Mostra de Boscagli em SC destaca saga de Rondon e Roosevelt na Amazônia

Pintor ítalo-brasileiro viveu no século passado no Rio de Janeiro.

O artista plástico ítalo-brasileiro Giuseppe “José” Boscagli (1862/1945), morava no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, e viajou com a Comissão Rondon, percorrendo a região de Vilhena [sul de Rondônia] na década de 1910, fazendo registros, entre outros, dos indígenas nambiquaras que dominavam o Planalto dos Parecis. Tornou-se referência na época em “pinturas etnográficas”, sendo tratado como indianista; era o único que se ocupava deste tema um tanto rejeitado pela elite brasileira.

Ele também pintou cenas da Expedição Roosevelt-Rondon (1913/1914). É justamente esta fase – a que o ex-presidente norte-americano esteve na região junto com o então coronel Cândido Rondon – o chamariz para uma exposição que está acontecendo em Santa Catarina. O link histórico com aquele estado é o fato de Lauro Muller (1863/1926) ser catarinense. Então ministro das relações exteriores, Müller teria viabilizado politicamente a expedição implicando Roosevelt na saga ao Rio da Dúvida [atual Rio Roosevelt].

Rondon e Roosevelt na famosa expedição de 1913/14. Foto: Divulgação da Fundação Cultural de SC

A mostra “Lauro Muller e a Expedição Roosevelt-Rondon na pintura de Boscagli” ocorre desde 1º de agosto e se encerra em 9 de setembro na galeria da Biblioteca Pública de SC, em Florianópolis, com entrada franca. A curadoria é do arquiteto e agente de cultura Luiz Pasquali Almeida, reconhecido pesquisador da arte de Boscagli. “Essa exposição é apenas um recorte. Mas reconstitui toda a biografia do pintor desde o nascimento em Rapolano Terme, assim como toda trajetória profissional”, informa Pasquali Almeida.

A sequência expositiva das obras inicia com o “Retrato de Cândido Rondon, General de Divisão 1935” e o quadro “Nas canoas com o Theodore Roosevelt”. Na ordem, após o mapa da expedição, são as 13 reproduções etnográficas cedidas pelo Palácio Real em Bruxelas e Instituto de Estudos Brasileiros IEB/USP. Na sequência o raro “Índia Bororo”, óleo sobre linho e demais retratos, paisagens e marinhas centenárias originais, produzidos por José Boscagli, entre 1899 e 1945.

O retrato de Rondon faz parte do acervo do Museu Histórico do Exército no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, que há muito vinha sendo publicada em trabalhos acadêmicos e sites institucionais sem autoria identificada. E, devido ao estudo de Luiz Pasquali de Almeida e o interesse de um grupo de colaboradores dele, a lacuna da ficha catalográfica da obra está completa.

O retrato de Rondon, óleo sobre tela de 1935. Foto: Acervo do MHEx/FC – Fotógrafo: Mauro Domingues/RJ

O presidente Getúlio Vargas adquiriu alguns quadros, em 1937. Boscagli também promoveu diversas exposições sob a temática “Etnografia Americana” contando com a atenção da imprensa na época que o reconhecia como mestre das artes plásticas. Infelizmente, a memória do pintor está um tanto esquecida, como tantas outras. Seria bem interessante que existissem pinturas dele nas pinacotecas oficiais de Mato Grosso e Rondônia, por exemplo.

Uma curiosidade: Boscagli era sogro do major Luiz Thomaz Reis (1878/1940), o fotógrafo e cinegrafista da Comissão Rondon que, com olhar de documentarista contribuiu, e muito, para a perpetuação no imaginário nacional da saga da Comissão Rondon que, assim, chega “viva” e imortal ao século 21.

 Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

1° do Norte: autor amapaense Gian Danton recebe principal título dos quadrinhos no país

Com mais de 30 anos de carreira, Gian Danton consolida posição de Mestre do Quadrinho Nacional entre os principais nomes do país. Título é considerado o mais importante do Prêmio Angelo Agostini.

Leia também

Publicidade