Pesquisadores exploram possibilidades do DNA ambiental com “laboratório na mala”

Com ação realizada em Tefé, projeto busca capacitar pesquisadores para estudos ambientais e de saneamento com um aparato menor que o tamanho de um aparelho celular.

Foto: Maria Cecília Gomes/Acervo pessoal

Pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) concluíram, no início de junho, curso que visa monitorar a qualidade da água onde não há estrutura de laboratório. A capacitação, que ocorreu na sede do Instituto, em Tefé, foi realizada pelos professores da Newcastle University (Reino Unido), David Werner e Rixia Zan, e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cesar Rossas Mota Filho e Bruna Coelho.

Com o objetivo de seguir com pesquisas que visem melhorar a qualidade da água consumida e utilizada pelas populações ribeirinhas da Amazônia, o Instituto Mamirauá articulou a realização do workshop e contou com a participação de 10 pesquisadores.

Maria Cecília, que atua no Grupo de Pesquisas em Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS) do IDSM, avalia a conclusão do curso. “Tivemos a participação de pesquisadores do IDSM, representantes da Universidade do Estado do Amazonas (CEST-UEA) e do Distrito Especial de Saúde Indígena do Médio Rio Solimões e Afluentes. Utilizamos os equipamentos inovadores para a análise genética, exploramos ideias para análise dos dados e discutimos como podemos usar o DNA ambiental em diferentes aplicações”, afirma.

Laboratório na mala 

Já pensou em monitorar a qualidade da água e esgoto sem necessitar de uma infraestrutura de laboratório? Foi pensando nisto que, em 2019, pesquisadores da Newcastle University (Reino Unido) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveram um aparato que consegue avaliar a condição microbiológica de água e esgoto e sequenciar o genoma de vírus, bactérias, mosquitos, botos, peixes boi, primatas ou qualquer animal.

Todos os equipamentos utilizados para os estudos cabem em uma mala, logo, são de fácil transporte e logística, como explica o professor da UFMG e um dos coordenadores do projeto, César Mota.

“Para se ter uma noção do tamanho, o aparato de sequenciamento é um pouco maior que um pen-drive e menor que o de um telefone celular”, 

descreve.

Para David Werner, da Newcastle University, a expressão “laboratório na mala” descreve a praticidade da técnica. “A ideia do laboratório na mala é colocar métodos genéticos nas mãos dos profissionais, para que o eDNA (DNA Ambiental) possa ser analisado fora dos laboratórios convencionais”, diz.

Werner também comenta os desdobramentos das pesquisas realizadas durante o curso nos laboratórios flutuantes localizados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá: “A extração de eDNA em uma base de pesquisa flutuante na Amazônia é provavelmente a prova de conceito mais extraordinária que a equipe conseguiu até agora”.

Para os próximos meses, Maria Cecília explica que os pesquisadores estudam aplicar os conhecimentos e técnicas adquiridas no curso. “Agora estudamos a viabilidade e as oportunidades para fazer este tipo de análise em Tefé e, principalmente, em campo”, diz.

O projeto é financiado pelo Global Challenges Research Fund (GCRF) da Royal Society do Reino Unido Agora, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia ETE’s Sustentáveis (INCT – ETEs Sustentáveis) e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá também apoiam o projeto.

Atuação do Instituto Mamirauá 

Desde os anos de 1990, o Instituto Mamirauá atua, principalmente, nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã em ações de saúde comunitária, tecnologia sociais e vários outros projetos que buscam contribuir com a melhoria das condições de vida de moradores de áreas rurais da Amazônia.

Entre os principais projetos, estão a implantação de tecnologias sociais voltadas para a ampliação do acesso à água, ao saneamento e à energia elétrica em comunidades no interior do Amazonas.  

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