A estreita relação entre a gastronomia e o amor

Poucas coisas comprovam maior intimidade entre um casal que saber as preferências e recusas do parceiro ou da parceira. E a gastronomia tem total influência nessa relação

Estamos numa semana em que a temática do Amor permeia a mídia, as conversas e os desejos dos amantes. É uma época propícia para o exercício de atitudes apaixonadas, que demonstrem que a chama do relacionamento se mantém acesa, apesar de tempos tão difíceis. E nada mais propício para demonstrar o Amor do que a Gastronomia. A propósito disso, Mia Couto, escritor paulista, cunhou uma frase que é muito utilizada por aficionados pela cozinha e foi escrita no conto “A avó, a cidade e o semáforo” do livro “O fio das missangas” de 2016.

(Foto: Reprodução/Internet)

Em uma conversa sua com a vó Ndzima, ao informar que iria à cidade receber um prêmio e que ficaria num hotel, ela pergunta quem cozinharia para ele. Ao obter como resposta, que não conhecia o cozinheiro, a avó não admite que o sublime ato de ser alimentado seja feito por alguém anônimo. Então, ela diz: “Cozinhar não é um serviço, meu neto. Cozinhar é um modo de amar os outros”.

Ainda que consideremos que este é um amor diferente entre o amor entre casais, temos que a comida é um meio de afeto, de bons sentimentos, de bem querer e de fazer o outro feliz. Um dos mitos mais importantes do panteão grego, trata justamente do Deus do Amor, Eros (Cupido, para os romanos).
A história nos conta que Psiquê era uma mortal por quem Eros nutre profundo amor. O rei, pai de Psiquê, consulta o Oráculo de Apolo para saber com quem a filha se casaria e recebe como resposta, que ela se casaria com uma entidade monstruosa. Psiquê então é deixada à própria sorte no alto de um rochedo e após adormecer, é levada pelo vento Zéfiro a um palácio suntuoso, que não sabia que dali em diante seria seu.

Ao acordar, sente fome e então vê um grandioso banquete servido para ela. Logo após fartar-se de comidas e bebidas deliciosas, mais tarde, ouvindo a doce voz de Eros, entrega-se ao encantamento e ao prazer com o próprio Deus do Amor. Entre indas e vindas de seu relacionamento, é certo que a história termina com Eros e Psiquê definitivamente juntos. Vê, portanto, que a comida posta, a bebida que harmoniza, enfim o jantar arrumado de maneira a causar enlevo e fazer sentir o amor de quem o serviu é um excelente veículo de comunicação de sentimentos e segundas intenções!

Poucas coisas comprovam maior intimidade entre um casal que saber as preferências e recusas do parceiro ou da parceira. Imagina servir um maravilhoso jantar em que a cebola é aparente no prato, desprezando o fato de que o comensal a quem é servido detesta cebolas. Que tragédia grega!

Sejamos alimentados então pelo Amor, entreguemo-nos a ele com apetite e desejo de satisfação mútua. Aos amantes de toda as formas de amor, faço-lhes um desafio: façam uso de elementos nossos, regionais, amazônidas em almoços, jantares, cestas de café. Quando falamos em romantismo na comida, muitos logo pensam em morangos, uvas, chocolates, etc Fico me perguntando se há algo mais coisa mais apaixonante do que uma cuia de açaí com farinha.

Sejamos felizes!

O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não reflete, necessariamente, a posição do Portal Amazônia.

OBS: Dia 12 de junho também é Dia de Combate ao Trabalho Infantil. Esta data é lembrada no Brasil e mundialmente como oportunidade em que repudiamos qualquer atividade que proíba as crianças de viverem sua infância com segurança, saúde, educação, paz, amor e felicidade. A Gastronomia consciente REPUDIA o trabalho infantil.

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