Às vésperas do plebiscito sobre o acordo de paz na Colômbia, tudo indicava, inclusive pesquisas de opinião, que os colombianos diriam ‘sim’ à medida. Mas não foi o que aconteceu. No último domingo (2), 51% dos eleitores que compareceram às urnas disseram ‘não’ ao acordo. Na opinião do presidente da Associação PanAmazônia e especialista em relações internacionais, Belisário Arce, o resultado reflete a’ aversão que os colombianos têm a impunidade das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [Farc]”.
“Durante o auge do conflito, mais de 20 mil pessoas foram sequestradas pela guerrilha. Boa parte das famílias no país foram afetadas com a perda de um parente ou amigo. Esse sentimento de impunidade foi crucial para a escolha do ‘não'”, avalia Arce.
Ainda segundo ele, outro ponto importante para o resultado do plebiscito, foi a ideia de que, mesmo sem as Farc, outras guerrilhas como o Exército da Libertação Nacional (ENL) e milícias de narcotraficantes iriam continuar atuando no país. “O presidente sabia que a paz era relativa. Muitas pessoas optaram pelo ‘não’ por entender que ainda haveria guerra com outras organizações”, diz.
De acordo com dados do governo 37% da população participou da votação e o ‘não’ ganhou com 51% dos votos. No Twitter, o atual presidente do país Juan Manuel Santos, disse que a buscará a paz até o último dia do seu mandato.
Reflexo
Especialistas políticos como a cientista Marcela Prieta Botero, do Observatório de Segurança Interamericano, acreditam que o plebiscito não foi somente sobre o acordo de paz, mas também representa a opinião da população sobre o governo do presidente Juan Manuel Santos.
A Colômbia tem tido um crescimento econômico plano, déficits crescentes e problemas nos serviços sociais, como educação e cuidados de saúde. Dados do Banco Mundial apontam que, desde 2013, a taxa de crescimento econômico do país vem caindo. O Produto Interno Bruto (PIB) colombiano em 2015 foi de US$ 292 bilhões, US$ 86 bilhões a menos que no ano anterior.
Acordo de paz
O acordo assinado no último dia 26 de setembro previa o fim do conflito que se arrasta por 52 anos e já forçou 8 milhões de colombianos a deixar suas casas. A oposição fazia ressalvas especialmente aos pontos da Justiça transicional, que permitiria anistia e indultos para ex-guerrilheiros acusados de delitos graves; também contestavam o artigo que garantia a participação política, com a concessão de dez cadeiras aos guerrilheiros no Congresso nas duas próximas legislaturas, além de subsídios para a formação do partido das Farc.