Hoje aos 62, Francisco de Assis frequenta há três anos uma igreja evangélica. “Sou presbítero”, esclarece. E o samba já não tem vez na sua vida. Mas, confessa: “Foi tudo muito bom”.
Fevereiro é mês de carnaval. Mas não em Vilhena, no sul de Rondônia. Já há 9 anos sem folia, a bem da verdade, a cidade nunca foi muito carnavalesca, se comparada, por exemplo, com Porto Velho. A capital respira festa e “para” para brincar, por exemplo, na apoteótica ‘Banda do Vai Quem Quer’, o maior bloco da região Norte do país, com mais de 120 mil brincantes.
Mas houve um tempo — lá no início da década de 1980 — que a festa era garantida em Vilhena, a cidade mais fria em todo o estado. Um dos pioneiros do samba por aqui é Francisco de Assis Gomes de Melo, ou simplesmente Assis. Um tocador de banjo e cavaquinho de mão cheia.
Assis nasceu em Porto Velho — está aí explicado seu apreço pelo mundo do samba. Ele conviveu com “bambas” como Bainha, Zé Katraca, Ernesto Mello e tantos outros que são referências da cena cultural porto-velhense. E para completar, o músico é filho do bairro do Triângulo e morou nos bairros Areal e Mocambo, redutos da boemia na capital rondoniense. “Toquei muito no Mercado Cultural e em vários bares e, com menos de 20 anos de idade, vim trabalhar e morar aqui em Vilhena”, narra o artista.
Logo, no início da década de 1980, Assis montou um boteco na avenida Major Amarante chamado “Cubículo do Chico”. Foi ali que a folia começou com uma roda de samba regada a cerveja e as delícias que o próprio Assis preparava. “Tinha caldo de mocotó, caldeirada de tambaqui. Enfim, era um pedaço de Porto Velho em Vilhena”, relembra.
O músico tem recordações dos velhos companheiros que o acompanhavam nas cantorias. “Havia dois Jesus: o advogado e o dos bombeiros. Tinha o Ronaldão, o Assis da Sucam. Ah, era uma turma boa que compunha o grupo ‘Sob Medida'”, relembra, cheio de saudades. O repertório contava de músicas consagradas por Beth Carvalho, Fundo de Quintal, Almir Guineto, Martinho da Vila e tantos outros.
A folia não se restringia ao barzinho. O grupo também agitava o carnaval de rua. Os desfiles aconteciam na Major. Inclusive, o advogado Reginaldo Jesus — que compunha o grupo de pagode — chegou a ser Rei Momo em Vilhena.
Hoje aos 62, Assis frequenta há três anos uma igreja evangélica. “Sou presbítero”, esclarece. E o samba já não tem vez na sua vida. Mas, confessa: “Foi tudo muito bom”.
Atualmente, a vida em Vilhena termina mais cedo, as ruas ficam desertas quando é madrugada. O que mais tem no município, em pleno carnaval, são cultos evangélicos e retiros espirituais das igrejas. Assis adora tudo isso.
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