Duas novas espécies de carrapatos encontradas no Acre são preocupantes?

Estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Acre revelou a presença inédita de dois novos tipos de carrapatos na Amazônia Ocidental Brasileira.

Novas espécies de carrapatos foram encontradas parasitando em animais. Foto: Simone Tojal

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) revelou a presença de novas espécies de carrapatos na região da Amazônia Ocidental brasileira. A pesquisa, publicada em setembro deste ano, apontou a identificação inédita no Brasil das espécies Amblyomma crassum, até então registrada apenas na Colômbia, e da Haemaphysalis juxtakochi em território acreano.

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Motivo de preocupação? Para Simone Delgado Tojal, uma das autoras da pesquisa, juntamente com Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti, os achados não representam, por ora, algum tipo de ameaça à saúde pública, mas são fundamentais para a catalogação das novas espécies no país.

“As espécies de carrapatos citadas são Amblyomma crassum e Haemphysalis juxtakochi. Para o Brasil, é a confirmação da presença da espécie Amblyomma crassum., Essa espécie, antes, só havia confirmação, com base em biologia molecular, na Colômbia. Para o estado do Acre, ambas são confirmadas pela primeira vez. Esses achados são importantes para o conhecimento da fauna silvestre desses artrópodes”, afirma Tojal.

As novas espécies registradas, segundo a pesquisadora, foram encontradas no estudo realizado entre 2018 e 2022. O levantamento envolveu a coleta de carrapatos tanto no ambiente quanto em hospedeiros como anfíbios, répteis, aves e mamíferos em diferentes municípios acreanos.

Leia também: Os desafios da expedição em busca de novas espécies de carrapato pela Amazônia

Carrapato da espécie Amblyomma crassum foi encontrado em mucura, durante trabalho de coleta de carrapatos.
Mucura em trabalho de coleta de carrapatos, onde foi encontrada a nova espécie Amblyomma crassum parasitando no animal. Foto: Simone Tojal

“O que se conhece sobre Amblyomma crassum, é que é um carrapato de jabutis, mas encontramos a espécie neste lado ocidental da Amazônia brasileira parasitando o sapo-cururu e a mucura. Já a espécie Haemphysalis juxtakochi é mais conhecida no território brasileiro e tem preferência por se alimentar de mamíferos da família Cervidae (veados)”, explicou a pesquisadora.

Carrapatos: transmissores de doenças

Simone defende que os estudos sobre as espécies de carrapatos são fundamentais para o controle e prevenção de doenças, já que eles, depois dos mosquitos, são considerados grandes proliferadores de patologias como febre maculosa, erliquiose, babesiose, entre outras, tanto para animais quanto para humanos.

“Os carrapatos são conhecidos globalmente como vetores de vários agentes causadores de doenças. As pesquisas envolvendo esses ectoparasitas são fundamentais para a saúde pública, pois buscam conhecer se há circulação de microrganismos patogênicos como a bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa brasileira, uma infecção de alta letalidade para a população humana”, frisa a autora.

O estudo, que contou a parceria da Faculdade de Medicina Veterinária de Zootecnia da Universidade de São Paulo, também investigou a relação ecológica entre carrapatos e os animais silvestres, onde revelou conexões inéditas dos ectoparasitas com as aves, além de testar amostras para a presença de Rickettsia, grupo de bactéria responsável por doenças como a febre maculosa.


“No caso das espécies registradas, o conhecimento que se tem é que apenas a espécie de carrapato Haemaphysalis juxtakochi pode abrigar outra espécie de riquétsia (do mesmo grupo de parasitas que causam a febre maculosa). Em nosso estudo, isolamos a bactéria Rickettsia rhipicephali de Haemaphysalis juxtakochi e Rickettsia amblyommatis de outras duas espécies (Amblyomma coelebs e Amblyomma humerale), que até o momento, essas bactérias não são conhecidas em causar doença no ser humano ou em outros animais”, explica a pesquisadora.

Leia também: Pesquisadores mapeiam espécies de carrapatos no estado do Pará

Acre, terra dos carrapatos?

Com os novos registros revelados pelo estudo, o Brasil conta agora com um total de 78 espécies de carrapatos registradas, sendo o Acre responsável por 26 delas. Isso representa 48% de toda a fauna de Ixodidae (grupo conhecido de carrapatos duros) do Brasil. Já em todo o planeta, a quantidade já ultrapassa a marca de 940 espécies.

“Trata-se, sem dúvida, de uma representação extraordinária, considerado que o estado do Acre representa 2% do território brasileiro”, conclui Simone.

Com doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal São João del-Rei e mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal do Acre(Ufac), Simone é professora no Colégio de Aplicação da Ufac, e realiza estudos nas áreas de Parasitologia, Epidemiologia com foco na Relação parasito-hospedeiro. Ela também tem trabalhos que investiga patógenos de importância médica e veterinária.

*Por Dayson Valente, para o Portal Amazônia

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