Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com
Hoje, 5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em datas assim, o foco muitas vezes se direciona para a Amazônia – o que é justo! Mas é crucial que a luz também incida sobre o Cerrado. No sul de Rondônia, a biodiversidade e os recursos hídricos são tão essenciais quanto na região amazônica. Estou no município de Vilhena, que se destaca como um berço hidrográfico, nutrindo oito rios notáveis do Norte, incluindo os rios Roosevelt, Barão de Melgaço e Pimenta Bueno. O Planalto das Parecis, onde Vilhena está localizada, é um difusor de águas para duas grandes bacias hidrográficas: a Amazônica e a Platina.
Apesar das ameaças de queimadas, ocupação do solo e poluição atmosférica pelo agronegócio, o Cerrado preserva uma rica biodiversidade, com aproximadamente 4.400 espécies animais endêmicas e 11.627 espécies vegetais catalogadas, além de uma ictiofauna diversificada.
Vilhena, geograficamente, é uma zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia e, culturalmente, está mais alinhada ao Centro-Oeste do que ao Norte, apesar de sua localização no mapa geopolítico.
O Cerrado, com seus 2,36 milhões de quilômetros quadrados, é o segundo maior bioma do Brasil e um tesouro nacional que demanda reconhecimento e proteção. Contudo, em Vilhena, as iniciativas locais parecem insuficientes e superficiais, carecendo de políticas públicas eficazes que valorizem a importância histórica e estrutural do Cerrado.
A expansão urbana descontrolada e a ausência de uma gestão ambiental apropriada colocam em risco a integridade deste bioma vital. O Fundo Amazônia, embora dotado de recursos significativos, é subaproveitado pelos municípios, frequentemente devido à falta de interesse ou competência técnica para elaborar projetos de preservação ambiental. Enquanto isso, o Cerrado enfrenta desafios ainda maiores, sem a devida priorização, apesar de ser considerado a “caixa d’água” do país.
No último ano, o desmatamento na região correspondeu a 1,1 milhão de campos de futebol, principalmente na fronteira agrícola entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecida como Matopiba.
Este dia deveria ser de clamor por socorro, especialmente diante de catástrofes ambientais como as ocorridas no Rio Grande do Sul, que exigem uma postura firme em relação ao meio ambiente.
Em Vilhena, uma cidade de 95 mil habitantes, as poucas ações observadas são meramente simbólicas. Não existem políticas nem declarações formais sobre a relevância do Cerrado na formação estrutural e histórica da cidade. Vilhena foi fundada [considerando o início da ‘Marcha para o Oeste’, com a abertura da BR-29) na década de 1960, às margens do rio Pires de Sá, hoje completamente poluído.
Os loteamentos urbanos avançam em todas as direções, invadindo o Cerrado. No local simbolicamente conhecido como Marco Zero, onde Cândido Rondon estabeleceu o Porto Telegráfico Vilhena em 1911, hoje se encontra uma plantação de algodão em uma área cedida pela União. Essa área, que abriga nascentes de rios e um antigo cemitério indígena, foi transformada em lavoura. O Governo Federal, por meio do Iphan, não se manifestou sobre a destruição do sítio arqueológico próximo à Casa de Rondon, um patrimônio tombado pelo próprio órgão.
Mais de 32% da área de Vilhena pertence ao Parque Aripuanã, uma reserva indígena que engloba dois biomas. É a única parte do território de Vilhena protegida da exploração predatória. O restante está sujeito à volatilidade política.
Em 2016, a aprovação de loteamentos na cidade resultou na prisão de vários vereadores por corrupção, evidenciando a expansão urbana sem critérios científicos ou consideração pelos impactos ambientais.
Vilhena possui cerca de 5 mil lotes vagos em seu perímetro urbano, o que seria suficiente para um adensamento urbano sem necessidade de avançar sobre o Cerrado e as nascentes dos rios. Qual é o plano para proteger esse bioma que compõe 22% do território brasileiro, a “caixa d’água” do país?
Sobre o autor
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista