Capacitação ensina fiscais ambientais a identificar carne de piracatinga

Foto: Divulgação/Ampa
Cerca de 60 fiscais ambientais do Estado do Amazonas e de agências federais estiveram reunidos, na última semana, para uma capacitação para melhor identificarem o filé da piracatinga (Colophysus macropterus) nos frigoríficos. A pesca e a comercialização do pescado, vendido com o nome de douradinha, estão proibidas desde o dia 1º de janeiro de 2015. A moratória foi usada como forma de conter a matança indiscriminada de botos e jacarés nos rios da Amazônia, animais usados como isca para a pesca da piracatinga.
Segundo a bióloga e mestre em Ecologia, Angelica Nunes, é comum que a pesca desses bagres, principalmente, da piracatinga, comece na época da vazante (seca). “É quando as espécies comerciais mais nobres estão no defeso e a pesca desses bagres é uma alternativa econômica para os pescadores. E o boto é uma dessas iscas. É quando começa a matança dos botos”, destaca. 
O período de defeso é o período em que as atividades de caça, coleta e pesca esportiva e comercial ficam proibidas ou controladas em diversos locais do território nacional.
Durante a capacitação, os participantes receberam um guia de identificação das principais espécies que são comercializadas com o nome vulgar de douradinha. Angelica explica que, por meio de um estudo genético, foram identificadas pelo menos cinco espécies de bagres que prevalecem dentro das bandejas dos filés congelados e vendidos como douradinha: mapará, mandii, mandubé e piranambu, além da piracatinga.
A atividade faz parte da campanha Alerta Vermelho de proteção aos botos-vermelhos (Inia geoffrensis).
Arte: Instituto Mamirauá/Reprodução
Treinamento
Angelica, instrutora e bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA/ Inpa), explica que é difícil os fiscais observarem os filés diante das condições em que se encontram os frigoríficos. Porém, uma das características principais e que pode servir de base para identificação é a coloração dos filés da piracatinga que se destaca pelo tom avermelhado, apesar de ser parecido com outras espécies.
“Fizemos a observação dos filés congelados dessas cinco espécies durante um período de 45 dias e durante esse tempo os filés se mantiveram congelados e a coloração foi uma característica que se manteve”, explica Nunes.
Segundo a pesquisadora do Inpa Vera Silva, esse foi um trabalho experimental e a partir daí foi criado um guia que ainda está em fase de processamento. “Fizemos este trabalho utilizando nossa experiência e o que aprendemos durante o processo e agora estamos repassamos para os fiscais”, diz a pesquisadora.
Conforme Silva, a proposta é que os fiscais usem o guia e dêem um retorno para o Inpa indicando se o material está sendo útil, além de apontarem outras informações que não aparecem no guia. “Em breve, esta apostila será transformada em um livro para ser distribuído a todos os órgãos de fiscalização e ficar disponível para a sociedade na Editora do Inpa”, ressalta a pesquisadora.
Para o fiscal e gerente da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf), Harou Takatani, o curso é importante não só para os fiscais, mas também para os donos de frigoríficos. “Essa aproximação da pesquisa com os fiscais deveria ter sempre. E não só nessa questão dos filés de bagres, mas em outros produtos originários de entrepostos, como o mel e outros produtos”, diz o gerente.  
Já a analista ambiental do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), a fiscal Sonia Canto, o curso veio em boa hora e a apostila será de grande utilidade para todos os órgãos que estão participando da capacitação. “E com base na nossa experiência de campo vamos dar o feedback para os pesquisadores”, conta.
Parcerias
Participaram da capacitação fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Batalhão Ambiental do Amazonas, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Associação dos Gestores ambientais do Amazonas (Apgam), Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf), Instituto de Criminalística de Roraima, professores da Universidade Nilton Lins, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), Ministério Público Federal, consultores técnicos do Baratão da Carne, Polícia Militar e Secretaria do Meio Ambiental de Presidente Figueiredo
Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Arte rupestre amazônica: ciência que chega junto das pessoas e vira moda

Os estudos realizados em Monte Alegre, no Pará, pela arqueóloga Edithe Pereira, já originaram exposições, cartilhas, vídeos, sinalização municipal, aquarelas, história em quadrinhos e mais,

Leia também

Publicidade