Durante a pandemia de coronavírus cresce o consumo de mel e outros produtos de abelhas nativas no Amazonas

Aumento na demanda pode estar relacionada ao uso medicinal; cadeia produtiva tem potencial de se tornar mais um componente de inovação na Bioeconomia.

No passado, os povos tradicionais da Amazônia utilizavam produtos originados da fauna e da flora regional para fins medicinais e nutricionais. Mas inúmeras populações da região ainda valorizam ou trabalham para resgatar esses produtos, mesmo em meio à pandemia.

Além de oferecer produtos diferenciados, essa cadeia se destaca por ser uma tecnologia social. (Foto:Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)

Nos últimos meses, cresceu o interesse por produtos como mel, pólen e própolis de abelhas nativas sem ferrão no Médio Solimões e em outras regiões do Amazonas. Foi o que mostrou um mapeamento realizado este mês pelo Programa de Manejo de Agroecossistemas (PMA) do Instituto Mamirauá. A alta procura tem ocorrido graças às ricas propriedades medicinais e nutricionais que esses produtos potencialmente apresentam. Hoje em dia, na Amazônia Central, o mel das abelhas nativas sem ferrão tem sido muito utilizado nos preparos tradicionais de chás e xaropes caseiros.

“O crescente interesse pelos produtos das abelhas nativas possibilita a identificação de novos polos consumidores na região e sinaliza uma visão empreendedora dos produtores. Estimulados pela alta aceitação do mercado consumidor, que tem se refletido em retornos socioeconômicos para as comunidades locais, acreditamos que os produtos derivados dessas abelhas têm potencial para se consolidarem como mais uma alternativa de uso sustentável e geração de renda na Amazônia”, afirma Jacson Rodrigues, técnico do Programa de Manejo de Agroecossistemas do Instituto Mamirauá.

A pandemia trouxe oportunidades para algumas comunidades da Amazônia

O cenário de crescente interesse e a visibilidade regional que os produtos das Abelhas Nativas Sem Ferrão vem ganhando mostraram a necessidade de valorização dessa cadeia produtiva que ainda se estrutura de maneira gradual.

O PMA capacita e assessoria os nultiplicadores. (Foto:Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)

Mesmo impedidos de acessar as reservas por causa da pandemia, a equipe do PMA trabalhou remotamente para registrar e compreender de forma mais detalhada a importância, as potencialidades e fragilidades da cadeia produtiva, e decidiu elaborar um mapeamento por meio de sua interlocução com os diversos atores envolvidos diretamente e indiretamente com a atividade no Amazonas.

O técnico do Instituto Mamirauá destaca que, a partir de uma percepção sobre o aumento da demanda, estabeleceu contato com criadores, agentes multiplicadores, técnicos e consumidores, considerados elos importantes da cadeia produtiva, tanto na região do Médio Solimões quanto em outras regiões do Estado. “Todos reportaram a altíssima procura dos moradores das cidades e das próprias comunidades em adquirir os produtos”, ressalta Jacson.

“Fui bastante procurado por moradores de outras comunidades que compravam o mel para beber e fazer remédios caseiros. Vendi toda a minha produção”, afirma Jesuy Tavares, da Comunidade Boa Esperança, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no município de Maraã.

Agente multiplicador de Abelhas Nativas Sem Ferrão, Igu Xavier, da Comunidade São Sebastião, situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no município de Uarini, assegura “todos nós, criadores aqui da comunidade, vendemos produtos das abelhas para as pessoas que vêm lá da cidade de Uarini comprar e também para as pessoas das comunidades vizinhas, para alimentação e preparação de xaropes caseiros”.

Para Francisco Falcão, morador da Comunidade de Bom Jesus, na Floresta Nacional de Tefé, no município de Alvarães, a procura pelos produtos foi alta durante o período da pandemia da covid-19. “Eu e outros colegas produtores aqui da Floresta Nacional tivemos altíssima procura por mel, pólen e preparo do xarope vinda das cidades de Alvarães e Tefé. Até o momento, já comercializamos 41 quilos de mel”, garante o produtor.

Outro Agente multiplicador que informou aos técnicos do Instituto Mamirauá um índice alto de procura pelos produtos das abelhas foi Genilton Baniwa, da Comunidade de Tunuí Cachoeira, na Terra Indígena do Alto Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira. “Tivemos a procura de diversas pessoas que vinham trabalhar, como, por exemplo, as equipes da saúde e do exército. Elas faziam questão de comprar mel para levar para cidade e porque também outras pessoas encomendavam delas para fazer remédios caseiros contra o coronavírus, e também tivemos procura de pessoas das comunidades vizinhas”, informou o agente.

A cadeia produtiva das Abelhas Nativas Sem Ferrão

A promoção do manejo de abelhas nativas sem ferrão, conhecido tecnicamente como Meliponicultura, visa a diversificação produtiva, a segurança alimentar e a conservação de abelhas nativas e seus serviços ecossistêmicos, especialmente a polinização, que também fortalece a produtividade nas áreas de plantio.

Manejos das abelhas sem ferrão. (Foto:Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)

O PMA realiza capacitações e assessoria técnica voltadas para a formação de multiplicadores, melhoria das práticas de manejo e incentivo à multiplicação das colmeias. A assessoria técnica é oferecida às famílias de criadores em todas as etapas do manejo, que vão desde a construção de caixas padronizadas, processo de captura da colmeia e transferência para a caixa, até a multiplicação de colmeias e a extração de mel. Além disso, os criadores são orientados com informações sobre o relevante papel que desempenham as abelhas na polinização e para a produção de frutos.

O emprego das teorias e práticas de manejo e o uso, na criação, da tecnologia das caixas-colmeias por produtores e produtoras do seguimento da agricultura familiar facilitam também a apropriação dos processos de boas práticas de coleta, armazenamento e envase dos produtos até que cheguem à etapa de comercialização. Esta é gerenciada de forma individual ou coletiva – por grupos organizados pelas famílias produtoras, onde todos têm autonomia para desenvolver e articular as vendas nas cidades da região, a partir das relações estabelecidas com os mercados consumidores.

“Além de oferecer produtos diferenciados, essa cadeia se destaca por ser uma tecnologia social que tem possibilitado aos atores envolvidos apropriar-se e avançar de uma percepção extrativista para uma visão técnica do uso do recurso natural, sempre com a perspectiva da sustentabilidade em seus diversos aspectos”, enfatiza Jacson Rodrigues, do Instituto Mamirauá.

Leia mais sobre o Manejo de Abelhas Nativas sem ferrão na Amazônia Central:

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade