Dados do programa ‘Queimadas’ do Inpe mostram Roraima com 480 focos em abril e 2.057 em fevereiro, quando bateu o recorde. Chuvas também influenciaram nível do rio Branco, que voltou a marcar níveis positivos.
Os focos de calor em Roraima diminuíram em 76,6% neste mês de abril, quando começou oficialmente o período chuvoso no Estado, em comparação à fevereiro. À época, o Estado bateu o recorde da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que começou em 1999.
De acordo com o Instituto, com 480 focos registrados até esta quinta-feira (25), Roraima é o segundo estado com mais focos de calor. Roraima está atrás apenas de Mato Grosso (595) e a frente da Bahia (133). Em fevereiro foram registrados 2.057 e em março 1.429.
Nos meses de fevereiro e março, Roraima foi consumida pelas chamas. A seca severa, que aumenta as possibilidades de incêndio, reduziu a vazão dos principais rios e levou 14 dos 15 municípios a decretarem emergência.
Além da diminuição dos focos de calor, o início do período chuvoso causou o aumento do nível do Rio Branco, o principal de Roraima. Devido aos efeitos da seca no estado, intensificada pelo fenômeno El Niño, o curso d’água chegou a registrar 39 centímetros negativos, a segunda maior seca da história.
Para o coordenador substituto geral de ciências da terra do Inpe, Luiz Aragão, a tendência nas regiões acima da linha do equador é que nos próximos meses os focos de calor sigam diminuindo por conta das chuvas.
“Esse recorde de focos de calor foi associado com a presença do El Niño e claro, uma continuidade nos processos de desmatamento porque as fontes de ignição, o fogo, ele é originado desses processos de queima induzida pelo homem, durante o desmatamento ou até mesmo no manejo de áreas que já estão previamente desmatadas. Essas chamas vão diminuir com o aumento das chuvas”, explica o coordenador.
Apesar da diminuição, ele explica que Roraima ainda passa por um “processo de transição”, então os cuidados para evitar incêndios ainda precisam ser tomados mesmo com as chuvas.
“É um período de transição, sempre bom ficar em alerta para a ignição do fogo e a perda de controle desse fogo, porque como é um período de transição, espera-se esse momento de chuva mas também pode haver algumas semanas com o clima um pouco mais seco e isso pode causar ainda incêndios, mas de acordo com as previsões do Inpe, espera-se a ocorrência de chuvas na região”.
Início do período chuvoso e nível do rio Branco
De acordo com o meteorologista da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Ramón Alves, que acompanha a situação, o período chuvoso começou oficialmente no fim de março no Sul do estado. Na capital, a primeira grande chuva foi registrada no dia 5 de abril. O período chuvoso segue até setembro – o que influencia na diminuição dos focos.
Ele destaca que só em abril já choveu 93 milímetros em Boa Vista, o que equivale 71,5% do volume esperado para o mês, que é de 130 milímetros. Só nessa quarta-feira (24), choveu 40 milímetros. Na visão de Ramón, os números estão dentro da normalidade.
“A previsão para os próximos meses são de chuvas dentro da normalidade ou um pouco abaixo do normal, até chegar ao pico do período chuvoso, em junho, onde as precipitações tendem a ser de 300 mm, que é justamente onde esse período já está configurado um fenômeno La Niña, que é o contrário do El Niño que traz um pouco mais de chuva para a gente. O El Niño diminui, o La Niña aumenta”, explica o meteorologista.
As chuva influenciaram no nível do Rio Branco. O principal rio do estado chegou a registrar a segunda maior seca da história em março, com 39 centímetros negativos. Agora, o rio voltou a atingir níveis positivos de acordo com a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer), na sexta-feira (25) chegou a 0,63 centímetros.
À época em que o rio registrou a segunda maior seca, cidades de Roraima enfrentaram dificuldade para acessar água potável, como é o caso do município de Mucajaí, onde os moradores precisaram armazenar água em baldes devido à instabilidade no serviço.
No rio Branco, as dunas de areia tomaram conta da paisagem e a água corrente deu lugar à praia extensa. Apesar do aumento do nível, o cenário ainda é semelhante.
Para o doutor em geologia sedimentar e professor do Programa de Pós-Graduação ProfÁgua Universidade Federal de Roraima (UFRR), Fábio Luiz Wankler, a expectativa é que o Rio Branco consiga se recuperar da seca histórica ao longo do período chuvoso.
“A entrada das chuvas de abril é um pouco menos intensa do que as de maio, mas elas se intensificam conforme nos aproximamos de maio e se tornam mais frequentes nesse mês. A expectativa é que o Rio Branco e outras redes hidrográficas do estado consigam se recuperar. Isso não será imediato, mas a tendência é que essas águas encham e os níveis dos rios subam neste período”, explica o professor.
Na avaliação do pesquisador, embora tenha tido uma seca histórica, a previsão é que uma grande cheia só aconteça daqui 10 anos.
“Esperamos que o nível dos rios suba, e com a entrada do La Niña, talvez tenhamos um pouco mais de chuvas no final da estação, mas não o suficiente para causar preocupações sobre uma cheia. O último grande episódio de cheias foi em 2011, mas os tempos de recorrência sugerem que essas sequências ocorram a cada 40 a 50 anos. Portanto, a probabilidade de uma cheia muito intensa durante o retorno das chuvas é pequena”.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), todo o estado de Roraima está em alerta amarelo para perigos potenciais de chuva. Isso significa que pode ocorrer chuvas de 20 e 30 mm/h ou até 50 mm por dia, ventos intensos (40-60 km/h).
Há baixo risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e de descargas elétricas. O alerta segue até o dia 27 de abril.
Fumaça de incêndios florestais
Roraima enfrentou o período seco, situação climática que se estendeu até este mês. O estado liderou o número de focos de calor do país em 2024 e concentrou 28% do total. Com a falta de chuvas, rios secaram e houve ocorrências de incêndios florestais que consumiu casas, animais e a vegetação.
Com os incêndios, a qualidade do ar em Boa Vista chegou a ser considerada péssima e a capital ficou encoberta por fumaça por vários dias. No fim de março, o nível de poluição do ar chegou a superar São Paulo e capital do Vietnã.
Numa escala que vai 0 a 160 µg/m3, Boa Vista chegou a atingir 334.5µg/m3 em março, considerada qualidade de ar “péssima”. Atualmente, de acordo com o a Plataforma Selva, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que monitora em tempo real queimadas e o índice da qualidade do ar na região Amazônica, Boa Vista está com a qualidade de ar “boa”.
*Por Caíque Rodrigues, do g1 Roraima