Estudo avalia uso do óleo de pupunha como filtro solar

Projeto do Campus Floresta, da Universidade Federal do Acre (Ufac) em Cruzeiro do Sul, identificou capacidade de filtragem de raios solares, mas ainda busca detectar o componente responsável.

Estudo identificou capacidade de filtragem de raios solares no óleo extraído da semente de pupunha. Foto: André Luis Melhorança/Arquivo pessoal

Uma pesquisa de estudantes do curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal do Acre (Ufac) em Cruzeiro do Sul, detectou a capacidade do óleo de pupunha vermelha e amarela na filtragem de raios solares durante uma catalogação de palmeiras. O estudo é assinado pelos estudantes Karoline Victoria Gonçalves Carvalho e Habacuque Elimar Costa de Araújo, orientados pelos professores André Luiz Melhorança Filho, Kelly Nascimento Leite, Thiago Alves Santos de Oliveira e Hugo Mota Ferreira Leite.

A pesquisa começou com análises de plantas da região e, após a catalogação, incluiu hipóteses baseadas no conhecimento popular, que trouxe a possibilidade do uso da pupunha para a fabricação de protetores solares.

“As sementes foram obtidas aqui em Cruzeiro do Sul mesmo, em diferentes ramais do Juruá e o óleo presente da casca são os que mais se destacam. A gente passou numa máquina chamada espectrômetro e ela emite diferentes comprimentos de onda, ondas UV e UVB que a gente analisa para ver a possibilidade dele ser um protetor solar, e ele se mostrou o que mais absorve e menos transmite. Porque ele analisa, a absorvência e transmitância dos raios. Então ele pode conter princípios até mais valiosos do que o próprio fruto em si. Mas que necessita de uma infraestrutura maior para escoamento e uma produção em larga escala”, 

explica Karoline Gonçalves.

O professor André Luiz Melhorança, orientador de Karoline no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), conta que o próximo passo da pesquisa é identificar a molécula presente no óleo que é responsável pela filtragem desses raios, o que pode então permitir a fabricação de produtos para esse fim. Ele ressalta ainda que o prosseguimento é complexo, pois necessita de equipamentos ainda não disponibilizados na Ufac.

“Nós temos severas restrições orçamentárias, dos últimos governos que não foram muito amigáveis. Então, esses recursos são escassos, esse espectrômetro mesmo, se quebrar, a gente não tem dinheiro pra comprar outro. O que limita a gente mas, ele vem funcionando. É Incalculável o valor econômico de uma molécula dessa. E aí o que acontece? Ela (Karoline) não perdeu esse viés social. Ela relatou: ‘Se a gente conseguir patentear a molécula, dá pra gente continuar o trabalho, tem que ir pra comunidade'”, destaca o professor.

Estudantes de Engenharia Agronômica pretendem detectar molécula responsável pela filtração dos raios solares. Foto: André Luis Melhorança/Arquivo pessoal

Colaboração e foco social

O artigo produzido com as informações já colhidas pelo estudo foi publicado na revista científica Peer Review, e, segundo o professor, mais uma produção deve ser publicada com atualizações desse estudo, dessa vez, com auxílio de pesquisadores de outras universidades. Para Melhorança, essa pesquisa é uma oportunidade de colaboração que marca a carreira dos estudantes que participam, em especial Karoline, sua orientanda.

“A primeira pergunta foi respondida. Esse óleo tem efeito biológico. Agora a pergunta é: qual substância desse óleo está causando esse efeito biológico? Então, aí nós precisamos de máquinas que é a espectrometria de absorção atômica. Só que a UFAC não tem aqui em Cruzeiro. Porém, nós temos convênios com outras universidades que têm essa espectrometria. Inclusive, o próximo artigo de avaliação já vai ter envolvimento de professores da Universidade Federal de Viçosa e da Unesp que têm essa espectrometria. Então aí ela já tá construindo a carreira dela para mestrado, doutorado. Ela vai ser uma cientista”, destaca.

Mesmo com a necessidade de ampliação de recursos, Karoline avalia positivamente os resultados da pesquisa até o momento. O objetivo, segundo ela, é converter cada vez mais os possíveis ganhos em recursos que auxiliem os estudos em si, mas também as comunidades tradicionais que também contribuem.

“Eu creio que a palavra é sonhar. Temos como objetivo patentear novos princípios ativos e que, caso isso se converta em recursos que sejam aplicados nas comunidades que têm esse conhecimento tradicional na comunidade extrativista e também volte uma parte pra continuar as pesquisas, haja um novo reinvestimento em equipamentos, em bolsas. Enfim, o estudante precisa alimentar o currículo, porque pesquisa não é só o fato da bolsa na sua conta, é você alimentar o seu currículo, para que explore novos horizontes. E a universidade pública tem que devolver à sociedade o investimento feito nela. Então a pesquisa, o artigo, as publicações são a chave de tudo isso”, conclui.

*Por Victor Lebre, do g1 Acre 

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