Ele clicou 280 espécies nativas da fronteira Brasil-Bolívia e já deu de cara com o raro macaco-barrigudo.
O técnico agrícola José Ribeiro da Silva, 61 anos, define-se como “ambientalista por convicção”. Mineiro de nascimento, veio morar em Rondônia em 1983. Mais precisamente, vive em um paraíso chamado Vale do Guaporé, fronteira natural entre Brasil e Bolívia.
No município de Cabixi (806 km de Porto Velho) José trabalha no Governo do Estado e, nas horas vagas, sai em busca de novas imagens.
Contabiliza 280 espécies fotografadas entre milhares de capturas. Todas foram publicadas com os nomes científico e popular. Para fazer as identificações, ele conta com a colaboração de amigos biólogos e ornitólogos [ramo da zoologia que trata das aves].
A região é uma das mais importantes biodiversidades do Planeta e acomoda dois biomas: Pantanal e Amazonas. Do lado boliviano, há o Parque Nacional ‘Noel Kempff Mercado’, uma área de 15.234 km2, criado em 1979 e reconhecida pela Unesco, desde 2000, como Patrimônio Mundial.
Todo o esforço boliviano contribui diretamente para garantir a vida animal também da margem brasileira [menos cuidada], onde há a flora de transição entre Cerrado e Amazonas. A pluralidade ambiental inclui os rios gigantes que abrigam a ictiofauna [conjunto de peixes] que está entre as mais ricas do Planeta.
Conversão
De tanta paixão pela fauna, ele ganhou o apelido de Zé Ambientalista. Mas nem sempre foi assim.
“Quando eu comecei a trabalhar na Emater era comum a população utilizar espingardas. Um dia, apontei a arma para uma macaca. Ela pegou o filhotinho dela e me mostrou, pedindo para eu não atirar. Eu não iria atirar, era só para ver a reação dela que eu lhe apontei. Mas nem isso eu nunca mais fiz. Devolvi a espingarda na hora. Nunca mais usei arma”,
conta, emocionado, relembrando o episódio ocorrido quando o hoje ambientalista tinha apenas 23 anos de idade.
Faz bastante tempo que Zé mira os bichos usando somente a sua máquina fotográfica. O atual equipamento é uma Canon EOS 60D. Mesmo com essa “arma” inofensiva, algumas vezes os animais se assustam com a aproximação dele. Mas o contrário também acontece: os bichos já botaram o fotógrafo em apuros.
Apuros
Zé conta ter visto, uma vez, a famosa onça-pintada [“ela estava na barranca e passei de barco por ela”]. Não a clicou. Mas susto mesmo ele passou quando foi cercado por uma vara de 200 porcos do mato.
“Tive que esperar eles saírem de perto. Fiquei em cima da árvore. Não tinha como passar por eles. Nosso carro estava a um quilômetro e precisamos esperar que os animais fossem embora, antes de retornarmos [ao veículo]”, relata. Para os porcos irem embora, um amigo de Zé teve que imitar latidos, que os assustaram.
Raridade
Entre animais pouco conhecidos com que se deparou, o fotógrafo ficou encantado, em especial, com um macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha): “É incomum aqui na região. Eu nunca vi outro daquele tipo. Era bem grande”. O primata é encontrado com mais facilidade no Estado do Amazonas, principalmente na fronteira com a Colômbia.
Atrai turistas
O trabalho voluntário atrai a atenção de aficionados pelo turismo de contemplação. “Muita gente, de várias partes do país, entra em contato querendo saber como que é tudo aqui”, informa.
A atuação de Zé acontece no entorno de matas ciliares dos rios Piolho, Cabixi, Guaporé. Nem todos os encontros podem ser registrados. Muitas vezes as aparições são rápidas, dificultando o ‘click’, como ocorreu com a onça-pintada.
Fora o universo registrado pelo aventureiro, a região é um dos principais destinos brasileiros da pesca esportiva. Há vários hotéis tradicionais e barcos-hotéis na fronteira.
Além da fotografia
Zé Ambientalista atua também em vários projetos em defesa do meio ambiente, mobilizando estudantes em campanhas de conscientização e contribuindo com a soltura de tartarugas no rio Guaporé. Junto com entidades, participa do plantio de mudas de árvores e da coleta de lixos às margens de rios.
Sobre o autor
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