O guardião dos trilhos, o ferroviário Paulo Ramos. Foto: Emily Costa/Rede Amazônica RO
Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com
Um trabalhador honrado e idealista. Assim se pode definir o ‘seu’ Paulo, que partiu nesta semana em Porto Velho, levando consigo histórias que eram só dele, embora também coletivas. Histórias que se confundem com a própria trajetória da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), onde começou a laborar aos 12 anos e à qual se manteve fiel por 66 anos.
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Testemunho ocular da história, sua voz serena ecoou até em tribunais, quando defendeu maior atenção das instâncias de poder responsáveis pela preservação da memória. Nesse papel, fez mais do que muitas autoridades que, tantas vezes, usam a questão da memória apenas para aparecer, construir carreira política ou lucrar.
Paulo da Costa Ramos não conhecia essas vaidades. Ao lado de companheiros como José Bispo de Moraes, falecido em 2021, foi herói na luta permanente não apenas pela preservação física do complexo da EFMM, mas sobretudo pelos relatos que guardam muitas vidas.

Recordo-me de um dia de 2014, quando fui convidado pela dupla inolvidável para acompanhá-los numa visita ao antigo Cemitério da Candelária. Tomei verdadeiras aulas naquele encontro já distante e, ali, tive a certeza de que estava diante de dois heróis da resistência. Homens que sabiam muito da história regional, não por ouvir dizer, mas por vivência.
Paulo Ramos foi ferroviário, chefe de trem, memorialista e guardião da memória, vice-presidente da Associação dos ex-ferroviários da EFMM. Mais que um trabalhador, foi um símbolo de resistência cultural. Sua morte, aos 78 anos, deixa Rondônia órfã de uma voz simples e firme, que fez da lembrança um ato de coragem.
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Sobre o autor
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista
