cigarrinhas presentes em dado momento (para detalhes, recomenda-se consultar um Agrônomo ou Zootecnista).
As principais ações de manejo são:
-Diversificação das espécies usadas para pastagem;
-Utilização de espécies forrageiras resistentes;
-Uso de sementes certificadas pelo Ministério da Agricultura para garantir a sanidade dos cultivos;
-Adubação de formação e manutenção das pastagens;
– Divisão das pastagens;
-Promoção do consórcio de gramíneas com leguminosas forrageiras;
-Promoção da rotação de cultivos;
-Adoção do ILP/ILPF (Integração Lavoura Pecuária Florestas);
-Emprego do manejo rotacional do rebanho;
-Uso de formulações do fungo Metarhizium anisopliae no controle biológico da praga;
-Uso de inseticidas químicos registrados no Ministério da Agricultura;
-Manutenção de faixas de vegetação nativa entre as áreas de pastagens, para a preservação de inimigos naturais;
-Não realizar queimadas nas pastagens para a preservação de inimigos naturais.
Futuro
“Frente ao recrudescimento do problema das cigarrinhas, o governo de Rondônia está promovendo um trabalho conjunto, envolvendo Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), Emater-RO, Idaron, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Embrapa e da Associação dos Produtos Rural de Rondônia (Appro), buscando fortalecer o manejo da praga no Estado. Nas próximas semanas, serão realizados treinamentos e palestras para técnicos, extensionistas, pecuaristas, profissionais e estudantes, com objetivo de atualização no reconhecimento da praga e das ações de manejo integrado. Serão realizadas campanhas, através das diversas mídias disponíveis, para a mobilização dos pecuaristas frente ao problema”, adianta o pesquisador.
Ainda que novas cultivares de pastagens resistentes estejam chegando ao mercado, a experiência adquirida desde os anos 1970, mostra que nas condições de Rondônia, cada um dos pecuaristas precisa estar atento e atuante. “Em longo prazo, o manejo das cigarrinhas, em cada uma das propriedades onde se pratica a pecuária bovina, se mostra como o único caminho seguro para a sustentabilidade de nossas pastagens”, afirma.