Na América do Sul ocorrem cerca de 156 espécies de primatas, sendo que 60% desse total estão na Amazônia brasileira. Os saguis, são primatas de pequeno porte, que se alimentam de frutas, invertebrados e da seiva de árvores, principal fonte da sua dieta. E é dentro desse grupo de saguis que se encontra a nova espécie descrita: o Mico munduruku, batizado em homenagem aos índios Mudurukus, já que a nova espécie ocorre na Terra Indígena Munduruku.
A espécie descrita pelo pesquisador Rodrigo Costa-Araújo e colaboradores, foi avistada em 2015 durante uma expedição de campo na região sudoeste do Pará. Logo ao avistar o animal, uma característica chamou a atenção do pesquisador: A cauda de coloração branca. Essa característica foi um indicativo de que a espécies poderia ser nova, já que outras espécies de saguis que ocorrem na Amazônia, apresentam caudas pretas ou amareladas. Além disso só a presença de saguis na região, já seria um grande achado, uma vez que não se tinham registros disponíveis de saguis para a área.
A partir do encontro do pesquisador com a espécies, foram necessários mais expedições e estudos para validar o reconhecimento do animal como uma nova espécie. Para isso, os pesquisadores utilizaram tanto características morfológicas, como a coloração da pelagem que nada se compara com outras espécies amazônica, bem como dados genéticos, que mostraram que a espécie não era compatível com outras já descritas até o momento.
O sagui-dos-Munduruku, até o momento, é endêmico (só ocorre num determinado lugar) em uma área de cerca de 55.000 km2, no sudoeste do Pará, no interflúvio Tapajós-Jamanxim. Essa região sofre grandes danos ambientais, como o desmatamento, principalmente pela exploração ilegal de madeira e também pela expansão agrícola – que ocorre mesmo em unidades de conservação federais e terras indígenas protegidas (como verificado no livro de Printes, 2017 – Adeus Amazônia: conflitos agrários e socioambientais por trás do desmatamento no sudoeste do Pará).
Além do desmatamento, existem quatro usinas hidrelétricas sendo construídas nessa região e que impactarão diretamente o habitat de M. munduruku, segundo os pesquisadores. Dessa forma, o sagui-dos-Munduruku que acabamos de conhecer, já se encontra ameaçada pela perda do habitat, devido as atividades humanas, e se não houverem investimentos para novas pesquisas e medidas protetivas ou ao menos mitigadoras (que visem minimizar o impacto dessas atividades humanas sobre a espécies), provavelmente esse simpático primata não seja conhecido além da sua identificação.
Para saber mais:
A descrição do Mico munduruku foi publicada internacionalmente na revista científica PeerJ e além do autor Rodrigo Costa-Araújo que é ligado ao Instituto de Pesquisas da Amazônia – INPA e a Universidade Federal do Amazonas – UFAM, conta também com outros autores. Você pode acessar o artigo (em inglês) aqui: https://peerj.com/articles/7019/#p-3
Rodrigo Costa-Araújo, além de descrever a espécie Mico munduruku também é responsável pelo projeto de conservação e divulgação científica Saguis Amazônicos, financiado e apoiado pelo Conservation Leadership Programme: http://www.amazonmarmosets.com/