Em entrevista ao Jornal da USP, Paulo Artaxo, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física (IF) da USP e membro da equipe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que será lançado em 2021, falou sobre a série de eventos que tratam da questão de desenvolvimento da Amazônia.
O professor conta que o último debate aconteceu em Manaus, onde foi discutido o desenvolvimento sustentável do bioma, levando em conta a questão da pesquisa básica, do funcionamento do ecossistema amazônico, os setores empresariais e as ONGs lá presentes. “Hoje a Amazônia sofre uma série de pressões, particularmente do setor agropecuário, que continua a entender que a floresta não tem qualquer valor e que deve-se derrubar a maior fração possível dela para plantar soja ou criar áreas de pastagem. Essa trajetória está levando à destruição muito acelerada do bioma”, esclarece o especialista, que afirma que, em 2017, 8,5 mil km2 de florestas virgens foram desmatadas.
Ele relembra que o Brasil se compromete, através de lei aprovada no Congresso, a reduzir o desmatamento ilegal a zero. Todo o desflorestamento na Amazônia é ilegal. Segundo o professor, quem mais perde com todo o desmatamento são os brasileiros, pois a riqueza da biodiversidade que o ecossistema possui é uma chave fundamental para o nosso desenvolvimento ao longo dos próximos séculos. Ou seja, é extremamente importante que o Brasil siga uma estratégia mais inteligente e não destrua a Amazônia, que deve ser explorada de modo sustentável.
De acordo com o físico, as consequências do que pode acontecer, se não cuidarmos da Amazônia, são muito claras.
“O ecossistema é um enorme processador de vapor de água que vem do Atlântico Tropical e se transforma em chuva em toda a região do Brasil central e sul, onde se produz grande parte dos alimentos. Uma vez que a floresta é desmatada, esses serviços ambientais, em particular a chuva no sul, são afetados. Portanto, se nós quisermos que o Brasil continue sendo uma potência na produção agrícola, temos que preservar a floresta. É fundamental uma mudança de atitude do governo federal, um reforço no orçamento do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes, que trabalham pela preservação da Amazônia, pela inibição da ocorrência de queimadas e do desmatamento, monitorando o processo de destruição do bioma”, conta o pesquisador.