Sínodo: padres refletem sobre a Igreja com rosto indígena

A Igreja com rosto indígena foi protagonista da quarta coletiva para os jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé, realizada após a primeira manhã de trabalhos em círculos menores esta quinta-feira (10) para os participantes do Sínodo dos Bispos dedicado à Região Pan-Amazônica, sobre os quais falaram dois bispos: dom Frei Wilmar Santin, da Prelazia de Itaituba – PA, e dom Medardo de Jesús Henao Del Río, vigário apostólico de Mitú, na Colômbia.

O Papa sonha um sacerdote indígena em cada aldeia

O carmelita, dom Frei Wilmar Santin, que desde dezembro de 2010 é pastor entre indígenas Mundurukus, mais de onze mil pessoas numa Prelazia de 175 mil Km quadrados, que ocupa boa parte do Estado do Pará, recordou o que lhe disse o presidente da Repam – Rede Eclesial Pan-Amazônica – cardeal Claudio Hummes.

“O Papa Francisco tem um sonho: ver em cada aldeia amazônica um sacerdote indígena”, e diante das dificuldades, contou dom Frei Wilmar, pediu para que “começasse com aquilo que a Igreja já permite: o diaconato permanente”.

Foto:Divulgação/Vatican News

Dom Wilmar: já temos 48 ministros da Palavra mundurukus


“Fizemos um plano – disse o bispo da Itaituba – e nos demos conta de que era melhor começar a criar ministros da Palavra, antes dos ministros da Eucaristia. Porque em nosso clima úmido equatorial a hóstia consagrada não pode se conservar por muito tempo.”

Assim, em 2017 foram instituídos os primeiros 24 ministros da Palavra mundurukus, 20 homens e 4 mulheres, “que começaram a celebrar em suas línguas e a pregar a Palavra de Deus”.

E este ano, anunciou o religioso, ”instituímos outros 24, 19 homens e 5 mulheres, de modo que hoje são 48 ministros da Palavra mundurukus que podem dizer, como os povos que ouviram os discípulos após o Pentecostes: ‘Nós os ouvimos falar das grandes coisas de Deus em nossas línguas’”.

Proximamente, “instituiremos ministros do Batismo e do Matrimônio, porque os mundurukus, que em grande parte são batizados, fazem questão de batizar seus filhos e de se casar na Igreja, e procuraremos ter estes ministros em cada aldeia. Depois veremos quando será possível ordenar diáconos indígenas”.

Foto:Divulgação/Vatican News

Dom Del Río conta a ordenação de um diácono indígena


Por sua vez, dom Medardo de Jesús Henao Del Río, missionário xaveriano de Yarumal, contou já ter ordenado um diácono indígena, de um dos 27 grupos presentes em sua diocese, num território de 57 mil Km quadrados, com uma população de 44 mil habitantes.

O diácono “foi ordenado no rito romano e no rito indígena, certamente, não ordenado um bruxo – explicou. Entramos no contexto da cosmogonia dos indígenas e nela levamos o Evangelho, mediante o rito de ordenação do diácono”.

Os chefes indígenas, contou dom Del Río, “colocaram uma coroa na cabeça do diácono, símbolo de um homem que adquire sabedoria no seio da comunidade e que guiará a comunidade. Não foi feito nenhum rito, é somente um sinal distintivo”.

“Em seguida, o diácono atravessou toda a igreja levando o Livro dos Evangelhos, que é a máxima sabedoria, e dançando. A comunidade o aplaudiu e o rito de ordenação se concluiu com o abraço da paz”, precisou ainda.

“Não foi uma mistura, mas assimilar alguns valores das comunidades indígenas que são coerentes com valores cristãos. Certamente não podemos sacralizar tudo aquilo que é indígena, mas também não podemos ‘satanizar’. É preciso estudar todos os ritos deles, o que aquilo significa para eles e o que está em comunhão com o serviço à Igreja”, acrescentou.

O diácono é um servidor da comunidade, concluiu o bispo colombiano, “e este ministério que está muito em consonância com a tradição indígena. Não acolhemos tudo aquilo que é indígena para assimilá-lo ao cristão, mas elementos, situações e celebrações que têm ‘sementes do Verbo’, sementes de Deus’, como diria Santo Irineu”.

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