O ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt foi homenageado com o nome de rio em Rondônia.
O juiz federal, escritor e membro da Academia Rondoniense de Letras, Dimis Braga, esclareceu na internet: “O então Coronel Rondon o batizou como Rio da Dúvida, por ocasião de sua primeira ‘descoberta’, em razão de não saber se sua corrente seguia para o norte – Bacia do Amazonas, ou para o sul – Bacia do Prata. Por essa dúvida nomeou o rio assim”.
Ato contínuo ao comentário de Dr. Dimis, alguém manifestou no grupo virtual: “É descabido que o Rio da Dúvida se chame Rio Roosevelt; deveria ser Rio Rondon, seu verdadeiro desbravador”.
O publicitário e imortal da ARL Marco Aurélio Anconi comentou: “Eu me consolo com o meridiano 52 W que é uma referência geográfica para a história das comunicações no Brasil: o Marechal Rondon, patrono das comunicações, recebeu em sua homenagem a sua nomeação honorífica para este meridiano”.
Com o rico debate “rolando”, resolvi apresentar meus argumentos. Depois dos elogios sinceros que fiz aos ilustres intelectuais pelas suas pontuações muito legítimas marcadas pelo interesse de manter viva a memória do herói brasileiro, manifestei que acho bem interessante o nome de Rio Roosevelt como marco da passagem do ex-presidente pelas Terras de Rondon.
Rondon é o terceiro nome mais reverenciado do Brasil, presente em logradouros, rodovias, escolas, aeroportos, cidades e instituições como a Assembleia Legislativa de Rondônia. Teve, ainda, efígies estampadas em cédulas e em selos dos Correios. Foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel. Precisa mais?
Contudo, nota-se que foi justamente a presença de Roosevelt que despertou o olhar internacional para o Rio da Dúvida e fez Albert Einstein querer saber quem era Rondon.
Encantado, o físico anotou: “Seu trabalho se concentra na integração de tribos indígenas à civilização, sem o emprego de armas nem de qualquer tipo de coerção”. Einstein o indicou ao Nobel de 1925.
Recentemente, a minissérie “O hóspede americano”, da HBO, reproduziu a histórica expedição de Roosevelt junto de Rondon. Baseou-se em o “O Rio da Dúvida: a sombria viagem de Theodore Roosevelt e Rondon pela Amazônia”, livro de 2006 escrito por Candice Sue Millard, ex-editora de National Geographic.
Rondon tinha prazer de “batizar” acidentes geográficos, rios e as estações telegráficos com nomes de personalidades da sua admiração. Naquele tempo, era possível homenagear pessoas vivas. Foi assim que o fez ao adotar na cartografia, em 1914, o nome de Rio Roosevelt.
O brasileiro e o estadunidense tiveram rusgas em meio da floresta inóspita. “Brigavam” em francês. Posto que Rondon não se comunicava em inglês, nem Roosevelt em português. Prevaleceu o respeito mútuo. Em seu livro “Nas selvas do Brasil”, de 1914, o ex-presidente destacou a personalidade insuspeita, digna e altaneira do nosso compatriota.
Eram antagônicos. Rondon, disciplinado e disciplinador, miliar “caxias”. Não era unanimidade entre seus comandados de baixa patente que chegaram a enfrentá-lo e até apontaram arma de fogo para ele.
Roosevelt, antes de padecer doente, jogava baralho até tarde da noite, gostava de anedotas e fotografava tudo como se estivesse em um safári, semelhante àquele que ele liderou em 1909: a Expedição Africana Smithsonian–Roosevelt.
Quando pisou em Rondônia — então parte do estado do Mato Grosso —, Roosevelt já tinha 55 anos e estava exaurido da política. Foi picado por cobra, acometido por doenças oportunistas e terminou a expedição numa maca.
Pagou caro pela aventura. Morreu em decorrência dela, cerca de cinco anos depois. Mas deixou seu legado, inclusive enriquecendo nossos conhecimentos sobre a região e o Museu Americano de História Natural de Nova Iorque — ainda bem, porque se o acervo estivesse no Brasil, talvez já o teriam destruído. Roosevelt merece, pois, a homenagem.
Quanto a Rondon, a honraria mais embasada que lhe coube foi aquela da lavra do médico, etnólogo e antropólogo Edgard Roquette-Pinto [imortal da ABL e patrono de minha cadeira na ARL], o que criou a palavra Rondônia — Terra de Rondon, com a qual intitulou o livro de 1917 (fundamental!). Decorre da referida obra o epíteto do atual Estado.
Por ocasião do centenário da Expedição Rondon-Roosevelt, em 2014, foi batizada a ponte sobre o Rio Madeira (sentido Porto Velho-Humaitá, AM) como “Rondon-Roosevelt” — ideia do membro da ARL, o procurador federal e escritor Ricardo Leite. Formalmente assim designada por Lei Federal de iniciativa do falecido senador Odacir Soares a quem Ricardo repassou a proposta.
Porto Velho surgiu no entorno de uma ferrovia — a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré — dirigida por norte-americanos, embora contasse com trabalhadores de todo o mundo. Uma das avenidas principais da capital rondoniense tem o nome de [Percival] Farquhar, o engenheiro e notável empresário nativo na Pensilvânia (EUA), cuja empresa assumiu — entre 1907 e 1912 — o controle das obras iniciadas — e muitas vezes interrompidas — em 1877 pelos americanos irmãos Collins.
Somos a Babel! Homenagear Roosevelt no caso específico não é entregar-se a uma suposta filosofia colonialista. É apenas abraçar a um conviva da odisseia conduzida por um legítimo caboclo brasileiro. Roosevelt, aqui, foi um hóspede e, depois, um embaixador nosso.
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