Boto do Araguaia sob ameaça de extinção

       


Boto do Araguaia. Foto: Divulgação/Instituto Araguaia 

Há dois anos, uma nova espécie de boto, o boto do Araguaia (Inia araguaiensis), foi reconhecida pela comunidade científica. A maior população do animal ocorre no médio Rio Araguaia, em um área com cerca de 2 mil quilômetros de extensão onde a planície inundável, rica em lagos e peixes, forma o habitat ideal para ele. Mas nem tudo é motivo para celebração: a espécie está ameaçada de extinção, principalmente por causa da severa estiagem que atinge a região.

Um episódio recente ilustra o risco: em esforço conjunto, pesquisadores do Naturantins, do Instituto Araguaia e do Instituto Nacional de Pesquisas das Amazônia (Inpa) resgataram 12 botos do Araguaia encalhados em uma lagoa no Rio Formoso, em Lagoa da Confusão, no Tocantins. “Doze animais parece pouco, mas representam quase 1% da população total dessa espécie. Se não tivéssemos feito o resgate 1% de toda a população do boto do Araguaia teria morrido em apenas uma semana”, avalia a coordenadora de pesquisa do Instituto Araguaia, Thais Susana.

O instituto estima que a população da espécie seja de no máximo 1.500 animais. Essa população reduzida vem sendo dizimada por pescadores comerciais, que culpam os botos por roubar peixes de suas redes e revidam com tiros ou iscas envenenadas. Nas proximidades de certos portos de pesca ao longo do Araguaia, é possível percorrer dezenas de quilômetros sem avistar um único boto. Em 2016, a falta de chuvas e a intensificação da produção agropecuária na região da Bacia do Araguaia reduziu o nível das águas na bacia.

Os órgãos ambientais do Tocantins já se preparam para o próximo ano. “Nós nunca tínhamos visto uma seca como essa na bacia. Para evitar que animais morram nos próximos anos vamos construir uma rede de parceiros para fazer o monitoramento dos rios e lagoas da região”, diz Thais.  Rios assoreados na Bacia do Araguaia. Foto: Divulgação/Instituto AraguaiaBoa notíciaAssim que a espécie foi descoberta, amostras do seu material genético foram disponibilizadas em um banco de acesso público. A pesquisadora Renata Emin, que trabalha há 12 anos com botos na região da ilha de Marajó, no Pará, utilizou o material genético disponível para comparar com amostras de pele animal coletadas no Marajó. Para sua surpresa a análise mostrou que outros espécimes do botos do Araguaia vivem na região.

O resultado indica que a extensão territorial da espécie é muito maior do que se imaginava, do início do Araguaia até a foz no Rio Amazonas. “Essa descoberta é importante porque levanta as perguntas: qual é o status da espécie? Ela está em risco de extinção? Qual o tamanho de sua população?”, indaga a pesquisadores.

Para ela, mesmo sem ter uma noção exata do condição da espécie, pesquisadores conhecem bem os riscos que esses animais passam na região. “Na bacia do Marajó os animais sofrem por conflitos com pescadores. No Araguaia, problemas com uma estiagem intensificada pela atividade agropecuária aconteceram esse ano. Nós podemos estar lidando com uma espécie já em risco de extinção e nem a conhecemos ainda.”, alerta a pesquisadora.

Espécie

O boto do Araguaia foi identificado em 2014 por pesquisadores do Inpa e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A espécie tem muitas semelhanças com o boto cor-de-rosa (Inia Geoffrensis), a diferença maior entre as eles está no DNA e no formato do crânio. Essa é a única descoberta de uma nova espécie de boto em quase 100 anos.

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