“Estive duas horas no Banco Plaza (propriedade de portugueses), para cobrar um cheque de 65 mil Bs (93,28 euros) e fui informado de que não dispunham de notas de 20, 50 nem de 10 Bs. Que apenas podiam pagar-me com notas de 5 Bs, o que significa que teriam que me entregar umas 13 mil”, explicou o mensageiro Juan Pérez. Com 45 anos de idade, o venezuelano explicou que teve que deixar o banco sem cobrar o cheque, porque “é demasiado arriscado, em termos de segurança, andar com tantas notas na mão”.
“É o dinheiro da minha quinzena (salário quinzenal) e não pude receber, tenho apenas uns 2 mil Bs (2,80 euros) e em notas de 100 Bs, que já ninguém recebe. Quando estava na fila houve um senhor que recebeu a sua pensão e ficou durante algum tempo a pensar se saía do banco com a bolsa, porque se percebia que era dinheiro”, relatou. Juan Pérez explicou que também tem uma conta no estatal Banco Bicentenário, mas que lá apenas entregavam 2 mil Bs aos clientes, em notas de 2,00 Bs.
Várias pessoas relataram que tiveram que correr ao banco nos primeiros dias desta semana para depositar as notas de 100 Bs, que tinham em casa para situações de emergência e que “literalmente” ficaram “limpos”, com dificuldades até para pagar a passagem de ônibus, que na Venezuela agora é de 100 Bs (0,15 euros).
“Preciso comprar verduras e hortaliças para casa. Tenho o hábito de comprar às sextas-feiras em um caminhão de agricultores que vem do interior do país, mas não há “punto” (terminal de pagamento) de cartão de débito ou de crédito e não tenho dinheiro vivo, explicou Manuel Sanchez, de 40 anos. Preocupado com a situação, informou que trabalha numa sapataria onde o governo obrigou recentemente a baixar os preços e que todo o seu salário está retido, quando “falta apenas uma semana para o Natal”.
“Como adultos, ainda podemos fazer um esforço, mas tenho duas crianças para as quais preciso comprar o presente e, para isso, contava com a ‘quinzena’ (salário quinzenal). A esta altura não há ambiente natalício, este será o Natal mais triste que tenho vivido. Sinto uma grande impotência”, desabafou. O venezuelano questionou onde andam as notas novas que o governo anunciou que entrariam em circulação em 15 de dezembro, mostrando-se preocupado se “haverá outra razão para fazer sofrer a população”.
O presidente da Venezuela determinou, domingo passado (11), que as notas de 100 bolívares (0,15 euros) fossem retiradas de circulação, para combater máfias internacionais (norte-americanas, colombianas, europeias e asiáticas) que estariam armazenando ilegalmente aquelas cédulas com o objetivo de desestabilizar a economia venezuelana.
Segundo o Banco Central do país, existem 6.111 milhões de notas de 100 bolívares em circulação na Venezuela, aproximadamente 48% do dinheiro que circula entre a população.